• Em sabatina, presidente Dilma Rousseff recorre a contorcionismos para comentar ações de seu governo no campo econômico
Se candidatos de oposição evitam anunciar as medidas impopulares que pretendem adotar a fim de mudar os rumos da economia brasileira, a presidente Dilma Rousseff (PT), buscando ser reconduzida ao cargo, faz malabarismo para defender uma gestão considerada ótima ou boa por somente um terço dos eleitores.
Foi assim na sabatina de que participou na segunda-feira, realizada no Palácio da Alvorada por esta Folha, pelo portal UOL, pelo SBT e pela rádio Jovem Pan. Seus principais adversários na disputa presidencial, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), foram entrevistados duas semanas atrás.
Ao comentar a situação econômica atual, Dilma afirmou haver "no Brasil um jogo de pessimismo inadmissível". Comparando as críticas dirigidas ao governo federal com as expectativas que antecederam a Copa do Mundo, disse ser muito grave esse tipo de "especulação contra o país".
O contorcionismo é evidente. Há, como as pesquisas de opinião mostram de forma exaustiva, pouca confiança em relação ao futuro próximo da economia. Não se trata de um "jogo", mas de pessimismo genuíno da população, decerto apreensiva com as mesmas condições observadas pelos analistas.
São reais, e não mera "especulação", os índices pífios de crescimento do país nos últimos anos, ou nos primeiros meses deste 2014. Os preços também avançam de forma concreta, algo que todos percebem em qualquer ida ao mercado.
Em levantamento feito pelo Datafolha semanas atrás, 58% dos entrevistados disseram esperar alta da inflação, ao passo que somente 8% apostaram na sua diminuição.
Não se restringiram à esfera econômica as tentativas de Dilma de dourar a pílula do governo. Ao mencionar as trocas no comando do Ministério dos Transportes, realizadas a pedido do PR --a quem cabe a pasta na coalizão governista--, a presidente afirmou não ter se sentido chantageada no caso.
Sua explicação, no entanto, desafia a lógica, assim como o próprio episódio. Paulo Sérgio Passos assumiu o ministério em 2011, após denúncias de corrupção na pasta. Em 2013, o PR pediu que César Borges ocupasse o cargo. Como ele teria deixado de representar os interesses da sigla, Passos retornou ao posto em junho deste ano.
Tendo os dois em alta conta, segundo afirma, Dilma Rousseff não vê problemas nesse emaranhado. Seria errado, insiste, se pusesse no cargo "uma pessoa na qual eu não confio e [que] não conheço".
Talvez o mantra venha a calhar em outubro deste ano, quando eleitores precisarão optar por candidatos cada vez mais escondidos sob o verniz da publicidade.
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