Não se devem repetir políticas protecionistas, mas expor o setor e toda a economia à competição
O Brasil precisa reverter, rapidamente, seu regresso à posição de economia de produtos básicos, commodities. O país acaba de completar um quadriênio de declínio constante nas vendas externas de produtos industriais com maior valor agregado.
Constatou-se nova queda na participação de manufaturados nas exportações em 2018. Vendas desses produtos contribuíram com 36% do valor exportado, equivalentes a US$ 86,5 bilhões.
A dimensão da decadência da indústria fica nítida quando se recua na linha do tempo: na virada do milênio, em 2000, os produtos manufaturados somavam 59% da receita total das exportações brasileiras.
É desproporcional o tamanho da economia brasileira em comparação com a fatia que o país detém no comércio global, apenas 1,2%. O comércio representa menos de um quarto do Produto Interno Bruto.
A indústria de transformação brasileira é a nona maior do mundo, com 1,8% do PIB industrial global. Porém, se coloca na 30ª posição entre as maiores exportadoras de manufaturados, segundo a Organização Mundial do Comércio. Tem participação marginal (0,6% do total) e declinante no comércio internacional.
Governo e empresas privadas precisam, com urgência, rever prioridades e reconstruir o setor. Significa convergência em ações para integração efetiva de indústrias e institutos de pesquisa públicos e privados.
É necessário abrir a estrutura doméstica de produção às novas tecnologias, como por exemplo inteligência artificial, robótica avançada, internet das coisas e sistemas ciber-físicos, entre outros. Trata-se de conectar a base industrial às cadeias globais de suprimento. Mas, também é verdade, deve-se dar condições de competitividade aos produtos industrializados nacionais, com medidas no campo tributário, para a redução da burocracia etc.
Já se perdeu tempo demais no debate de teorias sobre o papel do Estado na reconversão industrial. Continua-se perdendo tempo quando segmentos privados insistem na velha e inviável política de subsídios a linhas de produção tecnologicamente obsoletas.
Relevante é inovar, à margem do orçamento público, na criação de meios eficazes ao aumento do poder de competição no mercado internacional. Hoje, a Argentina é o principal comprador de bens manufaturados brasileiros. A crise limita suas compras. E o Brasil sequer dispõe das condições mínimas para entrar na disputa por outros mercados.
Políticos como Trump, presidente dos EUA, adotam a retórica isolacionista e incensam teses sobre o fechamento dos mercados, revigorando o cacoete do protecionismo. Na contramão, com acerto, o governo brasileiro já enunciou a opção por uma abertura econômica.
É alvissareiro, desde que se deixe de patinar no viciado debate sobre uma ampla e abrupta abertura unilateral ou o adiamento desse processo, sem prazo. O tempo passa. É hora de ação pública e empresarial.
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