É sabido que a política se assemelha a um
jogo de xadrez. O único prazo que os políticos respeitam é o prazo legal. Antes
a realidade fica povoada de balões de ensaios, blefes, dissimulações, factoides.
Em março, três prazos legais impactarão a armação do tabuleiro.
O primeiro é o da chamada janela partidária. Os 35 partidos políticos brasileiros existentes, com raras exceções, não primam pela consistência programática e ideológica e pela coerência política. A fidelidade partidária é baixa. A janela permite ao parlamentar mudar de partido sem perder o mandato. É de se prever uma verdadeira revoada de deputados. Isso mexerá com a correlação de forças.
O segundo prazo fatal é o das
desincompatibilizações de prefeitos, governadores, ministros e secretários que
querem se candidatar. Até 2 de abril, teremos a noção exata de quem estava
blefando ou reavaliou a situação e quem é candidato para valer.
O terceiro é o prazo para a consolidação
das federações partidárias, novo instituto criado pela última reforma política.
As federações, ao contrário das simples coligações, não são como um namoro de
carnaval, são noivados sérios com intenção de casamento, ou seja, um verdadeiro
ensaio para uma futura fusão. Os partidos federados terão que se comportar no
Congresso Nacional e nas eleições de 2022 e 2024 como se um único partido
fossem, pelos próximos quatro anos.
O desafio essencial das eleições de 2022
será o fortalecimento da democracia brasileira e da ideia de liberdade política.
Isto porque a democracia no país tem sido colocada em risco.
Polarização sempre houve. A oposição de
Carlos Lacerda a Vargas e JK foi implacável. Os embates entre Arena e MDB
durante o regime autoritário eram duros. Mas nada parecido com o atual clima
que envolve radicalismo digital, “lacrações”, fake news, desrespeito exacerbado
aos adversários, incitação à violência.
Casos recentes como a agressiva e infantil
ameaça de líderes do MBL, que com um humor, desqualificado e sem graça,
ameaçaram treinar seus militantes para matar “democratas”, personalizados no
excelente jornalista Pedro Dória, na pesquisadora Michele Prado e admirável ex-senador
Cristovam Buarque são um verdadeiro e inaceitável absurdo.
Também a polêmica envolvendo o Flow
Podcast, um dos dez maiores podcasts do Brasil, com 4 milhões de inscritos no
YouTube, onde o apresentador Monark defendeu a existência de um partido nazista,
levantou o protesto da comunidade judaica, provocou o cancelamento de
patrocínios e configurou crime previsto no código penal brasileiro. Diga-se de
passagem, que Bruno Aiub, o Monark, não é um neonazista, mas em sua visão
ingênua anarquista defendeu o direito democrático a segmentos que querem
destruir a democracia.
Excessos à parte, por fanatismo ou
imaturidade, temos que defender os fundamentos da democracia que começam pelo
reconhecimento da legitimidade dos adversários e pela defesa do diálogo na
construção de soluções.
Fora isso, é esperar as águas de março irrigarem
o amadurecimento do quadro político em ambiente tão conturbado.
*Marcus Pestana, Presidente do Conselho Curador ITV – Instituto Teotônio Vilela (PSDB)
Um comentário:
Pensei que fosse falar sobre música...
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