quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Vera Magalhães - Quando a História desmente a narrativa

O Globo

Tendência do presidente é subir o tom de novo, tanto no ataque às urnas quanto em novas medidas para tentar se viabilizar eleitoralmente

O pessoal da contenção de danos que Jair Bolsonaro pode causar à própria candidatura tentou colocar de pé nas últimas semanas uma narrativa heroica. De acordo com ela, um presidente sensível aos problemas de seu povo começaria a ser reconhecido pelo eleitor pela generosidade na concessão de benesses e pela melhora na economia.

Concomitantemente, esse presidente, por vezes incompreendido por seus “arroubos retóricos”, se moderaria (de novo) e fecharia um “acordo” com a Justiça Eleitoral, que acataria algumas das sugestões dadas de boa-fé por ele e pelas Forças Armadas para aprimoramento do processo eleitoral.

O tal “acordo” passaria por uma inflexão do novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, a quem Bolsonaro, vejam só, até presenteou com uma camisa do Corinthians, na maior amizade.

Faz tempo que uma eleição não vê uma profusão do que chamamos no jargão jornalístico de “spin doctors” como esta. São aquelas fontes cuja especialidade é vender a nós, jornalistas, em off, versões convenientes, pouco importando que sobrevivam a ser cotejadas com os fatos ou com a história recente.

A versão do Bolsonaro moderado já foi testada e frustrada em episódios anteriores, o mais notável deles o pós-Sete de Setembro do ano passado, em que ele usou o antecessor, Michel Temer, como emissário de um tratado de paz com Moraes nunca cumprido.

O que tornaria crível a ideia segundo a qual o novo presidente do TSE, que tem sido linha-dura contra fake news, discursos de ódio e outras práticas incentivadas pelo presidente não só no âmbito eleitoral, mas também no Supremo Tribunal Federal (STF), cederia justo agora?

Aceitar algumas “sugestões” das Forças Armadas significaria enfraquecer a Justiça Eleitoral ainda mais do que o convite para que os militares passassem a se imiscuir nesse assunto que não lhes diz respeito já enfraqueceu.

A posse de Moraes na presidência do TSE foi o mais robusto ato de reação das instituições aos ataques de Bolsonaro à democracia. O discurso duríssimo de Moraes constrangeu o presidente diante de todas as autoridades da República, de quatro ex-presidentes, dos principais candidatos e de 22 governadores, entre outras autoridades.

A ida de Bolsonaro à posse nesta terça-feira foi inserida nesse roteiro de mostrar um presidente mais propenso a aceitar as regras do jogo eleitoral.

No fim, Bolsonaro foi espectador de um ato que foi a antítese e o antídoto daquela solenidade que ele próprio promoveu para vender mentiras e pregar contra o processo eleitoral diante dos mesmos embaixadores que lotaram a plateia do TSE ontem. Uma resposta que Bolsonaro jamais imaginaria.

 

 

6 fotos

Essa não foi a única frente em que o “renascimento” da campanha de Bolsonaro, simbolizado também pela ida a Juiz de Fora, palco da facada de 2018, foi malogrado.

A pesquisa Ipec revelou que a abertura da caixa de ferramentas de medidas populistas, até aqui, não se mostrou suficiente para alavancar a candidatura do presidente.

Significa que Bolsonaro esteja morto e que não crescerá mais? De jeito algum, mas a intenção desta semana que abre oficialmente a campanha era virar duas páginas de uma vez: as tretas institucionais e a larga vantagem de Lula nas pesquisas. Não deu certo.

A tendência de Bolsonaro, diante desse duplo revés, é subir o tom de novo, tanto no ataque às urnas quanto em novas medidas tiradas da cartola para tentar se viabilizar eleitoralmente.

Aliás, ele nunca chegou nem a fingir que desistiu: ontem mesmo voltou a convocar seus apoiadores para o 7 de Setembro. Tudo como dantes no quartel de Abrantes, para desespero dos que tentam vender terrenos na Lua e um inexistente Bolsonaro paz e amor. Mas o TSE, viu-se ontem, está preparado para a guerra.

 

5 comentários:

Anônimo disse...

Bolsonaro jamais esquecerá a rejeição unânime que teve pelos que discursaram na solenidade de ontem! Todos desmentiram a pregação golpista e antidemocrática que o candidato das milícias tem espalhado pelo Brasil. A candidatura do genocida já está naufragando...

Anônimo disse...

A ter como termômetro de rejeição, ontem a turma do elenco no do filme o pastor e o guerrilheiro, no Festival de gramados de cinema, tomou uma sonora vaia quando estrava e cantava a musiquinha , olê olê olá Lula lula, ainda por cima houve um coro ensurdecedor de mito, mito, mito! mito!
O pessoal do filme não sabia onde enfiar a cara, um constrangimento geral
Deu dó , mas também provocaram,,,

Anônimo disse...

Kkkkkkkkkka! Não tivemos nada a ver com o empeashement da Dilma muito menos com os roubos na PETROBRAS E NUNCA POSTEI FAKE NEWS... O que sei agora é que Paulo Guedes e o empréstimo consignado aos beneficiários do "Auxílio Brasil" vai levar perto de 20 milhões de pessoas a forca se Bolsonaro perder.

Anônimo disse...

Paulo dos Santos Andion

ADEMAR AMANCIO disse...

Tudo pode acontecer,desejo paz e saúde a todos!