Líder do governo afirma que Banco Central deve dialogar com Fazenda e considerar estabilidade social
Bruno Boghossian, Thaísa Oliveira / Folha
de S. Paulo
BRASÍLIA - O líder do governo
no Senado, Jaques Wagner
(PT-BA), diz que as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva à taxa de juros do país refletem o que pensa a maioria da
população. Ele afirma, porém, que o governo não vai interferir na autonomia
do BC
(Banco Central).
"O presidente está dizendo o que a
maioria dos brasileiros acha: os juros no Brasil, do jeito que estão, são
inibidores de investimento produtivo, de geração de emprego", declarou o
senador à Folha.
Há semanas, Lula vem criticando a atuação
do BC na definição dos juros. Nesta segunda-feira (6), ele disse que o patamar
atual da taxa "é
uma vergonha".
As declarações de Lula geraram desconfiança
sobre o risco de pressões sobre o processo decisório do banco e de uma possível
mudança nas regras de autonomia. Segundo Wagner, o presidente não tem
planos de mexer no status do BC.
"Ele não pretende desrespeitar nem o
mandato, nem a autonomia do Banco Central. Não é esse o debate que está em
curso", afirmou.
Outros membros do governo já tentaram amenizar as falas de Lula, mas o presidente continua criticando a autarquia.
O líder do governo acrescentou que as
críticas do chefe do Executivo não deveriam ser interpretadas como uma forma de
pressão. "O presidente está externando a opinião dele. Não quer dizer que
ele espera uma consequência."
Wagner defendeu, no entanto, um
diálogo entre
o BC e o Ministério da Fazenda para a definição das políticas do
banco.
"É evidente que o ministro da Fazenda
[Fernando Haddad] vai dialogar o tempo todo com o presidente do Banco Central,
respeitada sua autonomia –o que não quer dizer que cada um está num mundo",
afirmou. "Ninguém resolve essas coisas só da sua própria cabeça."
O senador baiano defendeu que o BC leve em
conta fatores além da estabilidade monetária na hora de decidir a taxa de
juros.
"Os bancos centrais do mundo inteiro
estão repensando muita coisa. Muitos bancos centrais, além de se preocuparem
com a questão monetária, da inflação, estão preocupados também com a
estabilidade social", afirmou.
Lula e alguns ministros acusam o presidente
do Banco Central, Roberto Campos Neto, de ter traído a confiança do
governo, que contava com o órgão para superar os problemas econômicos atuais
sem passar por uma recessão, como
mostrou a coluna de Mônica Bergamo.
Na última quarta-feira (1º), o Copom (Comitê de
Política Monetária) manteve a taxa básica de
juros em 13,75% ao ano pela quarta reunião consecutiva –a primeira
desde que o presidente Lula tomou posse. A autoridade monetária também sinalizou
que deve deixar os juros no nível atual por mais tempo.
As críticas de Lula à condução do BC,
porém, têm ampliado
a expectativa de inflação e pressionado os juros, gerando um efeito contrário
ao pretendido pelo governo.
Em entrevista à Rede TV!, na semana
passada, o petista se referiu ao chefe do BC como "esse cidadão".
Campos Neto tem mandato na presidência do banco até 31 de dezembro de 2024.
Wagner negou que existam pressões pela
saída antecipada do chefe do BC. "Ele tem mandato, a gente não vai usurpar
o mandato dele. Na minha opinião, não tem sentido. Não vejo como atitude do
presidente romper com a legalidade que ele recebeu. Em algumas coisas, naquilo
que é direito dele, ele vai tentar trabalhar para mudar. Não vale a pena essa
briga."
O presidente do BC pode ser exonerado a
pedido ou se for condenado por improbidade administrativa ou por um crime cuja
pena proíba o acesso a cargos públicos. Também pode deixar o cargo quando
apresentar desempenho insuficiente para atingir os objetivos do BC. Neste caso,
quem decide é o presidente da República, com o aval do Senado em votação
secreta.
2 comentários:
O 'problema' econômico é o cara; não é a instituição
Bolsonaristas e lulistas não combinam,é feito fogo e gasolina.
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