quarta-feira, 30 de julho de 2014

Presidente do Santander diz que analista fez 'coisa errada'

• Emilio Botín afirma que banco enviou carta de desculpas para a presidente

• Funcionário que fez texto que vincula Dilma à piora da economia foi demitido, segundo executivo espanhol

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O presidente mundial do Banco Santander, Emilio Botín, afirmou nesta terça-feira (29), em palestra no Rio, que o boletim interno que afirmava que o eventual sucesso eleitoral da presidente Dilma Rousseff produzirá uma piora na economia do Brasil não reflete a posição da instituição, e sim a de um analista, que ele disse ter sido o responsável pelo texto.

O Santander, segundo o executivo, demitiu o funcionário. "Enviamos uma carta à presidente. A pessoa tinha que ser demitida porque fez coisa errada", disse Emilio Botín a jornalistas. "[O informe] É a opinião de um analista, não é a opinião do Santander. Nós tomamos as medidas necessárias", segundo informações do portal UOL.

A análise da instituição financeira, enviada a clientes de alta renda no dia 1º de julho, dizia que, se Dilma subir nas pesquisas, juros e dólar vão subir, e a Bolsa, cair.

A opinião já frequentava o mercado financeiro de forma difusa, mas nunca assumida, e lembra o "lulômetro", termo criado por um analista do banco Goldman Sachs, na eleição de 2002, que usou uma combinação de indicadores para prever a cotação futura do dólar disparando caso o petista fosse eleito.

Sobre o boletim, Emilio Botín disse que "essas coisas acontecem". "O Santander tem 80 mil empregados. Isso pode acontecer com outros bancos. O importante é que, quando uma pessoa falha e faz algo mal feito, o banco toma suas medidas", ressaltou.

A presidente Dilma classificou a análise do banco de "inadmissível" e "lamentável", tratando-se, segundo ela, de mais uma "especulação" do período eleitoral.

"A característica de vários segmentos é especular. Sempre que especularam, não se deram bem. (...) É inadmissível para qualquer país, principalmente um país que é a sétima economia do mundo, aceitar qualquer nível de interferência de qualquer integrante do sistema financeiro, de forma institucional, na atividade eleitoral e política", afirmou a presidente na sabatina realizada em parceria entre Folha, UOL (ambos do Grupo Folha), SBT e rádio Jovem Pan na segunda (28).

Dilma subiu o tom de voz na sabatina, numa demonstração de insatisfação com o episódio, e afirmou: "Eu vou ter uma atitude bastante clara em relação ao banco", evitando, porém, dizer qual.

"O presidente do banco no Brasil [Jesús Zabalza] já comunicou às autoridades que ficamos muito chateados que isso tenha acontecido e já enviou uma carta à presidente Dilma", afirmou Botín. Para Dilma, contudo, o pedido de desculpas foi "protocolar".

Procurado, o Santander informou que não iria se pronunciar sobre o episódio, e disse que todas as medidas estavam sendo tomadas pela instituição, em referência à demissão do analista responsável pelo prognóstico.
O informe do banco causou a ira dos petistas, e foi usado pelos candidatos à Presidência da oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), para atacar a política econômica do governo.

Para o ex-presidente Lula, o autor do texto do Banco Santander "não entende porra nenhuma de Brasil".

Frases
"Enviamos uma carta à presidente. A pessoa tinha que ser demitida porque fez coisa errada. [O informe enviado pelo banco] É a opinião de um analista, não é a opinião do Santander"
EMILIO BOTÍN
presidente mundial do Santander, nesta terça (29), no Rio

"É inadmissível para qualquer país aceitar qualquer nível de interferência de qualquer integrante do sistema financeiro, de forma institucional, na atividade eleitoral e política"
DILMA ROUSSEFF
em 28.jun.14, em sabatina com jornalistas no Palácio do Planalto

"Essa moça [do Santander, responsável pelo texto enviado a clientes do banco] não entende porra nenhuma de Brasil e de governo Dilma. Manter uma mulher dessas em cargo de chefia é, sinceramente..."
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
em 28.jul.14, ao discursar na plenária da CUT

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