Josué Gomes defende que entidade tenha postura apartidária
Daniele Madureira / Folha de
S. Paulo
SÃO PAULO - O novo
presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué
Gomes, criticou o governo Jair Bolsonaro (PL) e defendeu que a entidade
tenha uma posição apartidária neste ano eleitoral.
A postura contrasta
com a de seu antecessor, Paulo Skaf —que, entre outras ações,
encabeçou a campanha
"não vou pagar o pato", que culminou na adesão da entidade à
campanha pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, além de ter declarado
publicamente apoio a Bolsonaro.
Já Josué, em conversa com jornalistas nesta
quinta (17), afirmou que o presidente será lembrado pelos livros de história
como um governo que produziu múltiplos ataques às instituições —às urnas, à
vacina, à imprensa.
"Mas, se ele eventualmente se eleger,
torço para que ele faça diferente", complementou.
Filho do ex-vice-presidente José Alencar,
que esteve ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos seus dois
mandatos (entre os anos de 2003 e 2010), Josué também diz que não
vai adotar na Fiesp qualquer direcionamento político, e que teve o cuidado
de se desfiliar do seu partido, o PMDB, no final do ano passado, antes de
assumir o seu mandato, que se encerra em dezembro de 2025.
Questionado se tem simpatia pela
candidatura de Lula, o empresário, dono da indústria têxtil Coteminas,
esquivou-se.
"Eu não contribuo em nada dando minha
opinião pessoal sobre quem eu prefiro [como candidato à Presidência da
República], isso não tem nenhum impacto na minha condição como presidente da
Fiesp", diz ele, que já foi apontado nos bastidores como possível
vice-presidente de Lula ou até mesmo como o virtual ministro da Economia do
petista.
"Alguns acham que, por ter sido candidato ao Senado por Minas Gerais [em 2014, quando perdeu a disputa para o ex-governador Antonio Anastasia, do PSDB], que eu sou político", disse. Segundo ele, a votação que obteve –ficou em segundo na disputa, com 40,2%, contra 56,7% de Anastasia– se deveu à força do nome do pai.
"Não sou candidato nem à reeleição na
Fiesp, nem a um cargo público nesses próximos quatro anos", afirmou,
defendendo, inclusive, um mandato menor do que quatro anos para a presidência
da entidade.
Acerca da instabilidade econômica em ano
eleitoral, uma vez que empresários
falam abertamente sobre ter "um plano Lula e outro Bolsonaro" para
2023, dependendo de quem ganhe as eleições, Josué diz que os temores não
fazem sentido.
"O empresário não tem que ter medo de
quem vai ganhar a eleição. É preciso confiar na capacidade de escolha do povo
brasileiro. O país não vai acabar, vai continuar", diz ele. "As
instituições no Brasil são fortes, mesmo que estejam sob ataque."
Ele também classificou como barbaridade o
Brasil perder protagonismo mundial na temática de economia verde e disse que
"o Brasil parou de pensar, de ousar, e se habitou à mediocridade".
Segundo ele, a prioridade da Fiesp sob a
nova gestão é o apoio à educação, uma "emergência nacional".
Outras metas são ajudar as 40 mil pequenas
e médias indústrias paulistas a aumentarem a sua produtividade e chegarem ao
grau de digitalização, apoiá-las na inovação, e aumentar as exportações de
produtos de maior valor agregado, com foco na descarbonização.
A entidade, que reúne atualmente 130
sindicatos do setor industrial —30% do PIB (Produto Interno Bruto) industrial—,
pretende buscar sistemas de financiamento para permitir que as empresas possam
aumentar o seu ganho de produtividade entre 20% e 30%, e com isso bancar o
investimento.
"Essas linhas já existem, estão
disponíveis. O empresário, coitado, está sem tempo de buscá-las. Está vendendo
o almoço, para comprar a janta", afirma.
'COM CARGA TRIBUTÁRIA MENOR, FORD TERIA
FICADO NO PAÍS'
Para Josué, a expressão "política
industrial" já foi muito criticada como sinônimo de protecionismo, mas os
empresários não querem isso. "Não é fechamento de mercado ou subsídio. Mas
sim um direcionamento do estado para as políticas que fazem sentido, com um
estado planejador", diz.
Ele dá como exemplo o setor automobilístico
que, há dez anos, produzia 3,8 milhões de veículos. Agora, a projeção da
indústria para 2035 é 4,2 milhões de unidades. "Serão 25 anos sem crescer.
Como aceitar isso?", questiona, lembrando o alto peso da carga tributária
sobre o automóvel.
"Se em vez de oferecer incentivo, o
governo tivesse baixado a carga tributária para todo o setor automobilístico, talvez
a Ford ainda estivesse aí".
Josué Gomes diz que já está discutindo a
questão da reforma tributária com o ministro da Economia, Paulo Guedes, mas
acredita que a mudança não sai nos próximos meses.
Isso porque não existe consenso de
propostas nem mesmo entre os empresários. "A gente não pode diminuir a
carga tributária da indústria, aumentando a de outro segmento", diz.
"O caminho é reduzir a alíquota, para
promover um aumento da arrecadação. Temos que convencer a Faria Lima de que
isso é possível", diz, referindo-se ao centro do mercado financeiro do
país.
De acordo com o executivo, a economista
Vanessa Rahal Canado foi contratada como consultora para ajudar a estruturar um
consenso de reforma tributária entre os empresários.
"Me parece que a melhor opção [de
reforma de tributária] é a adoção do IVA [Imposto sobre Valor Agregado], que
todo mundo usa. O que eu não sei se vai funcionar é um IVA com uma única
alíquota, que aumente muito a carga tributária do agronegócio, da construção,
para diminuir a da indústria. O estado tem que calibrar a alíquota para baixo.
Isso vai provocar o aumento da atividade econômica e da arrecadação."
Segundo ele, Paulo Guedes está defendendo o
rebaixamento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). "É o melhor
caminho? Não necessariamente. Mas eu aprovo. Se houver rebaixe do IPI, o
imposto deveria ser eliminado logo."
A reforma tributária é o foco do maior
diálogo com o governo federal, mas Josué também defende a reforma
administrativa que, segundo ele, não saiu até agora porque "o governo não
quer".
Um comentário:
Nem sei se meus comentários estão sendo postados,rs.
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