• Doação diluída de grupos investigados na Lava-Jato dificulta monitoramento
Leticia Fernandes e Gabriela Allegro – O Globo
Escândalos em série
Os principais grupos empresariais do país, citados em investigações da Operação Lava-Jato, doaram, juntos, pelo menos R$ 484,4 milhões a políticos e partidos nas eleições do ano passado. Levantamento feito pelo GLOBO mostra que grupos como Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, UTC, Camargo Corrêa, Galvão, Engevix, Mendes Junior e Toyo Setal fizeram depósitos polpudos na conta de políticos e partidos por meio de suas subsidiárias, empresas cujas ações são controladas pela matriz do grupo. No caso de Odebrecht e Queiroz Galvão, o cálculo também levou em conta quantias repassadas por empresas cujos grupos têm participação de 30% a 54% nas controladas. As doações foram feitas legalmente e estão todas registradas.
Esse modelo de doação diluída entre vários braços de uma empresa - previsto em lei e detalhado na prestação de contas feita ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - dificulta o rastreamento do total doado pelo grupo. É comum que o nome de empresas controladas não tenha relação com o da holding - caso da Braskem ou da Usina Eldorado, subsidiárias da Odebrecht; da HM Engenharia e Construções, do grupo Camargo Corrêa; ou da Cosima, que pertence à Queiroz Galvão. Ainda que os negócios das empresas de um mesmo grupo sejam distintos, os maiores grupos têm unidade gerencial.
- Há casos em que as unidades de negócio têm autonomia suficiente para decidir (a quem doar). A Maior parte das investigadas têm como característica certa unidade gerencial, então, é possível sugerir que a holding estava absolutamente ciente do que estava sendo doado por cada subsidiária. Algumas são empresas onde existe um controle familiar, isso sugere que havia algum grau de programação entre o que acontecia na holding e nas diversas subsidiárias - explica Paulo Furquim, professor de Economia e Negócios do Insper e ex-conselheiro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
PT recebeu R$ 123,5 milhões
Para Sérgio Lazzarini, professor de Administração e Negócios do Insper, o mecanismo de doação das empresas brasileiras ajuda a desvincular dos grupos os altos valores doados. É uma forma, segundo ele, de desviar o foco das empresas:
- Doar por subsidiárias ajuda a deixar as doações menos escancaradas, sem conexão direta ao grupo. Pode ser uma forma de captar recursos internos vindos de negócios múltiplos, que podem estar interessados nos benefícios trazidos por conexões com políticos. Assim, cada negócio pode fazer doações que reforcem o grupo como um todo.
Citados em depoimentos do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, pelo menos 16 dos 28 políticos que teriam sido delatados por ele, segundo o jornal "O Estado de S.Paulo", receberam dinheiro das empreiteiras investigadas pela Lava-Jato. Quem encabeça a lista é o senador Delcídio Amaral (PT-MS), derrotado na disputa ao governo do Mato Grosso do Sul, que recebeu R$ 9,7 milhões dos grupos Engevix, OAS, UTC e Queiroz Galvão. O senador foi responsável pela indicação do ex-diretor da área Internacional da estatal, Nestor Cerveró, preso na última quarta. Henrique Eduardo Alves (PMDB-AL), presidente da Câmara, também derrotado na disputa pelo governo de Alagoas, recebeu R$ 9 milhões dos grupos Galvão, OAS, Odebrecht e Queiroz Galvão. Lindbergh Farias (PT-RJ), que acabou em terceiro no Rio, recebeu R$ 2,8 milhões de OAS, Queiroz Galvão e UTC. Outros candidatos que receberam altas quantias foram Gleisi Hoffmann (PT-PR), R$ 1,8 milhão; Benedito de Lira (PP-AL), R$ 1,7 milhão; o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ), R$ 1,4 milhão; e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB-PE), R$ 1,1 milhão. Levando em conta as doações nas eleições do ano passado, a soma dos partidos que mais receberam dinheiro desses grupos foram PT (R$ 123,5 milhões), PSDB (R$ 63,7 milhões), PMDB (R$ 58,6 milhões), PSB (R$ 29,8 milhões) e DEM (R$ 18,2 milhões).
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