- Folha de S. Paulo
Michel Temer não recebeu da população um mandato para cortar benefícios sociais. Não obstante, se o Estado brasileiro quer manter-se solvente, é o que tem de ser feito. Assim, a melhor chance de o governo Temer chegar a 2018 é abrir rapidamente o saco de maldades, garantir que sejam aprovadas no Congresso e torcer para que produzam logo efeitos positivos sobre a economia, legitimando "a posteriori" o que não o fora "a priori".
A lista de medidas impopulares é longa e há tribulações para todos. A primeira vítima são os sindicalistas. Já foram avisados de que terão de engolir a reforma da Previdência. Sua grita é grande, mas o assunto já foi exaustivamente debatido e não há dúvida de que será preciso fazer as pessoas trabalharem por mais anos.
O problema é, no fundo, aritmético e determinado pelas curvas demográficas. Pelo nosso sistema de repartição simples, os proventos dos aposentados são pagos pelas contribuições dos trabalhadores em atividade. A questão é que não só as pessoas estão vivendo mais como também estão tendo menos filhos. Isso significa que teremos cada vez mais aposentados recebendo por mais anos e menos gente na ativa para sustentá-los.
Em 2013, havia 9,3 trabalhadores ativos para cada idoso. Em 2030, essa relação cairá para 5,1 e, em 2060, para 2,3. A menos que tomemos uma atitude, deixaremos para nossos filhos um esquema fadado ao colapso.
A exemplo do que já fizeram muitos países com sistemas semelhantes ao nosso, será preciso estabelecer uma idade mínima para concessão dos benefícios e igualar as condições de homens e mulheres, além de rever aspectos da aposentadoria rural e do regime dos servidores públicos.
Fazer com que as mudanças só valham para quem ainda não entrou no mercado, como querem políticos e sindicalistas, é adiar os efeitos do ajuste para perto de 2050. É certamente tarde demais para Temer, mas provavelmente também para o país.
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