• Simbolismo pessoal da candidata faz com que suas oscilações se dissolvam no debate, mas ambiguidades precisam ser esclarecidas
Empatada com a presidente Dilma Rousseff no primeiro turno, com 34% das preferências, e tendo dez pontos de vantagem sobre a petista num eventual segundo turno (50% a 40%), a candidata do PSB, Marina Silva, viu confirmar-se na pesquisa Datafolha o fenômeno de sua ascensão eleitoral.
Assumindo de forma inédita a condição de protagonista, Marina terá sobre si todos os holofotes. Não só a curiosidade dos eleitores em relação a seus planos aumentará, mas também os ataques de seus adversários se intensificarão.
Seu programa de governo veio em boa hora para atender o interesse que seu crescimento estimulou --e merecerá análise e debate detalhados nos próximos dias. A imprensa, quanto a isso, terá papel importante a desempenhar.
Mas se Marina Silva alcança destaque tão notável, isso se deve menos a pontos específicos do programa de seu partido --um legado de Eduardo Campos, na verdade-- e mais à densidade simbólica que cerca sua imagem pessoal.
O caso Marina constitui um paradoxo em que as críticas parecem reforçar a própria figura que se quer desconstruir. Não é difícil identificar exemplos disso.
Proveniente do PT e alinhada durante toda sua trajetória a propostas de esquerda, Marina agora defende a independência do Banco Central e se cerca de personalidades ligadas ao mercado financeiro.
Aponta-se a contradição, ou o que há de indefinido nisso, e o discurso marinista traz a resposta engenhosa: trata-se de superar dicotomias, de governar "com os melhores", de reconhecer, sem preconceitos de classe, a importância das elites na construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.
A indefinição se transforma, magicamente, em virtude; a ampliação das alianças à direita não descaracteriza a postulação porque, no fundo, o prestígio de Marina chancela tudo. Com a ideia da "nova política" ocorre a mesma coisa.
Aliando-se no ano passado ao PSB, Marina quis dar continuidade a seu projeto pessoal. Da ausência de base partidária genuína, cria-se a mística de uma candidatura que supera partidarismos.
Deixarão de existir? Estarão as "pessoas de bem" de acordo em tudo? Não haveria uma aposta messiânica no poder de arbitrar, acima das instituições, divisões de interesses que seu discurso minimiza?
São fragilidades evidentes na postulação --e fatores de risco para um eventual governo seu.
Parecem, ao mesmo tempo, eficazes instrumentos de campanha, criando a imagem de uma oposição que não é oposição, de uma amplitude de enraizamento social que se resume a um ápice iluminado, de uma maioria espelhada numa só pessoa, na qual tudo mais se projeta do que se representa, mais se imagina do que se verifica.
O que isso possa ter de messiânico e de religioso, ou de inovador e consistente, é uma pergunta a ser respondida --espera-se-- no decorrer da campanha eleitoral.
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