A população tem as atenções na nova onda da pandemia, na inflação e no desemprego, não está preocupada com as eleições. Os números das pesquisas refletem, como virou lugar comum dizer, “uma fotografia do momento”. Até aqui são monólogos paralelos que não interagem. Campanha é pra mudar os números. Há registros de vitórias espetaculares e inesperadas. Tudo pode acontecer, inclusive nada.
Fato é que a eleição presidencial de 2022
está balizada por duas lideranças fortes, enraizadas, representativas de dois
polos extremos do espectro político e ideológico, orgânicas e que têm pisos de
intenção de voto muito altos. O que deveriam fazer Moro, Ciro, Dória ou Simone
Tebet? Jogar a toalha? Sequestrar do eleitor a possibilidade de manifestar suas
divergências com os dois líderes das pesquisas? Se o primeiro turno é regido
pelo império das identidades, cabe perguntar: qual nosso nível de identificação
com Bolsonaro ou Lula?
Bolsonaro representa, na era das redes
sociais, a tradição de uma direita conservadora e autoritária presente em
vários momentos da história brasileira em figuras como Plínio Salgado, Carlos
Lacerda, Jânio, Collor e as lideranças do período militar. Dispõe de um
significativo exército digital e desperta paixões até irracionais em sua bolha.
Não representará mais novidade em 2022. Terá que defender seu governo. Não terá
a bandeira anticorrupção empunhada por Moro e nem a agenda liberal de Paulo
Guedes, que ficou só no discurso.
Por outro lado, Lula continua o bom e velho
líder se equilibrando entre os setores mais moderados da esquerda e aqueles que
ainda são prisioneiros de um anacrônico paradigma revolucionário. Um olho pisca
para Geraldo Alckmin como vice, o outro sacrifica o compromisso com a
democracia com acenos de simpatia a Cuba, Venezuela e Nicarágua. Resta um mar
de ambiguidades. Resvala no desejo de controle sobre a imprensa; não esboça a
mínima autocrítica em relação aos escândalos de corrupção e em relação a
política econômica dos governos do PT que levou à recessão de 2014 a 2016; fala
em acabar com as privatizações, a reforma trabalhista, a âncora fiscal, a regra
de ouro e a independência do Banco Central.
Diante disto, fica claro que nem todos os
segmentos da sociedade estão contemplados. Os setores do polo democrático mais
do que o desejo de apresentar uma alternativa, têm o dever de construir
candidaturas que defendam radicalmente a democracia, a liberdade individual,
social, econômica e o desenvolvimento sustentável. Para ganhar ou para perder,
desempenhando o papel pedagógico e mobilizador que a democracia requer. Polemizar
e interagir com Bolsonaro e Lula, obrigando a todos explicitarem o que querem
para o futuro do Brasil.
*Marcus Pestana, Presidente do Conselho
Curador ITV – Instituto Teotônio Vilela (PSDB)
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