Folha de S. Paulo
É inaceitável que Israel use comida como arma
contra o Hamas; solução estável para guerra passa pelo fim de governo Netanyahu
As imagens de palestinos definhando falam por
si. Não
há justificativa moral para permitir que crianças morram de fome. Pouco
importa que tenha sido o Hamas que
deflagrou o atual ciclo de violência com os ataques
de 7 de outubro de 2023, as forças israelenses que controlam as
fronteiras de Gaza têm a obrigação de assegurar que comida chegue aos civis.
E teriam vários outros deveres estabelecidos em leis de guerra que vêm sistematicamente descumprindo. Ao fazê-lo cometem delitos de guerra e quase certamente também crimes contra a humanidade. Quanto à acusação de genocídio, fico com a sabedoria dos juízes de Nuremberg.
Percebendo que o conceito de genocídio era
muito mais uma encrenca política do que uma tipificação penal útil, preferiram
não utilizá-lo no julgamento dos líderes nazistas, que foram condenados por
crimes de guerra, contra a humanidade e contra a paz.
De lá para cá, a situação só piorou, porque o
termo "genocídio" foi convertido em arma de propaganda. Quer você
chame o que está acontecendo em Gaza de genocídio, quer escolha outros
qualificativos, o fato é que não dá para aceitar que um Estado que se quer
civilizado utilize comida como arma numa guerra.
A pressão internacional desencadeada pelas
fotos de palestinos esquálidos parece ter surtido algum efeito. Israel anunciou
que autorizará mais entregas de ajuda humanitária. Uma solução mais estável,
contudo, passa pelo fim do governo de Binyamin
Netanyahu, que já deu repetidas mostras de que coloca seus interesses
pessoais (agarrar-se ao poder para adiar seu julgamento por corrupção) à frente
de quaisquer outras considerações.
Hoje, a hipótese mais realista para a queda
do governo não vem da carnificina em Gaza nem das falhas de segurança que
permitiram o 7/10, mas de um racha dos setores mais extremistas da coalizão.
Para seguir dando sustentação ao governo, os ultrarreligiosos exigem que
seminaristas ortodoxos sejam isentos do serviço militar. Tal privilégio é
firmemente rechaçado pela população e pelo Judiciário.
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