domingo, 12 de fevereiro de 2023

Rolf Kuntz - Lula e as promessas sem plano

O Estado de S. Paulo

Comprometido com a reindustrialização, Alckmin foi o único membro do Executivo a apresentar, até agora, algo parecido com planejamento

Passado um mês e meio da posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua devendo um plano de governo – um roteiro para gerar crescimento econômico, ampliar o emprego e propiciar melhores perspectivas a milhões de famílias. Suas manifestações mais notáveis, até agora, foram o falatório contra os juros altos, o ataque à autonomia do Banco Central (BC) e a contraposição da responsabilidade social à responsabilidade fiscal. Além disso, houve a promessa de generosos financiamentos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como se crédito oficial barato bastasse para gerar prosperidade e modernização. O espetáculo pode ter entusiasmado o cercadinho petista, mas o público mais crítico tem reagido com poucos aplausos e algumas vaias. Os únicos sinais de planejamento partiram, por enquanto, do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o vice-presidente Geraldo Alckmin.

Estagnação e mediocridade compõem os cenários projetados, até agora, por economistas do mercado e de instituições multilaterais. A economia crescerá 0,79% em 2023 e 1,50% no próximo ano, segundo a pesquisa Focus divulgada na segunda-feira passada, 6 de fevereiro. Em sua atualização do panorama global, publicada no fim de janeiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) aponta para o Brasil uma expansão econômica de 1,2% em 2023, inferior à média estimada para os países emergentes e em desenvolvimento (3,9%) e bem abaixo, também, da projetada para o mundo rico 2,7%). Pelas contas do Banco Mundial, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve aumentar 0,8% neste ano e 2% no próximo.

O Brasil parece destinado, na maioria das projeções, a crescer no máximo 2% ao ano. Esse limite aparece há muito tempo nas estimativas do mercado e nos cenários das instituições internacionais. As explicações incluem, quase sempre, referências a investimento insuficiente, excesso de burocracia oficial, insegurança jurídica, formação deficiente de mão de obra, demasiado protecionismo e pouca integração nas cadeias globais de produção e comércio.

Todos esses fatores afetam, sem dúvida, o funcionamento da economia brasileira, mas seria preciso dar mais atenção à prolongada crise da indústria. Além de perder peso na formação do PIB, o setor industrial está emperrado há muitos anos. O quadro piorou de forma indisfarçável a partir dos mandatos da presidente Dilma Rousseff. A produção da indústria geral ainda cresceu 0,4% em 2011, início de seu governo, e o desastre se tornou evidente nos anos seguintes. O desempenho do setor industrial foi negativo em sete dos 12 anos contados no período de 2011-2022, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Celebra-se com frequência a consolidação da agropecuária como o setor mais eficiente, mais competitivo e mais firme da economia brasileira, mas o predomínio do setor rural é em parte explicável – e pouco se fala disso – pelo enfraquecimento da atividade industrial. Alguns segmentos e grupos da indústria mantiveramse prósperos, nesse período, e esse conjunto inclui as fábricas vinculadas ao agronegócio.

Durante décadas, a indústria liderou o crescimento e a modernização da economia brasileira. O setor poderia reassumir esse papel, voltando a destacar-se na geração de emprego produtivo e de qualidade, na absorção, produção e difusão de tecnologia e na inserção do País no mercado internacional de bens de alto valor agregado. Ao falar da reindustrialização, o ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin tem mencionado as várias dimensões dessa tarefa, incluída a reinserção no comércio global.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem lembrado a reação de seu governo à crise internacional de 2008. De fato, o Brasil enfrentou com sucesso a instabilidade financeira, naquele momento, e o passo inicial foi o estímulo proporcionado pelo BC, um detalhe esquecido, aparentemente, na recente fala presidencial. A liberação de recursos para investimento, com apoio do Tesouro, também foi importante, mas essa política, lançada no início de 2009 como ação emergencial, deveria ter sido encerrada no fim daquele ano. Mantida por vários anos, no entanto, resultou em desperdício, em distribuição de benefícios injustificáveis e em depredação das finanças públicas.

Se tiver aprendido algo útil com os erros petistas, o presidente Lula terá uma boa chance de iniciar uma política eficiente de reindustrialização, de modernização produtiva e de retomada do desenvolvimento econômico e social. Será preciso, obviamente, atuar em várias frentes, com destaque para a educação fundamental, a formação de capital humano, a pesquisa científica e tecnológica, o fortalecimento da infraestrutura e a diplomacia econômica, sem insistir nas tolices, é claro, das articulações Sul-Sul. Para isso, o presidente precisará esquecer seu cercadinho, renunciar às brigas inúteis e custosas e garantir segurança aos investidores por meio de uma gestão séria, prudente e sem uso político das estatais e de outros componentes do aparelho público.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Colunista blablabloso a soldo e comprometido com o mercadinho