- Folha de S. Paulo
Se há algo que salta aos olhos na lista do Janot é a concentração de suspeitos nas fileiras do PP. Dos 47 investigados, 32 (68%) têm vínculo com o partido. Considerada apenas a Câmara, as denúncias atingem 18 parlamentares da legenda, quase a metade da bancada de 40 deputados federais.
A melhor explicação para essa anomalia é que era o PP que apadrinhava o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, cuja delação premiada embasou boa parte da lista do procurador-geral. Mas, mais interessante do que explicar a origem do desvio estatístico, é pensar suas implicações.
Peço aqui licença para fazer uma digressão pelo campo da exobiologia, a ciência que estuda a vida em outros planetas. Como ainda não identificamos nenhum exemplar de ET, a disciplina trabalha apenas com princípios e hipóteses. Um dos mais difundidos é o princípio da mediocridade. Popularizado por Carl Sagan e Frank Drake, ele postula que, se existe vida na Terra e este é um planeta sem nada de excepcional (medíocre), deve haver seres vivos em muitos outros mundos também.
Podemos aplicar a mesma lógica ao chamado petrolão. Se o PP, que é um partido marginal da base aliada sem nada de muito especial, está com quase a metade de sua bancada envolvida, será que não deveríamos esperar níveis semelhantes de comprometimento em outras legendas, caso levássemos as investigações adiante de forma exaustiva?
E não há por que parar na Petrobras. Ela, afinal, não é a única estatal brasileira que mantém contratos com empreiteiras. Se o que estamos vendo na Petrobras é típico do que ocorre no meio, haveria muito mais a descobrir fora do setor petrolífero.
Isso nos leva a uma versão bastarda do paradoxo de [Enrico] Fermi, no qual o físico italiano perguntava: se extraterrestres são comuns, por que não são óbvios? "Onde estão eles?", como a contradição foi celebrizada.
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