Generais atuam na tentativa de minimizar fala desastrada de Bolsonaro
Não se pode negar que, como candidato, Jair Bolsonaro (PSL) soube explorar com grande êxito o estilo informal e espontâneo, não raro grosseiro ou simplório, de sua retórica formatada no ambiente conflagrado das redes sociais.
Na Presidência da República, contudo, declarações infelizes ou disparatadas têm repercussões que vão muito além da complacência dos militantes virtuais. Demonstram, para um público mais amplo, o despreparo do mandatário —que por vezes aparenta preferir não ser levado tão a sério.
Bolsonaro iniciou uma sequência de manifestações desastradas ao divulgar um vídeo escatológico, na terça-feira (5), com o intuito de demonstrar que os blocos de Carnaval estariam se prestando a promover obscenidades. "Comentem e tirem suas conclusões", convidou, depois de publicar o famigerado registro de imagens.
A iniciativa, que, a esta altura, deve ser encarada como parte de uma estratégia de comunicação, provocou perplexidade e uma avalanche de críticas, inclusive de apoiadores.
Na manhã de quinta-feira (7), Bolsonaro teve a oportunidade de deixar os eflúvios carnavalescos para trás e discursar sobre temática cívica em evento com fuzileiros navais, no Rio de Janeiro. Não se saiu melhor, entretanto.
Após reforçar a ideia de que vai governar ao lado "daqueles que respeitam a família", disse que a democracia só existe se as Forças Armadas assim desejam.
Ainda que a declaração possa ser tomada como um tropeço de linguagem, não se evitaram interpretações menos benignas —caso de um apelo implícito à autoridade militar contra o dissenso político.
Na tentativa de encerrar o ciclo de gafes, providenciou-se, na noite do mesmo dia, uma transmissão ao vivo pela internet, diretamente do Palácio do Planalto, na qual o mandatário abordou temas variados, da reforma da Previdência às lombadas eletrônicas em estradas —e buscou consertar sua fala sobre o regime democrático.
É significativo que ele tenha se feito acompanhar, no pronunciamento, por dois generais: o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, da ativa, e o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, da reserva.
Coube a este considerar que nada houve de polêmico no discurso aos fuzileiros navais. "Suas palavras foram ditas de improviso para uma tropa qualificada, para aqueles que amam a sua pátria." Mais cedo, o vice Hamilton Mourão, também general, havia dito que Bolsonaro fora mal interpretado.
De forma calculada ou não, os militares mais qualificados fartamente representados no primeiro escalão do Executivo atuam, mais uma vez, como anteparo aos arroubos do presidente e capitão reformado do Exército. Sem maior concorrência, eles vão se convertendo na ala mais coesa do governo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário