• Arrecadação de impostos do governo continua no vermelho em 2015, e recessão ainda vai durar
- Folha de S. Paulo
Tantas são as notícias de escândalos e mumunhas políticas que até o tão dramático ajuste fiscal tem andado meio esquecido. O assunto continua dramático, porém. No primeiro quarto do ano, a arrecadação federal caiu 2%, já descontada a inflação. Não é pouco. Extrapolando o resultado do trimestre para o ano inteiro, daria pouco mais de 0,4% do PIB.
Recorde-se que o governo federal pretende deixar de gastar 1% do PIB, afora as despesas com juros, que serão outra vez especialmente horrorosas neste ano. Note-se ainda que algum dinheiro dos aumentos de impostos deste ano já começou a pingar (IOF e Cide, que, no entanto, decepcionaram, devido à lerdeza econômica).
Além do desvio de atenção provocado pelo noticiário deprimente de sensacional, essa conversa do ajuste anda meio esquecida porque as raras pessoas que se ocupam rotineiramente do assunto também estão meio deixando como está para ver como é que fica, antes de dizer se a coisa desanda.
Primeiro, porque ainda ninguém sabe como vai ser a programação financeira do governo, que está para sair, em maio.
Segundo, porque o governo ainda não fechou as contas do primeiro trimestre.
Terceiro, porque o pacote de arrocho, de corte de gastos e aumento de receitas, ainda deve começar a tramitar no Congresso, talvez nesta semana.
Quarto, muita gente acredita que Joaquim Levy vai cortar o que for preciso, mesmo a machadadas, não importa o tamanho da receita de impostos ou de que tamanho o pacote fiscal vá sair do Congresso. Se for preciso, vai cortar até os lenços em que outros ministros enxugariam as lágrimas do choro que virá, nos próximos dias, quando virem o talho nos seus orçamentos. No entanto, muita gente boa do ramo estima que Levy não vai conseguir entregar um superavit primário de 1% do PIB.
Feitas as contas mês a mês, um otimista pode dizer que a arrecadação do governo está despiorando, que o resultado horroroso de janeiro contaminou o trimestre, tendo havido aumentou real de receita em fevereiro e março (quase 0,5%, ante o mesmo mês do ano anterior). Mas estamos ainda apenas no outono da recessão. O inverno ainda virá.
Considere-se o caso da arrecadação da Previdência, que tem levado tombos feios, mês a mês deste ano, quedas de 2% a 4%. Isso ainda é resultado de desoneração (baixa de contribuição previdenciária das empresas). Mas deve ser também desemprego e informalização do trabalho (o saldo de empregos formais está no vermelho pela primeira vez em cerca de 15 anos). Infelizmente, ainda haverá mais desemprego.
Do lado da despesa, convém esperar ao menos pelos resultados de março. Mas a gente fica a se perguntar se o economistas de Dilma 2 vão continuar a regularizar a pendura dos economistas de Dilma 1, pedaladas e restos a pagar em geral, atitude correta que, no entanto, vai fazer com que as contas pareçam ainda mais esburacadas, mesmo que o presente governo seja mão fechada.
Dados os bafafás jurídico e político causados pelas pedaladas e esqueletos deixados por Dilma 1, talvez Dilma 2 se sinta mais inclinado a apresentar contas mais limpinhas. Melhor assim, mas o balanço no curto prazo vai parecer mais feio.
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