• A radicalização é uma tentação para a presidente da República porque empolga os petistas, que se sentem acuados por causa do escândalo do mensalão. O PT vibra quando Dilma parte para cima
- Correio Braziliense
A maior celeuma na cúpula da campanha da presidente Dilma Rousseff é sobre como enfrentar a rejeição de 35% dos eleitores, que seria a origem da grande transferência de votos para os adversários na eventualidade de um segundo turno. Todas as pesquisas qualitativas feitas pelo marqueteiro João Santana apontam que a principal causa dessa rejeição — pasmem —, não seriam nem o PT nem a avaliação negativa do desempenho do governo, mas a antipatia da presidente da República.
Isso não significa que o "ódio ao PT", como gosta de dizer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a chamada estagflação (baixo crescimento com alta da inflação) não estejam entre os grandes problemas que ameaçam inviabilizar a reeleição de Dilma. A questão é que Dilma precisa reduzir a rejeição para debater essas questões. E, diante da situação atual, será muito difícil encarar esse debate sem atacar os adversários, o que pode cristalizar e até aumentar a rejeição da presidente da República.
A aposta do marqueteiro de Dilma para sair da armadilha é aproveitar os quase 12 minutos de tempo de televisão à disposição da campanha para reconstruir a imagem da "Dilminha, paz e amor" que pautou a campanha de 2010. Naquela ocasião, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em pleno exercício do cargo, é que atuou como algoz da oposição. Esse ponto de vista, porém, não é o mesmo de outros integrantes do estado-maior da campanha, inclusive o presidente do PT, Rui Falcão.
Disputa política
O episódio envolvendo o Palácio do Planalto e o ex-ministro Franklin Martins logo após a derrota de 7 x 1 do Brasil para a Alemanha ilustra o que seria o centro das divergências na campanha, mas foi apenas uma amostra grátis. Na ocasião, foi publicada uma nota no site Muda Mais que criticava duramente a CBF.
Como a Copa do Mundo não havia acabado, houve uma orientação da cozinha palaciana para que a nota fosse retirada do ar. Franklin não aceitou a diretiva. Para pôr fim ao conflito, por decisão de Dilma Rousseff, o site foi formalmente desvinculado da campanha no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foi preciso a intervenção do ex-presidente Lula para pôr um ponto final no assunto.
Há mais coisas entre o céu e a terra do que o avião presidencial — o confortável Aerolula. Esse embate é a ponta de um iceberg no comando da campanha de Dilma Rousseff, no qual estão em choque uma abordagem mais sociológica da eleição, na qual o marketing eleitoral é orientado pelas pesquisas qualitativas, e uma concepção política pautada pela lógica da radicalização da disputa política, cuja melhor tradução são os ataques do ex-presidente Lula à "elite branca".
Dilma fica dividida em relação à polêmica. O temperamento dela coincide com a estratégia de centrar a campanha eleitoral na suposta disputa entre dois projetos de país, confrontando os anos de governo tucano com os da gestão petista. Isso, porém, não resolve o problema da rejeição, que chegou ao limite, principalmente no Sudeste e no Sul do país. Caso não consiga reduzi-la, na avaliação do marqueteiro, a reeleição estará perdida.
A radicalização também é uma tentação para a presidente da República, porque empolga os petistas que se sentem acuados por causa do escândalo do mensalão. O PT vibra quando Dilma parte para cima dos adversários, como fez no segundo turno de 2010, nas vésperas da Copa e nesta semana, ao reagir às críticas do mercado financeiro — especialmente ao banco Santander —, por causa da condução da economia.
A imagem de "faxineira e gestora" que Dilma tentou emplacar no primeiro ano de governo foi desconstruída pelos fatos, principalmente por causa das alianças que fez para garantir o tempo de televisão e o desempenho à frente da economia, com intervenções diretas que não deram muito certo.
Diante disso, a estratégia de Santana é operar em duas esferas eleitorais: uma é a classe média, que está quase perdida, com uma campanha soft, prometendo mudanças de rota na gestão do país. Outra é o povão, que se descolou da presidente da República e do PT, para o qual a tática será explorar o medo da população de baixa renda, com o discurso de que programas de grande apelo, como o Bolsa Família, estão em risco em caso de vitória da oposição.
Em ambos os casos, não é uma estratégia nova e pode dar errado. A oposição já está vacinada com a apelação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário