quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

William Waack - Ao sabor das circunstâncias

O Estado de S. Paulo.

Exércitos refletem as respectivas sociedades

Não há nada de original acontecendo com as Forças Armadas brasileiras. Vale lembrar o que escreveu em 1921 o fundador do Exército Vermelho, Leon Trotsky, intelectual que virou comissário da Guerra na revolução bolchevista: “Todos sabemos que um exército não é algo externo a uma sociedade dada, mas reflete todos os seus aspectos, tanto os fracos quanto os fortes”.

Os eventos em torno do 8 de janeiro são parte de um aspecto mais abrangente, o de que indivíduos conduzindo instituições mergulhadas na luta política acabam atuando ao sabor das circunstâncias. É o que vale também para o STF (e o TSE): vendo-se num confronto “existencial”, pois enxergavam (com razão) no bolsonarismo a intenção de destruí-los, tribunais superiores engalfinharam-se na luta política de curtíssimo prazo, ainda que ministros digam que só obedeciam a “princípios jurídicos”.

O que levou ao engajamento político do Exército especialmente a partir de 2018 (ainda antes das eleições) não era o intuito de “tutelar” a Nação. Mas, sim, a noção entre seus principais comandantes de que o tecido social se esgarçava perigosamente em função da corrupção dos dirigentes políticos, da disfuncionalidade e da baixa representatividade do sistema político – sem que os militares tivessem nem sequer o contingente necessário para eventualmente garantir lei e ordem.

Nesse sentido, Jair Bolsonaro não foi uma escolha mas uma circunstância considerada então “fortuita” pelos comandantes militares para estabilizar o País que, na visão deles, estava à mercê de decisões monocráticas do Judiciário e à beira do caos (greves de caminhoneiros e PMS), e vivendo a indignação causada pelos escândalos de corrupção dos governos petistas. Não foi à toa que às vésperas do pleito de 2018 o então chefe de Estado-maior do Exército virou assessor do presidente do STF.

Mas todo mergulho no redemoinho político é incontrolável e o das Forças Armadas trouxe para elas duas graves consequências: a corrosão da disciplina e hierarquia promovida por um ex-capitão que via no caos suas melhores chances políticas. Com danos inevitáveis à própria imagem, pois a credibilidade reconquistada a partir de 1985 baseava-se numa percepção de “neutralidade” institucional das Forças Armadas que o “fortuito” Bolsonaro arrasou.

A tal “volta à normalidade” e “pacificação” se dão agora num ambiente no qual se reitera o respeito às instituições, o que pressupõe o controle civil sobre os militares – mas sem que se enxergue em Lula a autoridade proporcionada por uma efetiva liderança nacional. Trabalha-se para juntar cacos e superar a desconfiança mútua. Vai depender das circunstâncias.

4 comentários:

Anônimo disse...

"O que levou ao engajamento político do Exército especialmente a partir de 2018 (ainda antes das eleições) não era o intuito de “tutelar” a Nação. Mas, sim, a noção entre seus principais comandantes de que o tecido social se esgarçava perigosamente em função da corrupção dos dirigentes políticos, da disfuncionalidade e da baixa representatividade do sistema político..."

Waack, tenha certeza q vc superestima o EB. Mourão ou o genocida não têm essa capacidade; nem sequer conseguem manifestar adequadamente suas opiniões. O bozo tem orgulho de nunca ler livros.
O exonerado general Arruda ou o Cid não têm intelecto ou formação pra sequer entender o q vc diz.

Eles simplesmente agem pelo efeito manada, pela doutrina ultrapassada q lhes ensinam em suas academias e, num traço característico da humanidade, atuam pela sede insaciável de mandar - ah, o prazer inebriante do poder.

Anônimo disse...

De qualquer forma, se o objetivo do EB era atuar CONTRA o "esgarçamento do tecido social" brasileiro, percebe-se, nitidamente, q falhou: nossa sociedade está dividida como nunca.

A não ser, Waack, q o objetivo fosse dividir mesmo.

Anônimo disse...

Esse tema “corrupção” os petistas correm, o Genocidio na Ucrânia não incomoda essas figuras especialistas em julgar seletivamente. Poupem-nos dessa hipocrisia, sim? Isso eles aprenderam com o Lula, para ele o problema é o Zelesky ser ator, o Putin, ex chofer de Táxi é outra coisa . Exquisito essa seletividade num partido denominado de Trabalhadores, não? E quanto ao Genocidio com os índios é uma coisa horrível, concordo, e horrível mesmo, mas enquanto isso os bebês são assassinatos na Ucrânia e a população ameaçada de sumir da face da terra por ataques nucleares, nem uma palavra de solidariedade aos Ucranianos? Deveria incomodar igualmente, por que a seletividade? Não é injusto? A injustiça é um crime também diz Lula pelo fato de ter sido preso por corrupção injustamente. Essa hipocrisia é realmente muito feia.

ADEMAR AMANCIO disse...

Ninguém agrada todo mundo,perfeito só Deus.