- Folha de S. Paulo
Num governo funcional, ele talvez já estivesse no olho da rua
Tudo é relativo, de modo que, nos padrões da administração Bolsonaro, o Ministério da Economia desponta como uma ilha de racionalidade. Mas, se elevarmos um pouco a régua e utilizarmos critérios absolutos em vez de relativos, a avaliação de Paulo Guedes e sua equipe se torna bem menos efusiva.
É verdade que, ao longo do último ano, a paisagem econômica mudou para melhor, mas, sem prejuízo de algumas medidas acertadas, muito do desanuviamento se deu sem a participação direta do Executivo.
Parte da recuperação se deve à própria dinâmica dos ciclos econômicos. Embora Venezuelas sejam possíveis, o normal é que, depois de uma crise, venham mesmo dias melhores.
Um fator decisivo para o clima mais favorável foi a aprovação da reforma da Previdência. O Ministério da Economia decerto se esforçou para que ela ocorresse, mas quem preferir descrevê-la como uma obra tocada principalmente pelo Legislativo não estará errado. Houve até ocasiões em que o destempero verbal de Guedes atrapalhou. E ele continua sabotando a si mesmo quando impreca contra servidores públicos e domésticas.
Se voltarmos o olhar para as iniciativas do ministério propriamente ditas, o quadro que emerge é de hesitação e falta de prioridade. Num dia a reforma administrativa é fundamental, no outro já não é. O detalhamento de propostas prometidas para ontem nunca aparece. Agendas possíveis e necessárias como a abertura foram esquecidas. As privatizações, que na fala de campanha gerariam R$ 1 trilhão, andam infinitamente mais modestas.
Num governo funcional, Guedes talvez já estivesse no olho da rua.
**
Sobre a campanha difamatória contra a jornalista Patrícia Campos Mello capitaneada por Eduardo Bolsonaro, só posso lamentar que o esgoto tenha chegado ao poder. O consolo é que os Bolsonaros passarão, e o jornalismo profissional bem-feito, do qual Patrícia é uma expoente, provavelmente permanecerá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário