O Globo
Zema descolou do capitão e viu-se vacinado
Começou ontem a campanha eleitoral. Serão
dias de tensão, sobretudo porque a pesquisa do Ipec (ex-Ibope) trouxe más
notícias para Bolsonaro. A pior veio de Minas Gerais. O governador Romeu Zema,
ostensivamente descolado do presidente, tem 40% das preferências, ante 22% de
Alexandre Kalil, apoiado por Lula.
O prefixo “Bolso”, que já foi alavanca,
parece ter se tornado um fardo. Isso foi percebido por candidatos que, mesmo
tendo o apoio do capitão, evitam ser confundidos com ele.
No Rio, o governador Cláudio Castro (21%) está tecnicamente empatado com Marcelo Freixo (17%). O mesmo acontece no estado no confronto de Lula (35%) com Bolsonaro (33%). Lá, há quatro anos o capitão fez cabelo, barba e bigode. Elegeu um juiz de pouca fama e nenhum futuro. Conseguiu 4,4 milhões de votos para seu filho Flávio.
Eleição, como a Copa do Mundo, só começa
quando a bola começa a rolar. Se a última pesquisa do Datafolha deu alento a
Bolsonaro, a do Ipec foi um copo de água fria no clima de otimismo que corria
no Planalto na semana passada.
A onda bolsonarista de 2018 parece coisa
passada. O presidente perdeu seu maior aliado: o sentimento anti-PT. Ele
persiste, enfraquecido. Hoje vem acompanhado pela rejeição ao próprio
Bolsonaro. Ela está em 46%, enquanto a de Lula ficou em 33%. A conjunção desses
dois fatores leva Lula, com 44%, a entrar como favorito sobre Bolsonaro (32%).
Os palacianos da semana passada garantiam que Bolsonaro cresceria, e o ministro
Paulo Guedes informava ao andar de cima que há um arsenal de bombas contra
Lula.
Resta ao presidente confiar na sua
capacidade demolidora. O maior demolidor da política brasileira foi Carlos
Lacerda. No século passado ele destruiu dois presidentes, Getúlio Vargas em
1954 e João Goulart em 1964. Nos dois casos jogava com o uniforme da oposição.
Em 1965, quando seu governo foi para a frigideira, os eleitores fritaram seu
candidato. Registre-se que Lacerda foi um governador estelar. Demolição é uma
arma que favorece a turma do contra. Vinda da situação, confunde-se com
baixaria. Além disso, em décadas de atividade parlamentar, Bolsonaro foi mais
um provocador que um demolidor.
A oposição a Bolsonaro tem sido criativa e
eficaz pregando aos convertidos. A carta pela democracia lida no cenário da
Faculdade de Direito da USP foi comovente, mas é sempre bom lembrar que as
Arcadas que tiveram Jaquim Nabuco e Castro Alves como alunos tiveram também,
como diretores, os professores Luiz Antonio da Gama e Silva e Alfredo Buzaid.
Um redigiu o Ato Institucional nº 5. O outro lhe sucedeu no Ministério da
Justiça, com idêntico ardor.
Duas coisas são certas: se Bolsonaro
continuar montado no discurso contra as urnas eletrônicas, congelará a
fotografia das pesquisas de hoje. Do outro lado do balcão, seus adversários
festejam que o Auxílio Brasil não fez efeito. Pudera, pois o dinheiro ainda não
entrou no bolso dos cidadãos que viram o governo chamar a Covid-19 de
“gripezinha”. Algum efeito terá, a dúvida fica na avaliação do tamanho.
Amanhã tem Datafolha, com resultados que permitem a visualização das curvas dos candidatos.
2 comentários:
A pesquisa do IPEC (Lula = 44 x Bolsonaro = 32) foi um tonel de água fria na campanha do genocida! A rejeição ao miliciano é imensa! Ninguém ganha eleição com tanta rejeição! Seus cúmplices nos estados já sabem disto e não querem muita proximidade com um candidato tão mal avaliado... Os muitos crimes de Bolsonaro vão decidir esta eleição! Os ataques às urnas eletrônicas e ao TSE só mostram o DESESPERO do canalha!
Cada voto é importante nesta luta.
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