O Globo
Geraldo Alckmin elegeu-se vice-presidente
da República, e Fernando Haddad, derrotado nas três últimas eleições que
disputou, é uma estrela do firmamento petista. No grande elenco da equipe de
transição, circula a proposta da instituição de um regime de Tarifa Zero nos
transportes públicos. Nas palavras do deputado Jilmar Tatto (PT-SP),
ex-secretário municipal de Transportes de São Paulo:
— O presidente Lula pode dar apoio a essa
ideia. Joguei o tema para ser debatido no grupo de trabalho das cidades. Meu
papel é ajudar a convencê-lo da necessidade do direito de ir e vir. Assim como
a população tem acesso à saúde gratuita e universal, acesso à educação, precisa
ter acesso ao transporte.
Noves fora a mistura de saúde com transporte, a ideia é interessante. Mais de 40 cidades (a maioria pequenas) já a adotaram, com sucesso. Nas últimas décadas, o modelo de negócio dos transportes urbanos sofreu poucas alterações e, do nada, surge a surpreendente informação de que a Tarifa Zero tem o apoio de destacados empresários desse setor cravejado por malfeitorias. Vá lá. Com a Viúva bancando os custos dos transportes urbanos, só Deus sabe o que acontecerá com a gestão dessas arcas.
Por ser um problema de gestão municipal,
Tatto, Haddad e Alckmin deveriam ficar a quilômetros desse debate.
Em 2013, quando a garotada do Movimento
Passe Livre protestava contra um aumento das tarifas de ônibus, o que eles
fizeram?
Tatto, nada. Haddad foi severo na defesa do
aumento, já que sua acrobacia tributária viu-se rejeitada pelo governo de Dilma
Rousseff. Alckmin entregou a gestão das manifestações à Polícia Militar.
Com esse modelo de gestão, apesar dos
protestos nas ruas, Alckmin e Haddad foram para Paris com uma agenda de
trabalho para trazer à cidade um evento internacional. Numa das noites
parisienses, a dupla subiu num palco e cantou “Trem das onze”, de Adoniran
Barbosa. Dias depois a PM investiu, sem motivo nem propósito, contra uma
passeata ordeira. Na esquina da Rua Maria Antônia com a Consolação, a tropa de
choque desceu com bombas de gás e estrépito.
A violência potencializou os protestos.
Tirou da garrafa o gênio das passeatas que, três anos depois, dariam base
popular à deposição de Dilma Rousseff.
Alckmin e Haddad geriram o problema dos
protestos contra o aumento das tarifas com arrogante insolência e deu no que
deu. Passaram nove anos, e a ideia da Tarifa Zero surge num governo em que
Alckmin e Haddad são estrelas. Em 2013 a garotada da Tarifa Zero era demonizada
por vândala e lunática. Vale repetir que, na esquina da Maria Antônia com a
Consolação, vândala foi a PM. Coisa de quem acredita que caneta e cassetete
resolvem qualquer questão.
Uma Tarifa Zero decidida com canetadas de
Brasília é coisa de megalomaníaco lunático. O sistema de transportes de uma
pequena cidade nada tem a ver com o de uma metrópole. Além disso, a rede de São
Paulo não pode ser comparada com a pantanosa tragédia que existe no Rio. Para
os megalôs lunáticos, cria-se o transporte gratuito num momento de estranha
conveniência dos empresários. Tudo bem.
O que se fará quando os contratos não forem
honrados (como no Rio), ocorrendo a deterioração dos serviços e incêndios de
ônibus?
Canta-se “Trem das onze” em Paris e deixa-se o choque da PM cuidar do caso.
3 comentários:
Excelente !
Vira e mexe e Elio Gaspari repete seu comportamento de Paquita de desastres...
Nihil novum sub sole
Lembro bem das passeatas de 2013,deu no que deu.
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