Governo vai pedir para julgamento de contas de Dilma ser suspenso
• Argumento é de que o relator Augusto Nardes já antecipou várias vezes seu voto pela reprovação, o que é vedado por lei
André Borges e Lorenna Cardoso - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O governo vai pedir a suspensão do processo de julgamento de contas ao Tribunal de Contas da União (TCU). O argumento central do governo é de que o ministro relator do processo, Augusto Nardes, tem vazado reiteradamente seu voto, que é pela reprovação das contas. Essa postura, que é vedada por lei, teria constrangido os demais ministros da corte.
O pedido do governo será enviado à Corregedoria do TCU nesta segunda-feira, 5, com a defesa de que há "vício" no processo relatado por Nardes. Em termos práticos, a medida pede a substituição do relator, por conta de "suspeição".
Se a Corregedoria acatar o pleito, enviará sua demanda à presidência do tribunal, que terá de submeter o pedido do governo ao plenário da corte, ou seja, os próprios colegas de Nardes terão de julgar a sua conduta à frente do processo.
"É vedado ao ministro do tribunal que, por qualquer meio de comunicação, expresse opinião sobre processo pendente", declarou Luís Inácio Adams, ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU).
Segundo Adams, o governo colheu mais de 2 mil páginas de reportagens nas quais Nardes deixa clara a sua intenção de reprovar as contas do governo Dilma Rousseff (PT) de 2014. Perguntado por que, só agora, decidiu pedir a suspeição de Nardes, Adams disse que o posicionamento do ministro do TCU se tornou mais claro desde o dia 11 de setembro, quando o governo entregou uma última parte de suas defesas.
"Essa reiterada manifestação vem em claro conflito com uma regra que se dirige aos magistrados. Não estamos falando de agentes políticos, mas magistrados que têm regras de comportamento", disse Adams. "Essa lógica, essa manifestação reiterada gerou um movimento de constrangimento, como já noticiado pela imprensa."
Em coletiva de imprensa, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que o governo tem "absoluta convicção que não existe motivos ou justa causa para reprovação das contas".
"Consideramos lamentável a postura de alguns setores oposicionistas que querem transformar as contas em cenário de disputa política", declarou. "Setores oposicionistas têm ido ao TCU para pressionar, na tentativa de constranger aqueles que vão julgar. Acho profundamente lamentável que isso ocorra. Como se lá fosse realizado um julgamento político."
O ministro do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), Nelson Barbosa, reafirmou que "todas as medidas foram feitas com amparo legal e seguiram o que foi aplicado em todos os anos anteriores".
"Os pontos apontados podem ser objeto de aperfeiçoamento. E como isso é feito? É feito para frente. Reafirmamos que as operações de repasse de recursos não são operação de crédito, mas de repasse", disse Barbosa, que também defendeu que não houve operação de crédito nas equalizações de taxas de juros.
"São discussões técnicas, que respeitaram a legislação em vigor, mas que podem ser aperfeiçoadas, e qualquer mudança deve ser aplicada daqui para frente", declarou.
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