- O Globo
Bolsonaro diz que opiniões sobre armas e meio ambiente influirão na escolha do novo PGR. O risco é que esses temas virem cortina de fumaça para a indicação de um engavetador-geral
Uma guerra de lobbies, intrigas e dossiês. Assim está a disputa pela Procuradoria-Geral da República. Desde que Jair Bolsonaro sugeriu que não seguiria a lista tríplice, a corrida se deslocou da superfície para os subterrâneos de Brasília. No escurinho dos gabinetes, vale tudo pela indicação presidencial.
A confusão foi gestada pela procuradora Raquel Dodge. Impopular entre os colegas, ela desistiu de disputar a eleição interna. Depois informou que estava “à disposição” para um segundo mandato, com apoio velado de figurões do Congresso e do Supremo.
A atitude encorajou outros candidatos a correr por fora da lista. Até o início da semana, Augusto Aras despontava como favorito. Ele apostou em outro tipo de padrinho: o ex-deputado Alberto Fraga, prócer da bancada da bala e amigo do presidente.
Aras fez de tudo para se mostrar alinhado a Bolsonaro. Elogiou o presidente, esbravejou contra a “ideologia de gênero” e atacou o MST. Quando sua indicação parecia certa, deputados do PSL descobriram que ele não é bolsonarista desde criancinha. Agora o procurador tenta se explicar para os caçadores de comunistas.
O bombardeio contra Aras reacendeu as esperanças de outros candidatos com perfil conservador. Entraram no páreo Paulo Gonet, ex-sócio de Gilmar Mendes, Bonifácio de Andrada, filho de um ex-deputado do PSDB, e Alcides Martins, eminência na maçonaria.
Bolsonaro já disse que opiniões sobre armas, meio ambiente e reservas indígenas vão influir em sua escolha. O risco é que esses temas sirvam de cortina de fumaça para a indicação de um novo engavetador-geral.
O próximo PGR terá poderes para investigar ou blindar o presidente e seus ministros. Também influirá no destino do senador Flávio Bolsonaro, suspeito de embolsar salários de assessores. Por sinal, o Zero Um tem sabatinado os principais candidatos à cadeira.
O modelo de lista tríplice tem problemas, mas joga luz sobre os concorrentes. Eles são obrigados a expor ideias e assumir compromissos com a instituição que desejam comandar. Para quem corre por fora, só é preciso se comprometer com o presidente.
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