Folha de S. Paulo
Regime testa capacidade de mobilização e
ressuscita demônios estrangeiros em busca de fôlego interno
Nicolás
Maduro tirou 10,5 milhões de venezuelanos de casa para votar no
plebiscito sobre a anexação de Essequibo. A cifra corresponde apenas à metade
do total de eleitores registrados no país, mas é mais do que o número de votos
depositados na esvaziada
disputa presidencial de 2018. Quase todos os eleitores concordaram
com as teses do ditador.
Sem disparar um tiro, Maduro lançou uma operação doméstica de guerra. Testou a capacidade de mobilização de um regime cujo fôlego é incerto, declarou-se porta-voz de um movimento sem oposição interna, explorou o nacionalismo para remendar um governo divisivo e ressuscitou demônios do imperialismo.
Associado à crise econômica, o
estrangulamento da vida política imposto pelo chavismo provocou
efeitos colaterais incômodos para Maduro. O regime continuaria vitorioso em
atas de votação, mas teria comprometida a agitação de suas bases.
A participação limitada no plebiscito de
domingo (3) sugere que a apatia ainda domina muitos venezuelanos. Maduro
precisará insistir na histórica reivindicação do território da Guiana se
quiser oferecer um assunto fresco ao eleitorado, desgastar rivais e indicar
que, no limite, hipotecará sua sobrevivência política num conflito armado.
O líder venezuelano aproveitou a propaganda
oficial para abrir uma etapa dessa campanha. Num programa de TV, o presidente
alertou aos EUA que não
se envolvam na disputa territorial com a Guiana. Depois, anunciou que a
procuradoria avançava em investigações que ligariam opositores do regime à
ExxonMobil, empresa americana que explora petróleo na região em disputa.
Incluir Essequibo na pregação contra
corporações capitalistas, elites locais e um inimigo externo forte é mais útil
para Maduro do que invadir a Guiana e aguardar uma retaliação pesada. Por ora,
a hipótese de ação militar serve para dar sustentação ao discurso, mas ninguém
duvida que o
regime pode apertar o botão vermelho caso identifique um risco real de
perder o poder.
Um comentário:
Cruzes!
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