domingo, 25 de novembro de 2018

Márcio França: Bom senso entre os extremos

- Folha de S. Paulo

Boa política tem de achar caminhos de convivência

Agradecendo pelos mais de dez milhões de votos que recebi nesta eleição, aproveito para reafirmar que o país precisa, mais do que nunca, buscar o equilíbrio para seguir seu rumo. O presidente e os demais eleitos necessitam de um bom ambiente político para enfrentar os imensos desafios que aí estão.

Como num estádio lotado, os desafinados e os muito afinados, todos, cantam os hinos, mas são conduzidos pelos médios. E o som que se ouve da multidão é harmônico e afinado.

Não será com extremos, de qualquer lado ou ideologia, que o Brasil encontrará caminhos, por exemplo, para atrair investimentos que gerem os 12 milhões de empregos de que a população necessita. As antenas da sociedade democrática estarão atentas às expectativas que gerarmos.

Sabemos que os investimentos internacionais só se direcionam para os países que apresentam condições democráticas de estabilidade e convivência, de diálogo e de cumprimento estrito dos contratos.

O capital procura segurança, regras claras, para abrir empresas e gerar empregos.

Lideranças importantes de São Paulo e do Brasil já se posicionam no sentido de evitar os extremos desnecessários e que remetem à famosa menção de Augusto dos Anjos (1884-1914): "A mão que afaga é a mesma que apedreja". São democratas que defendem o permanente diálogo para a solução de eventuais crises e saídas onde parece não haver acordos. É nesta hora que entra em cena a boa política, capaz de encontrar caminhos de paz e convivência, onde muitos só veem o conflito e a intransigência.

O mundo precisa dos diferentes tipos de personalidade. Mas quem dará o tom afinado, ao final, são aqueles que são transversais aos extremos e formam ângulos retos e sólidos, sempre.

A população quer resultados. Está em busca de serviços públicos de qualidade. O que já existe tem que funcionar muito bem.

Todos buscam por um Estado que dê oportunidade aos jovens de terem esperança, de se sentirem imprescindíveis.

Passadas as estratégias eleitorais, com as falas contundentes, resta agora a realidade das ações, que devem ser pragmáticas para buscar soluções. Não haverá espaço para amadorismos. A gestão pública hoje requer especialistas com muita, mas muita coragem para decidir por um CNPJ e responder com seu CPF.

Sem a busca real do entendimento, com diálogo e muita democracia, haverá o risco de mais e mais protelações embaladas com frases de efeito e apimentadas com o radicalismo dos extremos, que só encontram eco nas redes sociais. Na vida real, não se bloqueiam ou deletam as dificuldades ou os adversos.

Não há tempo nem paciência para ficarmos sustentando rótulos ou carimbos ideológicos. A pergunta: é ou não é eficaz? Funciona bem ou não? Resolveu ou não? O resto tem importância perto de zero.

Não dá mais para um governante ser simplesmente contra ou a favor de privatizações. Há aquelas que cabem e as que não. A da Cesp, em São Paulo, foi correta em todos os aspectos. Rendeu R$ 1,9 bilhão para os cofres públicos e trará mais eficiência para o setor.

Se um governante defende políticas sociais de inclusão não significa que ele discorde de uma polícia forte e atuante. Cabem as duas coisas. Se é possível modernizar e desburocratizar a gestão dos hospitais e ambulatórios públicos, não significa que é preciso retirar direitos dos servidores concursados desses mesmos hospitais.

É chegada a hora do entendimento sem rótulos, sem extremos. O país bem que merece uma chance. Aos líderes, tantos os atuais ou os que surgirem, fica a convocação à responsabilidade por meio do diálogo, que é o espírito, a essência, da nossa tão cara democracia, que tem uma enorme vantagem sobre outros regimes. Afinal, ao fim de uma eleição, tem início uma outra. Assim, o soberano veredito popular não é para sempre, e o bom senso sempre encontra a vitória.
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Márcio França Governador de São Paulo e ex-deputado federal (2007-2010)

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