terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Dora Kramer - Lula, a cara e a coragem

Folha de S. Paulo

Aposta em Boulos é arriscada: se ele perder, a derrota cai na conta do presidente

PT não tem candidato próprio à Prefeitura de São Paulo, mas é como se tivesse. A julgar pelos primeiros acordes da sinfonia, Luiz Inácio da Silva vai jogar pesado numa aposta que não deixa de ser de alto risco.

A força com que Lula inaugurou a campanha de Guilherme Boulos indica que, se o candidato do PSOL perder, a derrota cairá na conta do presidente. Nunca, mesmo com candidatos petistas, ele mergulhou com tanta antecedência e empenho numa eleição na capital paulista.

A ofensiva começou na semana passada com movimentos de peso: em poucos dias Boulos foi nomeado coordenador de um programa do Ministério dos Direitos Humanos dirigido a moradores de rua, com verba de R$ 1 bilhão, viu-se no centro de um ato com a presença de Lula para a construção de casas populares e ganhou do padrinho a promessa de levar Marta Suplicy de volta ao PT para compor a chapa.

Gesto ousado, de difícil execução, porque Marta é secretária de Relações Internacionais da prefeitura do MDB, como senadora votou no impeachment de Dilma Rousseff e saiu do PT batendo a porta para amargor dos ex-companheiros. Mas, depois da atração do hoje vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), não convém duvidar do poder da sedução presidencial.

Problemão para o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e demais candidatos, à exceção talvez de Ricardo Salles (PL), que tende a crescer caso Jair Bolsonaro abrace de vez sua candidatura e o incentivo de Lula à polarização seja atendido pelo eleitorado.

O presidente fez o chamamento em recente reunião do PT: "Nesta eleição vai ser Lula e Bolsonaro outra vez". Na semana em que pegou firme Boulos pela mão, referiu-se ao antecessor como "facínora" e "furacão do mal", dentre outros adjetivos.

Chamou para a briga a direita, sabendo o que faz. Na pesquisa, o eleitor privilegia os problemas das cidades, mas na hora do vamos ver mostra predileção pelo jogo de torcidas que joga no lixo a palavra dita da pacificação.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu sou pela pacificação entre direita e esquerda,mas está difícil.