• Presidente da Câmara diz não ter confiança no governo e prevê que relação será "sem confiabilidade"
Leticia Fernandes – O Globo
Crise política
Em clara demonstração de solidariedade, caciques do PMDB do Rio - entre eles o governador Luiz Fernando Pezão e o prefeito Eduardo Paes - estiveram ontem em um almoço na Associação Comercial do Rio de Janeiro para homenagear o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O deputado federal não poupou críticas à articulação política do governo Dilma Rousseff (PT), que segue em rota de colisão com peemedebistas no Congresso, e disse que a relação está "sem confiabilidade". Para Cunha, é praticamente impossível que a aliança com o PT se mantenha em 2018, e apresentou o nome de Paes como candidato à Presidência. Festejado por empresários, Cunha chegou a ser chamado de "herói do Brasil".
Ele afirmou que não tem confiança no governo petista, o que não impedirá que se mantenha uma relação institucional com o Planalto:
- (A relação será) institucional, como tem que ser. Não diria estremecida, diria sem confiabilidade. Não pense que vou fazer da presidência da Câmara fonte de retaliação ao governo. Confiança é uma coisa, harmonia é outra. Não vamos perder o diálogo. Mas, se você me perguntar se estou feliz com a interferência do governo numa possível investigação, é óbvio que não.
Ele criticou o fato de o governo não ter usado o vice-presidente da República Michel Temer (PMDB) para ajudar a abrir canais de diálogo entre o Legislativo e o Executivo:
- O vice-presidente é o melhor quadro político dentro do governo, com a maior capacidade de articulação. Não usar o Michel Temer numa articulação política é não ter compreensão de como funciona o Congresso Nacional. Talvez por isso a articulação política esteja desse jeito.
Rosário de diferenças
Cunha admitiu que a relação entre PT e PMDB está chegando no limite, e praticamente descartou a manutenção da aliança para 2018:
- Dificilmente o PMDB vai marchar num processo em 2018 na mesma aliança que está hoje, acho muito pouco provável. (Um quadro) pode ser o Eduardo Paes, um nome que defendo abertamente - disse, acrescentando que há um "rosário de diferenças" entre os dois partidos:
- Diferenças de pontos de vista ideológico, essa relação tumultuada... Claro que sempre tem diferenças, mas estamos chegando num momento em que as divergências estão ficando maiores do que as convergências.
Segundo o peemedebista, até agora a postura do PT da Câmara tem sido de isolamento, mas ele disse que espera uma mudança que garanta a governabilidade:
Apesar da relação conturbada com o governo, Cunha disse que garantirá a votação do ajuste fiscal. Ele afirmou que a crise econômica é "essencialmente política".
- Não há dúvida de que algum ajuste terá que ser feito ou o governo fará o ajuste pela inflação, com mais custo para a sociedade. Se o Brasil perder o grau de investimento, a reserva evapora. Apesar de defender o ajuste, critico a forma como ele foi proposto. Mas ele vai sair. Há uma crise econômica, mas ela é essencialmente política. Não há queda de braço.
Sobre a inclusão de seu nome na lista dos que serão investigados pelo Supremo, Cunha culpou o governo que, segundo ele, quis "dividir o ônus" da crise envolvendo a Petrobras. E acusou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de fazer uma escolha seletiva dos parlamentares citados. Ele se refere ao fato de Janot ter sugerido ao STF o arquivamento de inquérito sobre o senador Delcídio Amaral (PT-MS). Cunha disse ainda que a Operação Lava-Jato "envergonha a todos" e que ele não ficará constrangido por estar entre os investigados:
- É uma tentativa de dividir o ônus numa crise instalada no Executivo, porque a Petrobras é do governo. O estranho é o procurador escolher quem ele vai investigar, são situações com dois pesos e duas medidas. A petição é uma piada. Não ache que alguém aqui ficará constrangido de exercer a presidência da Câmara com absurdos dessa natureza porque eu não ficarei - disse.
Cunha voltou a dizer que vai comparecer espontaneamente à CPI da Petrobras: "Pode marcar amanhã se quiser".
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