O Globo
Se o petista conseguir fazer no estado a
média de votos que tem no resto do país, pode fechar a conta ainda no primeiro
turno
Não há hipótese de Lula fazer
corpo mole na campanha eleitoral no Rio. Tampouco caberá ambiguidade neste
pleito, como já ocorreu em outras eleições. O candidato do PT terá
indiscutivelmente que se posicionar de um lado, porque do outro estará seu
adversário, o presidente Jair Bolsonaro. Se tergiversar, dança. Não que o Rio
seja decisivo num pleito em dois turnos. Mas se quiser resolver no primeiro, é
bom olhar com atenção para o estado onde seu partido vem perdendo eleitores
seguidamente desde 2002. Naquele ano, Lula ganhou de Serra aqui com 79% dos
votos. Em 2006, fez 69% contra Alckmin. Dilma ganhou com 60% sobre Serra em
2010 e passou apertada por Aécio em 2014, com apenas 51,64% dos votos. Em 2018,
Haddad perdeu para Bolsonaro com apenas 32% dos eleitores ao seu lado.
Lula precisa de um candidato forte no Rio, forte suficiente para rivalizar com o governador Cláudio Castro, candidato à reeleição que terá Bolsonaro em seu palanque, além de todas as demais forças de direita no estado. Esse candidato, de acordo com todas as pesquisas feitas até agora, deveria ser o deputado Marcelo Freixo, ex-PT, ex-PSOL, hoje no PSB. O palanque de Freixo terá a cara da esquerda, mais moderna e flexível do que a representada pelo PT, mas ainda assim de esquerda e anti-Bolsonaro. Uma solução caseira, pode ser redundante. Restam ainda alternativas ao centro, com o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, ou brizolista, com o candidato do PDT, Rodrigo Neves.
É por aí que trabalha
o prefeito Eduardo Paes, que não quer Marcelo Freixo no páreo, sugerindo outros
nomes do PT, como o de André Ceciliano, ou buscando solução em outros partidos.
Paes teme um adversário forte no Guanabara em 2026, quando vai disputar o
governo estadual. Por isso sugere candidaturas para frear Freixo e aposta
secretamente na derrota de qualquer um deles para Cláudio Castro. Com Castro
reinstalado na cadeira, seu caminho fica livre. Paes sabe fazer política, mas
nesta eleição está sendo óbvio demais. Primeiro, apostou em Ceciliano. Depois
fez afago em Ciro Gomes e sugeriu apoiar a candidatura de Rodrigo Neves. Tudo
isso, sem nunca abandonar Felipe Santa Cruz, seu candidato ideal para perder
para Castro.
O prefeito do Rio chegou
a chamar Lula de “irrelevante” numa entrevista a Cristian Klein e Francisco
Góes, do Valor. Já deve ter se arrependido do que disse. Se os repórteres
perguntarem de novo, ele vai dizer outra coisa. Até o presidente do seu
partido, Gilberto Kassab, já acena com apoio a Lula no primeiro turno. Paes
pode voltar a insistir em trocar o apoio federal do PSD com uma mudança de
tática de Lula no Rio. Não dá para dizer se vai colar, pois Lula precisa ter um
candidato seu no Rio. E não qualquer um, como fez no passado. Ele precisa de um
candidato competitivo. Se conseguir fazer no Rio a média de votos que tem no
resto do país, pode fechar a conta ainda no primeiro turno.
As pesquisas mostram uma
liderança inequívoca de Lula sobre Bolsonaro de 22 a 27 pontos percentuais em
todo o país. No Rio, a diferença entre os dois é de apenas nove pontos. Se Lula
conseguir subir aqui ao patamar nacional, ganhará entre 600 mil a 900 mil votos
adicionais. Não é pouca coisa. Se repetir seu próprio desempenho em 2002, quando
teve 40% dos votos no primeiro turno, pode liquidar a fatura no dia 2 de
outubro.
Vai ser jogo duro daqui até as
convenções que definirão chapas, alianças e federações. O “dado concreto” é que
Lula vai ter que se preocupar mais com o Rio. Qualquer descuido pode significar
perder votos, ou ganhar menos votos do que poderia conquistar. Ele terá de
decidir se Freixo é mesmo o candidato ao governo estadual com maior capacidade
de aglutinação e arregimentação de eleitores. O que Lula não pode é seguir palpite
furado e apostar errado. Perder votos no pleito estadual para Cláudio Castro
eleva o risco de perder votos na eleição presidencial. Aí, quem ganha é
Bolsonaro.
