- Folha de S. Paulo
O risco de fazer malabarismo eleitoral com laranjas bichadas
Plantar laranjas sempre foi bom negócio. É verdade que um pé de laranja plantado hoje pode levar até 15 anos para produzir a primeira laranja. Tempo demais. Há pés com apenas um ano de idade, germinados em viveiros e enxertados com sementes de pés de laranja mais velhos, que chegam lá em muito menos tempo. Um jeito ainda mais rápido é contratar pessoas —“laranjas”— que se façam passar por candidatos a vereador, deputado e até senador, injetar-lhes dinheiro público para suas “campanhas” e embolsar de volta esse dinheiro, já que os ditos não estão ali para disputar de verdade.
Um litro de suco de laranja puro leva 30 laranjas. Mas quem sabe a diferença entre um suco puro e um que leve água? Com meio litro de água e 15 laranjas, faz-se um litro de suco do mesmo jeito e reservam-se as outras 15 para fazer outro litro. As transações financeiras entre a família Bolsonaro e seu ex-motorista Fabrício Queiroz seguem o mesmo princípio. Só que, em lugar de laranjas, Queiroz compra e vende carros usados, transferindo parte dos lucros para um ou outro Bolsonaro e reservando o resto para comprar mais laranjas.
Um pé de laranja deveria ficar de 3 a 4 metros de distância um do outro. Mas, isso, só idealmente. Na prática, pode-se plantá-los lado a lado e ver no que dá. Foi o que fez o laranjeiro Queiroz ao plantar suas mulheres, ex-mulheres, filhas, enteadas e milicianos de sua confiança no mesmo espaço, a Assembleia Legislativa do Rio. O laranjal era tão atulhado que deu na vista e o suco azedou.
E não se deve usar o fundo partidário, que é uma cortesia oficial, para fazer malabarismos com laranjas bichadas. Vide os candidatos-fantasma do hoje ministro do Turismo, Álvaro Antônio. O Ministério Público, a Polícia Federal e a imprensa descobriram e o governo precisa fazer de conta que o abacaxi não é dele.
A laranja é doce, mas pode ter marimbondo no pé.
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