• A proposta de plebiscito para a reforma política, que atende aos anseios de alguns setores organizados da sociedade, não encontrou ressonância no Senado e na Câmara, a começar pelo PMDB
- Correio Braziliense
A proposta de plebiscito para a reforma política, que atende aos anseios de alguns setores organizados da sociedade, não encontrou ressonância no Senado e na Câmara, a começar pelo PMDB, que só aceita aprovar a reforma no Congresso e, depois, submetê-la a um referendo popular. Essa é a posição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que é apoiada pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O diálogo da presidente Dilma Rousseff com a base começa, assim, com ruídos na comunicação.
Os comandos das duas Casas, porém, estão na iminência de mudar de mãos. Henrique Eduardo Alves, derrotado na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte, está se despedindo da Casa, da qual é decano. A liderança em ascensão é o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), que ontem fez uma recepção para sua bancada e hoje inicia as articulações da candidatura a presidente da Câmara com os demais partidos.
Tudo o que a presidente Dilma Rousseff não quer é vê-lo ditando a pauta da Casa. Não foi à toa que ontem chamou o vice-presidente Michel Temer para conversar, antes de sair em férias. O presidente do PMDB saiu do encontro defendendo o acordo do PT com o PMDB que garante o revezamento entre os dois partidos no controle do cargo. Nesse caso, na próxima legislatura, a presidência da Câmara caberia ao PT. Para Cunha, aceitar o acordo é mais ou menos como deixar o cavalo passar arreado.
A novidade maior, porém, parece vir do Senado. Renan Calheiros sinalizou que não pretende concorrer à reeleição. Seu substituto natural seria o líder da bancada do PMDB, Eunício de Oliveira, que acaba de ser derrotado na disputa pelo governo do Ceará e volta a Brasília cheio de mágoas em relação ao Palácio do Planalto, pois foi batido pelo candidato do PT, Camilo Santana, apoiado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes, ambos do Pros. Dois ministros de Dilma deverão voltar ao Senado: Garibaldi Alves (RN), da Previdência, e Edison Lobão (MA), de Minas e Energia. O ex-presidente José Sarney, esteio governista, está encerrando a carreira parlamentar.
O PT sempre teve gana de disputar o comando das duas Casas. Na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP) e Marco Maia (RS) não escondem o desejo de voltar ao cargo. O líder do governo, Henrique Fontana (RS), é outro interessado. Se houver acordo com o PMDB, a disputa será decidida na própria bancada petista: se não houver, Chinaglia é o nome de mais trânsito entre os pares. No Senado, é muito provável que o PT tente articular uma candidatura alternativa. Jorge Viana (AC) não esconde o desejo de comandar a Casa. Na base governista, o senador Ciro Nogueira (PP) também gosta de uma boa briga.
Quem ganha espaço nesse cenário é a oposição, que pode virar o fiel da balança nessas disputas, se o PMDB e o PT não chegarem a um acordo. Tradicionalmente, o PSDB costuma defender o princípio de que a maior bancada deve indicar o presidente da Câmara e do Senado, mas, se houver um “despelote” governista, a oportunidade não será desperdiçada.
Agenda cabeluda
Dilma acalmou o mercado ao anunciar que pretende mudar a equipe econômica, mas permanece no ar uma agenda de campanha eleitoral que gera tensões políticas e ainda inquieta o mundo empresarial: além do plebiscito, há propostas de controle social da mídia, formação de conselhos populares para decidir sobre políticas públicas (que a Câmara derrubou ontem e agora vai ao Senado) e revisão da Lei da Anistia, entre outras.
Durante a campanha, Dilma acusou a oposição de planejar um choque na economia, com alta de juros, cortes nos gastos públicos e outras medidas de caráter recessivo, que poderiam provocar desemprego. Agora, está diante da necessidade de reajustar o preço da gasolina, dividir os prejuízos do setor elétrico com os consumidores e aumentar ainda mais a taxa de juros para conter a inflação. Ou seja, fazer um pouco daquilo que disse que os adversários fariam.
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