Em carta aberta, cientista político e economista criticam Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, a quem atribuem radicalismos, e fazem apelo aos 'candidatos do centro democrático para que coloquem seus votos a favor de Alckmin'
Redação | O Estado de S. Paulo
O cientista político e sociólogo Bolívar Lamounier e a economista Eliana Cardoso, professora titular da FGV, divulgaram nesta quinta, 27, carta aberta em que fazem ‘um apelo aos candidatos que compõem o centro democrático para que se unam em torno de um nome com potencial de passar ao segundo turno e quebrar a perigosa polarização que está se configurando entre Bolsonaro e o PT’.
Bolsonaro e Haddad lideram todas as pesquisas de intenção de voto no primeiro turno da corrida presidencial.
A carta de Lamounier e Eliana, a dez dias das eleições presidenciais, diz que ‘a tarefa exige que os candidatos do centro, Alckmin, Marina, Álvaro Dias, Amoedo e Meirelles se encontrem e coloquem seus votos a favor do candidato que entre eles tem a maior chance de evitar uma tragédia’.
“No momento este nome é Alckmin”, avaliam.
“Apelamos a todos vocês, intelectuais, professores, profissionais liberais, cidadãos em geral, para que se unam a esse nosso esforço, endossando-o e ajudando a divulgá-lo. É nossa intenção enviá-lo com urgência à imprensa”, diz o texto.
Lamounier e Eliana sustentam que ’em momentos dramáticos da história, os homens dedicados ao bem público se unem para evitar tragédias’. Para eles, o País atravessa um desses períodos ’em que os líderes precisam se colocar acima de suas ambições pessoais e pensar no bem público’
“Esta carta pede a união do centro político.”
Eles apontam a raiz do populismo que avança. “Nosso país se encontra diante de uma grave ameaça. Os eleitores, polarizados entre dois apelos radicais, parecem decididos a pautar seu voto pelo medo. A decisão do eleitor se explica. Os empregos faltam. As finanças públicas estão sob pressão e a política, podre. Sete cidades brasileiras estão entre as 20 mais violentas do mundo. Neste quadro o apelo populista é forte.”
“Bolsonaro e Haddad conseguem explorar a indignação do eleitor brasileiro”, afirmam. Eles classificam os dois oponentes de ‘candidatos radicais’.
“Jair Bolsonaro, um populista de direita, aparece como resposta ao populismo de esquer da Lula. Ambos representam um ameaça para o Brasil e para a América Latina. Bolsonaro segue a recente parada de populistas, de Donald Trump nos Estados Unidos a Rodrigo Duterte, nas Filipinas. Sua vitória colocaria em risco a sobrevivência da democracia no Brasil.”
O documento segue apontando para Bolsonaro. “Ele apela para a rejeição do eleitor à catástrofe produzida por Dilma-Temer. Nosso PIB por pessoa encolheu 10% em 2014-16 e dezenas de políticos estão sob investigação. Lula, preso por corrupção, consegue transferir votos para o candidato que apresenta um programa econômico catastrófico.”
“Para os brasileiros desesperados por se verem livres de traficantes de drogas, assassinos e políticos corruptos, Bolsonaro se apresenta como o anti-Lula. Se enfrentar Fernando Haddad, muitos eleitores de classe média e alta, que culpam Lula e o PT acima de tudo pelos problemas do Brasil, podem ser convencidos por suas visões autoritárias.”
O texto aponta para o vice de Bolsonaro. “Hamilton Mourão, um general aposentado, que no ano passado, enquanto estava de uniforme, pensou que o exército poderia intervir para resolver os problemas do Brasil. A resposta do sr. Bolsonaro ao crime é, na verdade, matar mais criminosos.”
“Já sofremos muito com políticas autoritárias. O senhor Bolsonaro tem poucos aliados políticos e, para governar, poderia degradar ainda mais a política. Para que o eleitor não caia nas mãos de políticos extremistas, os candidatos do centro precisam se unir.”
Leia a carta de Bolívar Lamounier e Eliana Cardoso
“Caros amigos e amigas:
O texto abaixo foi escrito a quatro mãos por Eliana Cardoso e eu. É um apelo aos candidatos que compõem o centro democrático para que se unam em torno de um nome com potencial de passar ao segundo turno e quebrar a perigosa polarização que está se configurando entre Bolsonaro e o PT. Apelamos a todos vocês – intelectuais, professores, profissionais liberais, cidadãos em geral – para que se unam a esse nosso esforço, endossando-o e ajudando a divulgá-lo. É nossa intenção enviá-lo com urgência à imprensa.
“Em momentos dramáticos da história, os homens dedicados ao bem público se unem para evitar tragédias. Estamos vivendo um desses momentos em que os líderes precisam se colocar acima de suas ambições pessoais e pensar no bem público. Esta carta pede a união do centro político.
Nosso país se encontra diante de uma grave ameaça. Os eleitores, polarizados entre dois apelos radicais, parecem decididos a pautar seu voto pelo medo. A decisão do eleitor se explica. Os empregos faltam. As finanças públicas estão sob pressão e a política, podre. Sete cidades brasileiras estão entre as 20 mais violentas do mundo. Neste quadro o apelo populista é forte.
As eleições nacionais, que nos oferecem a chance de recomeçar, parecem dividir os eleitores entre dois candidatos radicais. Jair Bolsonaro, um populista de direita, aparece como resposta ao populismo de esquerda de Lula. Ambos representam uma ameaça para o Brasil e para a América Latina.
Bolsonaro segue a recente parada de populistas, de Donald Trump nos Estados Unidos a Rodrigo Duterte, nas Filipinas. Sua vitória colocaria em risco a sobrevivência da democracia no Brasil.
Ele apela para a rejeição do eleitor à catástrofe produzida por Dilma-Temer. Nosso PIB por pessoa encolheu 10% em 2014-16 e dezenas de políticos estão sob investigação. Lula, preso por corrupção, consegue transferir votos para o candidato que apresenta um programa econômico catastrófico.
Bolsonaro e Haddad conseguem explorar a indignação do eleitor brasileiro.
Para os brasileiros desesperados por se verem livres de traficantes de drogas, assassinos e políticos corruptos, Bolsonaro se apresenta como o anti-Lula. Se enfrentar Fernando Haddad, muitos eleitores de classe média e alta, que culpam Lula e o PT acima de tudo pelos problemas do Brasil, podem ser convencidos por suas visões autoritárias.
O companheiro de chapa de Bolsonaro é Hamilton Mourão, um general aposentado, que no ano passado, enquanto estava de uniforme, pensou que o exército poderia intervir para resolver os problemas do Brasil. A resposta do Sr. Bolsonaro ao crime é, na verdade, matar mais criminosos.
Já sofremos muito com políticas autoritárias. O senhor Bolsonaro tem poucos aliados políticos e, para governar, poderia degradar ainda mais a política. Para que o eleitor não caia nas mãos de políticos extremistas, os candidatos do centro precisam se unir.
A tarefa exige que os candidatos do centro, Alckmin, Marina, Álvaro Dias, Amoedo e Meirelles se encontrem e coloquem seus votos a favor do candidato que entre eles tem a maior chance de evitar uma tragédia. No momento este nome é Alckmin.”
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