Partidos liberais deixam divergências de lado, se unem para fazer frente ao governo conservador e oferecem uma esperança
Karolina Wigura e Jaroslaw Kuisz / The New York Times, O Estado de S.Paulo
Hoje, muitos consideram a Polônia uma advertência para a Europa: um país afastando-se rapidamente da democracia liberal. O partido Lei e Justiça, que governa há quatro anos, representa algumas das tendências mais preocupantes encontradas na Europa.
É verdade que a democracia sofreu sob o domínio do Lei e Justiça. Mas há outra história sobre a Polônia que precisa ser contada, uma sobre como os liberais estão aprendendo a lutar pela democracia. Não há garantia de que o Lei e Justiça será derrotado, mas a mudança está acontecendo.
As eleições europeias estão sendo vistas como um teste decisivo para a onda não liberal na Europa. Se o Lei e Justiça e seus aliados em todo o continente tiverem bom desempenho, muitas pessoas acreditam que isso mudará a face da União Europeia e ajudará outros partidos não liberais nas próximas eleições nacionais.
É por isso que é importante procurar lições na Polônia. E, numa época em que a extrema direita forma alianças e compartilha mensagens, estratégias e táticas, os democratas também deveriam aprender uns com os outros.
O Lei e Justiça criou uma visão em preto e branco da sociedade polonesa, sugerindo, por exemplo, que existem duas Polônias se opondo, uma à outra – um país da “solidariedade” e outro do “liberalismo”. Isso trouxe infelizes consequências para o pluralismo na Polônia. Mas, quatro anos depois, a oposição liberal aprendeu a usar essa polarização a seu favor.
Em fevereiro, quase todos os partidos que se opõem ao Lei e Justiça – de conservadores a verdes – uniram-se em uma lista eleitoral chamada Coalizão Europeia, antes das eleições que começaram ontem em vários países do bloco. Esses partidos se juntaram com o objetivo de proteger um mínimo de democracia e de Estado de direito, assim como dar apoio à UE.
Isso não é fácil. Cada partido que adere à coalizão deve concordar com difíceis compromissos: os liberais econômicos devem dar apoio a algumas políticas redistributivas; os esquerdistas têm de desistir temporariamente de partes de seu programa social, como a liberalização da lei do aborto.
Isso não significa que os políticos que fazem parte da coalizão façam de conta que não existem diferenças entre eles. Ao contrário, estão conscientes de que constituem um agrupamento diversificado. Mas, colocando suas divergências de lado, estão mostrando que a estratégia de dividir para conquistar não funcionará.
Se há uma coisa na qual os políticos não liberais parecem ser bons é compreender que, na era da mídia social, política é entretenimento. Eles sabem como capturar a atenção do público e, com uma mistura de humor e veneno, conseguem assustar os cidadãos ou entretê-los – ou fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
Na Polônia, políticos do Lei e Justiça conquistaram as atenções fazendo declarações chocantes, como quando o líder do partido, Jaroslaw Kaczynski, falou sobre refugiados trazendo “parasitas e protozoários”, ou quando outro político do Lei e Justiça chamou a bandeira da UE de “trapo”, associando-a a algo ruim e sujo.
A partir de 2017, a oposição polonesa começou a reconstruir todo seu programa político. Os partidos e organizações liberais realizaram conferências sobre como restaurar o Estado de direito e reparar as instituições estatais. Mas, para vencer, os liberais perceberam que precisavam discutir outros tópicos e políticas, como ecologia, saúde e bem-estar. Somente implantando uma rica plataforma democrática é possível reverter os danos causados pelo governo. E foi isso que começaram a fazer. Parece estar funcionando.
Agora, são os iliberais que estão sendo forçados a reagir ao que os liberais propõem. Se os liberais querem vencer as eleições, eles têm de aprender a contar histórias que dão aos eleitores uma sensação de otimismo e propósito – não histórias que prometem voltar ao status quo anterior à chegada dos não liberais ao cenário político.
A lição para o restante da Europa está aqui: ser criativo e adaptar-se aos novos desafios da política do século 21. Os iliberais fazem o tráfico do medo e da nostalgia. Os liberais devem oferecer esperança, em vez de cultivar o derrotismo. / Tradução de Claudia Bozzo
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