Folha de S. Paulo
Achar que Bolton, Trump, Bolsonaro, Lava
Jato, Moro, Dallagnol formam mera teoria da conspiração, é coisa de impostor
O apoio majoritário do eleitorado é pouco
para garantir a vitória. A Constituição o dá como a condição decisiva, mas sua
força moral e jurídica é muito inferior à de seus inimigos, baseada nos fatores
opostos.
Artifícios e artimanhas ilegítimas no
processo eleitoral, quando não criminais, têm sido a sina latino-americana.
Exceto quanto a 64,
no Brasil há pouco interesse pelo conhecimento desse submundo,
com revelações apenas esparsas e quase todas casuais. Em maior número, talvez,
vindas do exterior.
A eleição
lavajatista de 2018, cujos fatores decisivos são conhecidos só
na superfície mais grosseira, recebeu agora uma inconfidência sugestiva.
Ex-conselheiro de Segurança Nacional de
Trump, John Bolton fortaleceu
sua crítica ao golpe trumpista com este argumento: fala "como alguém que já ajudou
a planejar golpes de estado, não aqui, mas, você sabe, em outros lugares".
Nos 17 meses que antecederam a demissão de
Bolton por Trump, em 10 de setembro de 2019, houve duas articulações
golpistas contra processos eleitorais para presidências latino-americanas.
A partir da conclusão de observadores da OEA, a reeleição do índio Evo Morales na Bolívia foi dada como fraudulenta, e ele decidiu renunciar em 10 de novembro de 2019. Aguentara três meses de fortes manifestações, que vinham de antes da eleição (13 de outubro de 2019) já com a acusação de fraude —como no Brasil de 2018, como nos EUA de 2020. Não por táticas isoladas, claro.
Houve inúmeras denúncias de interferência
americana na conturbação do país, ainda com Bolton como operador da
"segurança externa" dos EUA. Os indícios incitaram a ONU e duas
universidades americanas (uma delas, Harvard) a investigações
próprias sobre a fraude acusada.
Resultado unânime: eleição sem fraude,
vitória limpa de Evo no primeiro turno. Fraudulenta foi a OEA, tão integrante
dos domínios americanos quanto o Havaí ou o Alasca. Secretário-geral da
entidade, Luis Almagro articulou a alegada observação e as conclusões golpistas
da OEA.
(Aqui, o TSE tem sido infeliz em convites
recentes. Além da gentileza ao Exército, que virou
oportunidade de golpismo, convidou a
OEA para observadora. E quem observará os observadores da OEA de
Luis Almagro, ainda em ação?)
John Bolton foi o primeiro emissário
mandado a Bolsonaro. Caso de urgência: veio ainda
antes da posse. Em 29 de novembro de 2018, os dois se trancaram a
chave em um quarto da casa de Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barras.
Presença a mais, só o tradutor. Segredo absoluto, nenhuma informação dos
interlocutores nem sobre algum tema, até hoje nenhum vazamento.
Na contramão de Bolton foram as repentinas
viagens de Sergio Moro aos EUA, em plena atividade da Lava Jato e sem mais do
que pretextos ralos, nem estes ligados ao passos mais ou menos públicos da
operação.
Bolton esteve na ativa externa da
"segurança" por todo o ápice da Lava Jato, a atividade em 2018 para
deixar o caminho livre a Bolsonaro.
Ano, também, em que funcionários americanos
se instalaram aqui a título de colaborar com
a Lava Jato. Descobertos, foram dados como procuradores e
promotores. Ao menos 16. Nenhum se confessou do FBI ou da CIA. Nos inquéritos
da Lava Jato não havia negócios com o governo americano.
A ida de Sergio Moro para os EUA, sob
pretensa ligação societária a um escritório que lida com intimidades sigilosas
de grandes empresas, não é fato isolado. No mínimo, decorreu da Lava Jato.
E tem particularidades. Entre ida e volta,
Moro não teve tempo sequer de se adaptar: precisaria conhecer, entre outros
fundamentos, o Direito Comercial americano, a jurisprudência específica e mais
as técnicas correlatas. Apesar disso, em meia dúzia de meses voltou com milhões
para uma pretendida candidatura à Presidência, já declarada contrária a
políticas progressistas.
Achar que John Bolton, alegados
procuradores e promotores americanos, Trump, Bolsonaro, Lava Jato e
trapaças judiciais, juiz declarado
"sem imparcialidade e suspeito", Sergio Moro e Deltan
Dallagnol, se vistos como partes de um conjunto, formam mera teoria da
conspiração, é coisa de impostor ou merece perdão.
Se for professor ou jornalista a invocá-la, é impostor porque não conhece nem o seu tempo, nem a história que trouxe a ele. Os outros, como se deve conceder à ignorância involuntária, levam o perdão por pena.
2 comentários:
Delírios!
Tudo a ver com Trump, afinal quem confia nesse círculo cá A Lava Jato faltou experiência r sobrou empolgação, principalmente do Procurador Dalag. Esse era muito ridiculo. Parceiros dos americanos? De
Jeito algum, não envolveriam com gente sem know how desse jeito.
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