Correio Braziliense
Nos
bastidores, há relatos de que emendas bilionárias são oferecidas a candidatos
para que retirem candidaturas majoritárias e a lideranças de partidos para que
façam coligações
O Congresso aprovou, ontem, a Lei
Orçamentária de 2023, com a manutenção da regra que mantém o chamado “orçamento
secreto”, um conjunto de emendas negociadas entre os parlamentares e o relator
do Orçamento da União sem que os responsáveis pela sua indicação sejam
revelados. O relator da Lei Orçamentária, senador Marcos Do Val (Podemos-ES),
retirou do texto o caráter impositivo das emendas e criou um mecanismo para que
os autores secretos das emendas possam remanejá-las sem que seus nomes,
destinação e valor sejam revelados. A nova lei também aumenta o poder do presidente
da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre a distribuição desses recursos entre os
deputados. No Senado, acontece a mesma coisa com o presidente da Casa, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG).
Neste ano, o montante do “orçamento
secreto” chega a R$ 16 bilhões, que estão sendo controlados pelo Centrão e são
utilizados como moeda de troca nos arranjos eleitorais regionais. Nos
bastidores, há relatos de que emendas bilionárias são oferecidas a candidatos
para que retirem candidaturas majoritárias e a lideranças de partidos para que
façam coligações. Os líderes de bancada que dão sustentação a Lira aproveitam
as emendas para aumentar o controle sobre suas bancadas e a sua própria
influência nos respectivos partidos.
As emendas do relator previstas para o Orçamento de 2023, cujo montante chega a R$ 19 bilhões, já são moeda de troca na eleição da nova Mesa da Câmara, na próxima legislatura. Lira se movimenta como candidato à reeleição em 2023; o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, como bom mineiro, ainda não abriu o jogo. No momento, as emendas do relator são uma dor de cabeça para o senador mineiro, por causa de um “sincericídio” do senador Do Val, que admitiu ter recebido R$ 50 milhões em emendas, que destinou ao seu estado, por ter votado a favor da eleição de Pacheco, por influência do ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (União Brasil).
A oposição tentou impedir a aprovação da
medida, por considerar que o texto amplia o sigilo do “orçamento secreto”.
Votaram contra a pedida 110 deputados de PT, PSB, PCdoB, PSol, Rede e Novo. Em
2020 e 2021, apenas 1,8% de todo o recurso destinado às emendas de relator foi
de autoria da oposição.
O “orçamento secreto” desequilibra o jogo
entre o Centrão e a oposição, que acaba isolada, porque os recursos estão sendo
diretamente destinados às bases eleitorais dos parlamentares que fizeram as
indicações. É um mecanismo de blindagem para quem já tem mandato, contra os
pretendentes de seus próprios partidos que não controlam esses recursos, na
negociação do apoio de prefeitos, vereadores e deputados estaduais. Do ponto de
vista da legislação eleitoral, é uma excrescência, porque significa a volta ao
clientelismo, quiçá à formação de caixa dois eleitoral.
Fundo
eleitoral
Esse desequilíbrio é ainda maior porque o
fundo eleitoral somente começará a ser distribuído quando tiver início a
campanha eleitoral oficialmente. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por meio
da Portaria nº 579/2022, determinou o valor a que cada partido político terá
direito na distribuição dos R$ 4,9 bilhões do Fundo Especial de Financiamento
de Campanha (FEFC). É a maior soma de recursos já destinada ao Fundo desde a
criação, em 2017, e foi distribuído entre os 32 partidos políticos registrados
no TSE com base em critérios específicos. O Partido Novo (Novo) renunciou ao repasse
dos valores, sua cota será revertida ao Tesouro Nacional.
O União Brasil, resultante da fusão do
Democratas (DEM) com o Partido Social Liberal (PSL), receberá o maior montante,
com mais de R$ 782 milhões. Em seguida, estão o Partido dos Trabalhadores (PT),
com pouco mais de R$ 503 milhões; o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), com
R$ 363 milhões; o Partido Social Democrático (PSD), com R$ 349 milhões; e o
Progressistas, com aproximadamente R$ 344 milhões. Juntas, essas cinco legendas
respondem por 47,24% dos recursos distribuídos.
Os recursos do Fundo Eleitoral ficarão à
disposição do partido político somente depois de a sigla definir critérios para
a distribuição dos valores. Esses critérios devem ser aprovados pela maioria
absoluta dos membros do órgão de direção executiva nacional e precisam ser
divulgados publicamente. As federações partidárias são tratadas como um só
partido também no que diz respeito ao repasse e à gestão dos recursos públicos
destinados ao financiamento das campanhas eleitorais.
Três federações partidárias estão aptas a participar das eleições gerais de outubro: Federação PSDB Cidadania, integrada pelo Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB) e pelo Cidadania; Federação PSol Rede, que reúne o Partido Socialismo e Liberdade (PSol) e a Rede Sustentabilidade; e Federação Brasil da Esperança (FE Brasil), integrada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Partido Verde (PV)
Um comentário:
Não há política com P maiúsculo no Brasil,o que há é jogo de interesse.
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