sábado, 21 de maio de 2016

FH: líder de Temer é insustentável

Em entrevista pelo lançamento do segundo volume de “Diários da Presidência”, o ex-presidente FH disse que o Legislativo não pode “montar no cangote” de Temer e que o novo líder do governo, imposto por Eduardo Cunha, é “insustentável”

‘Não pode deixar o Legislativo montar no cangote do Executivo’

• Ex-presidente classifica de ‘insustentável’ escolha do novo líder do governo; e diz que PSDB não pode ser confundido com o partido do poder

Silvia Amorim - O Globo

SÃO PAULO- Na semana em que o presidente interino Michel Temer cedeu à pressão de pequenos partidos da Câmara para nomear um deputado réu em ações penais como líder do governo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse em entrevista para falar de seu novo livro “Diários da Presidência - 1997 a 1998" que um presidente “não pode deixar o Legislativo montar no cangote do Executivo”.




• No livro, o sr. fala da aprovação da reeleição, denúncias de compra de voto, crises internacionais e a eleição. Foi o período mais difícil da sua gestão?

1998 foi o mais difícil e 1999 também. Tinha a crise da Rússia, a situação econômica piorava gradativamente e tínhamos eleição. Havia muita gritaria sobre desemprego e muita pressão política.

• O sr. disse ao GLOBO que ministro que se tornar réu tem que ser afastado. Nesta semana, Temer nomeou para líder do governo na Câmara o deputado André Moura (PSC-SE), que é réu em três ações penais, e o PSDB não se opôs.

(A nomeação) é insustentável. Eu não acompanhei, mas reclamaria.

• Na negociação com o PMDB para nomear Eliseu Padilha (atual titular da Casa Civil) como seu ministro, o sr. diz no livro que a pressão estava “cheirando mal”. O que quis dizer?

Eu não tinha nada contra o Padilha. O problema era a forma. Era um “tem que ser, tem que ser’’. Não gostei. Você não pode deixar o Legislativo montar no cangote do Executivo, porque este corcoveia e tem que se equilibrar senão cai.

• É a situação do Temer?

Não. Ele está tentando manter os partidos agrupados porque tem votação de impeachment. Ele não tem outra alternativa porque precisa do Congresso mais do que eu e o Lula precisamos. Mudou a pessoa lá de cima mas o sistema político não foi quebrado.

• Temer tem força e disposição para uma reforma política?

Espero que sim. Mas não podemos esquecer que é um governo de transição. Para levar adiante muitas das transformações necessárias é preciso alguém com voto, força e agenda.

• Após 13 anos o PSDB deixa de ser oposição, mas sem ser governo. O sr. já disse “esse governo não é nosso”. Essa crise de identidade não pode levar a uma perda de protagonismo dos tucanos na eleição?

Esse é um ponto delicado porque até hoje o jogo partidário no Brasil se deu entre PT e PSDB. Agora o PMDB começa a querer entrar. Ou o PSDB volta a afirmar alguns propósitos programáticos ou ele vai ser confundido com o partido do poder. É uma operação delicada porque o PSDB não pode deixar de ajudar a transição e tem que olhar a sucessão de 2018. Nesse momento estamos com muitas dúvidas sobre quais vão ser os polos aglutinadores do futuro.

• Não tende a ser PT e PMDB?

Isso vai depender da capacidade do PSDB de ter um projeto. O que não pode deixar é se dissolver no marasmo da política do toma la dá cá. Não importa o que digam, é melhor estar em cima do muro do que cair na lama.

• Quais mudanças defende para a Previdência?

Defendo que para algumas categorias de trabalhadores haja uma idade mínima menor para a aposentadoria. Agora, é irracional mulher se aposentar mais cedo se vive mais do que o homem. Não acredito que uma reforma completa que atenda às finanças vai ser aprovada.

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