O Globo
O jovem criminoso, ladrão e agressor, para
quem já não bastará roubar, não sem espancar-esculachar, é tudo isso e também
um desesperançado. Indivíduo para quem não há futuro, senão a morte prematura —
ou o degredo social, igualmente morte. Não lhe há saída; não uma visível. E ele
tem raiva. Ódio. Que expressa. Em bando. Na mão. Na porrada.
Desesperançado também é o justiceiro, não raro — e não à toa — também um jovem. Igualmente criminoso. Que se lança às ruas, com palavras de ordem de playboy pela proteção territorialista, para caçar os invasores cruéis do pedaço. Indivíduo inconformado com a condição remediada hereditária, para quem não há futuro, senão o nem-nem presente, o que não estuda nem trabalha, encostado — modalidade de exílio social, uma forma de morrer. Pela inexistência. Perdidas todas as saídas. E ele tem raiva. Ódio. Que expressa. Em bando. Na mão. Na porrada.
Os justiceiros, os inexistentes com teto, a
casa em que cresceram e onde escorados vão, sob a desculpa de defender o bairro
em que seus provedores vivem, saem às ruas — para pegar os do 474 e liberar a
frustração em linchamentos — à caça de uma existência. Os defensores do lugar
sendo os que se apegam à localidade — à guarda do espaço — como ato para
pertencer; contra os de fora, os bandidos, que vêm para assaltar e bater.
São condenados, cada um à sua maneira.
Carcomidos pelo fado inapelável: o limbo de empobrecimentos. Produtos da
educação falida entre nós. Da falta de perspectivas. Dissolvida — para agravar
o esgarçamento do tecido social — a classe média, também um valor. E, pois, o
abismo.
A classe média: força equilibrante, senso de
estabilidade, corpo amortecedor, objetivo factível à ascensão social, rede
protetora aos decadentes. Ruiu. No lugar, o fosso. Que se alarga e aprofunda,
encorpado pela desigualdade acelerada que a peste impôs — ou fez ver. Tudo
decadência. Do outro lado, longe, a riqueza. Percebida finalmente a interdição
à mobilidade social. Compreensão que se expressa. Em explosão-convulsão.
O desesperançado é, antes de tudo, um
descrente. Que não tardará a agir com as próprias mãos, se rompido o contrato
que delegara à elite política a representação para governar. Rompido está.
Traído está. Traídos, os desesperançados. A elite governante entendida como
agindo em causa própria. Justiçados e justiceiros materializando os piores
sentimentos — cientes de que destinados à paralisia — sob a descrença nos
mecanismos formais de mediação. Desacreditada a ideia de autoridade. De
oportunidade. De Estado. E, portanto, a barbárie.
O valor da representação migrando da
desconfiança — sentido fiscalizador necessário — à descrença, donde o canto
influente da anomia, sedutor o discurso contra as castas de brasília, aqui ou
na Argentina. Ou nos Estados Unidos. Desacreditado o pacto de delegação do
poder, se constituem os delegados um planalto exclusivo e excludente de
prosperidades.
São maus os exemplos dos pançudos eleitos —
os que investem na cizânia como estratégia eleitoral. Os que apostam na
primazia da perversão autoritária que transformou diálogo em fraqueza,
triunfante também a propaganda — encoberto o Lirão — segundo a qual centro
político equivaleria a antro para oportunismos.
Maus os exemplos, se a Corte constitucional —
sempre em defesa da ordem democrática — promove igualmente os seus
justiçamentos. Ou não terá o Supremo — até para censurar — criado inquérito,
depois onipresente e infinito, em defesa de seu território e da honra dos
togados e de outros amigos do amigo de papai? Ora: em defesa da ordem
territorial, contra os ladrões agressores do bairro-nação, avançam os
milicianos de Copacabana.
(Fala-se de Brasil; sem desconsiderar que a
degradação político-social do Rio de Janeiro seja única. Talvez incurável.
Sociedade nenhuma mantém mínima saúde se submetida aos sanguessugas de um
estado de sergiocabralismo permanente, daí não tardarem cláudio e outros
coveiros.)
A descrença na elite como referência
sustentadora-difusora de valores humanistas é fenômeno mundial alimentado
também pela incapacidade de liderar respondendo a questões norteadoras simples.
— Apelar ao genocídio de judeus constitui
intimidação e assédio? Sim ou não?
As reitoras de três das maiores universidades
americanas não conseguiram responder. Não objetivamente. Não sem variações
sobre “depende do contexto”. Uma das quais tendo dito:
— Se o discurso se transformar em conduta,
pode ser assédio.
O que seria — sendo o discurso “apelar ao
genocídio” — transformá-lo em conduta, logo materializá-lo? É.
A elite, alienada e covarde, que se recusa ao
papel de mediar se torna supérflua, não sem autorizar — cada um por si — o
vale-tudo.
3 comentários:
Faço uma leitura atenta deste Merval de hoje::
■■■ " O jovem criminoso, ladrão e agressor, para quem já não bastará roubar, não sem espancar-esculachar, é tudo isso e também um desesperançado. Indivíduo para quem não há futuro, senão a morte prematura — ou o degredo social, igualmente morte. Não lhe há saída; não uma visível. E ele tem raiva. Ódio. Que expressa. Em bando. Na mão. Na porrada. ".
■Leio isto e prossigo a leitura. Ao fim do texto eu multiplico essa desesperança por 203.062.512 (devemos ser mais alguns milhões: a mim, o IBGE não me recenseou em 2022),...
...Levanto os olhos e olho para as coisas::
=>Olho para Lula e sua falta de programa ao menos para a educação básica;
=>Olho para Bolsonaro e sua falta total de qualquer sentimento pelo outro;
=>Olho para Arthur Lira e a música que ouço não me agrada em nada;
=>Olho para o STF e vejo ministros em farras e convescotes e vejo ministros prendendo bagrinhos e os deixando presos até que morram, enquanto tubarões como Michel Temer, Luiz Inácio Lula da Silva, Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, José Dirceu, Antônio Palocci, Léo Pinheiro, Emílio Odebrect, Marcelo Odebrecht e outros assim eles vão deixando impunes (não chegam a inocentá-los, mas chegam a "impuniá-los");
▪︎Olho para os eleitores e eles me falam acomodados que escolherão "o menos pior".
Não consigo esquecer que na avaliação do PISA os estudante brasileiros que estão com 15 anos de idade ficaram dois anos fora das escolas por causa da pandemia de Covid-19 e este tempo sem contato com os professores na escola não teve como resultado nenhuma alteração nas notas de avaliação:: o Brasil estava nas últimas colocações no PISA e lá ficou e
a falta da escola não fez nenhuma falta:: Ninguém perde o que já não iria ganhar).
Não consigo esquecer que sem transformar a educação ninguém tem esperança: nem o pobre do Morro do Vidigal; nem o ricaço de Copacabana.
E não me esqueço que estes merdas como Lula, Bolsonaro, Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, Arthur Lira... não fazem PORRA NENHUMA !
Um meu conhecido bolsonarista me diz que a culpa é de Lula e sua corrupção; eu pergunto ao bolsonarista sobre a corrupção de Bolsonaro e ele nega.
Outro conhecido meu, este petista, me diz que eu sou moralista e eu sinto vergonha...por ele.
Acho que os dois, o bolsonarista e o lulista, vivem pensando que eu critico muito e que criticar é fácil.
Eu não desesperanço; eu me desespero!
Carlos Andreazza hoje, para mim, virou o Merval. rss
Meio confuso,como sempre.
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