Ministro na rua
“Quero ser um ministro na rua, quero estar
com o povo”, disse André Mendonça, do STF, à jornalista Carolina Brígido. Pode
parecer democrático, mas não é. Em 2009, durante um debate quente entre Gilmar
Mendes e Joaquim Barbosa, o ex-ministro relator do mensalão recomendou que o
seu interlocutor fosse às ruas, sugerindo que Gilmar não estava ouvindo o que o
povo queria dele. Juízes podem até ir para a rua ouvir o povo, mas não podem
ser guiados por ele. O
clamor pode até ser justo, mas nem sempre é legal. Estar
com o povo é conversa de político, não de juiz. O político pode atender ao
clamor das ruas, propondo até mesmo mudanças de leis, este é o seu papel. O
juiz, não. Cabe a ele tão somente interpretar a lei. Estar ao lado do povo pode
ser bonito e atende um anseio do próprio povo, mas também pode ser perigoso
para a justiça, para as instituições e para a própria democracia. É bom não
esquecer que muito recentemente parte do povo foi às ruas pedir o fechamento do
Supremo.
Agora vai
O relatório da CPI da Covid deu entrada
esta semana no TPI (Tribunal Penal Internacional). Se seguir os trâmites normais, o resultado
da investigação será apresentado antes de Augusto Aras dar sinal de vida.
Nazismo
Você vai dizer que não dá para colocar
Bolsonaro e nazismo no mesmo balaio, e eu vou concordar. Mas, ainda sobre
Augusto Aras, foi notável
a sua rapidez em abrir investigação contra o podcaster Monark
que defendeu a legalização do nazismo. Foi no mesmo dia, como deveria ser. Já
com o seu querido capitão…
Custo eleitoral
Cada vez fica mais cara a campanha
eleitoral de Jair Bolsonaro. A última fatura já foi para o Congresso, vai custar R$ 100 bilhões e
atende pelo nome de PEC dos Combustíveis. A terra vai ficando tão arrasada que
daqui a pouco nem Bolsonaro vai querer mais governar este país.
Olho no dinheiro 1
O dinheiro da privatização da Cedae já
começou a encher os cofres do estado e de diversos municípios da região
metropolitana do Rio. É muito
dinheiro que entra sem qualquer carimbo, sem nenhuma destinação
específica. O estado, que recebe R$ 14 bilhões, já definiu onde gastar. Desse
total, R$ 8 bi vão para obras de infraestrutura. Em educação serão aplicados R$
459 milhões, pouco mais de 3% do total. Na saúde, 539 milhões, pouco menos de
4%. O secretário da Casa Civil, Nicola Miccione, diz que nos gastos com
infraestrutura constam obras em escolas e hospitais.
Olho no dinheiro 2
Caberão ao Rio, capital, R$ 4,2 bilhões.
Deste montante, R$ 3,7 bi já foram depositados. São Gonçalo terá R$ 1 bi, Duque
de Caxias, R$ 605 milhões e Nova Iguaçu, R$ 538 milhões. No total, 29
municípios que são atendidos pela Cedae receberão dinheiro da privatização. O
critério de distribuição atendeu a uma fórmula de lotes, onde alguns são mais
valiosos que outros. Por isso, o Rio recebe R$ 623 mil e São Gonçalo embolsa R$
931 mil por habitante. Trata-se, segundo o prefeito Eduardo Paes, do “princípio da solidariedade metropolitana”.
Saquarema, coitadinha, não mereceu tanta solidariedade e ganhou o equivalente a
apenas R$ 126 mil por habitante.
Vacinação no Rio
Ninguém consegue explicar por que o Rio não
se destaca no ranking de vacinação. No quadro geral, está mais de dez pontos percentuais atrás de
São Paulo. Entre as crianças, dá vexame. O estado diz que cumpre a sua parte, e
que cabe às prefeituras explicar. Os municípios não dizem nada. Apenas Eduardo
Paes se manifestou. Disse que deve ter errado na comunicação e anunciou que vai
estender tapete vermelho para a meninada nos postos de vacinação.
Canoa furada
Quem aposta que a ministra Tereza Cristina vai embarcar na canoa de Bolsonaro para a eleição de outubro? Ao que parece, a pressão do Centrão em favor do seu nome não avançará por falta de vontade da protagonista.
Um comentário:
São tantos os assuntos que eu nem sei o que comentar,rs.
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