Raquel Landim, de São Paulo
DEU NO VALOR ECONÔMICO
As economias da América Latina desaceleraram bruscamente e as vendas do Brasil para a região caíram. O apetite por produtos manufaturados brasileiros diminuiu a partir de outubro, quando a crise global piorou. Em dezembro, as exportações tiveram redução expressiva de 12,4%. Nos três primeiros trimestres, o desempenho foi excelente: alta de 24,5%. No último, chegou a pouco mais que um terço disso, ou 8,4%.
A situação é mais grave na Argentina, o segundo maior mercado para os produtos brasileiros. No quarto trimestre, as vendas para o vizinho do Mercosul declinaram 6%. Além de enfrentarem menor disposição de compras motivada pela queda dos preços das commodities, principal fonte de divisas da região, as empresas brasileiras se deparam com o aumento do protecionismo, mais visível na Argentina e Venezuela.
Para especialistas em comércio exterior, O dano para a balança comercial pode ser significativo. Os manufaturados respondem por mais de 80% das vendas do Brasil para a América Latina.
"Os negócios caíram violentamente de um dia para o outro. Os clientes dizem que o consumidor simplesmente parou de comprar”, afirma Danilo Marcon, diretor comercial da Cerâmica Vila Rica, fabricante de utensílios domésticos que exporta para a Argentina. O mercado argentino consumia 30% das exportações da empresa, que estão 30% menores desde outubro. Para Milton Cardoso, diretor-executivo da Vulcabras, que comercializa as marcas Azaléia e Reebok, os clientes argentinos pararam de comprar em novembro e chegaram a cancelar pedidos para o Natal. Ainda assim, os estoques estão acima do esperado, o que dificulta as vendas neste início de ano. A situação é parecida na Venezuela, no Chile, Equador e Peru, diz Cardoso.
A queda significativa na venda de veículos na região levou as montadoras a dar férias coletivas bem antes do Natal. Exportações fracas afetaram a atividade na fábrica da General Motors em São José dos Campos, que anunciou demissões na segunda-feira. Grande parte dos veículos que saem da unidade são voltados à exportação para a América Latina, como o Corsa, que é preparado em kits para ser montado depois nas unidades da GM em outros países da região.
Caem exportações de manufaturados para a América Latina
As exportações do Brasil para os vizinhos da América Latina estão em queda. Empresas de diferentes setores relatam redução nos embarques para a região a partir de outubro, quando estourou a crise global. A economia desses países está desacelerando bruscamente, o que diminui seu apetite por produtos manufaturados brasileiros.
As exportações totais para os latino-americanos começaram a fraquejar em outubro e novembro (altas de 12,4% e 11,1% em relação aos mesmos meses de 2007) e caíram 12,4% em dezembro. De janeiro a setembro, as exportações tiveram desempenho excelente, com alta de 24,5% ante igual período de 2007. No quarto trimestre, o aumento foi de 8,4%, um ritmo bem menos vigoroso. Os manufaturados respondem por mais de 80% das vendas do Brasil para a América Latina.
A situação é mais grave na Argentina, segundo principal destino das vendas brasileiras. As exportações para o país vizinho e sócio do Mercosul se reduziram em um terço em dezembro em relação ao mesmo mês de 2007 pelo critério da média diária. Depois de crescer 33% de janeiro a setembro, as compras argentinas de produtos brasileiros caíram 6% no quarto trimestre do ano.
Com a baixa dos preços das commodities, principal riqueza da região, a América Latina dispõe de menos divisas para importar sem provocar estrago grave nas contas externas. Outro problema para as empresas brasileiras é o aumento do protecionismo em países como Argentina e Venezuela, que tentam blindar seus mercados da crise.
Para os especialistas em comércio exterior, o dano para a balança comercial pode ser significativo, pois a a pujança das compras latino-americanas vinha garantindo as exportações de manufaturados. As vendas para os Estados Unidos - outro importante cliente da indústria - estavam bem mais fracas e cresceram apenas 8% em 2008.
Na Cerâmica Vila Rica, fabricante de utensílios domésticos, as exportações para a Argentina cederam 30% a partir de outubro. "As vendas caíram violentamente de um dia para o outro. Os clientes dizem que o consumidor simplesmente parou de comprar", disse Danilo Marcon, diretor-comercial. O país vizinho responde por 30% das exportações da empresa e o mercado crescia 10% ao ano desde 2003.
"A crise, sem dúvida, afetou mais a Argentina do que o Brasil", disse Milton Cardoso, diretor-executivo da Vulcabras, que comercializa as marcas Azaléia e Reebok. Ele disse que os clientes argentinos pararam de comprar em novembro e cancelaram pedidos para o Natal. Mesmo assim, os estoques estão acima do esperado. Para o executivo, a situação é parecida na Venezuela, Chile, Equador e Peru.
A Vulcabras adquiriu uma fábrica na Argentina no ano passado e pretende manter os investimentos no país. Segundo Cardoso, o governo argentino restringiu as importações chinesas ao exigir licenças de importação, o que beneficia as empresas brasileiras instaladas no país. Apesar da crise, ele acredita que as exportações de calçados devem melhorar no segundo semestre com a ajuda do real mais fraco.
Para o economista do J. P. Morgan, Júlio Callegari, a "virada" na economia da América Latina foi muito forte após a contaminação da crise global. As estimativas do banco indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) da região caiu 2,8% no quarto trimestre anualizado depois de subir 4,4% no terceiro. O J.P Morgan projeta estagnação para o continente em 2009, depois de crescer 4,1% no ano passado. "O real se depreciou, o que é positivo para as exportações, mas não dá para ser otimista, porque o PIB dos países está encolhendo", disse Callegari. Ele acrescentou que o ajuste vai ser mais doloroso na Argentina, cuja economia crescia mais de 8% e deve cair 1% em 2009. O banco projeta estagnação para o México e desaceleração para a Venezuela, com altas de apenas 0,6% e 1,5% no PIB, respectivamente.
A crise global também atingiu as compras de bens de consumo duráveis e bens de capital na América Latina. As montadoras de veículos começaram a dar férias coletivas bem antes do Natal em dezembro no Brasil por conta da brutal queda de demanda de veículos na região. Também foram as exportações fracas que afetaram a atividade da fábrica da General Motors, em São José dos Campos, onde foram demitidos 744 trabalhadores.
Uma grande parte dos veículos que sai de São José dos Campos é voltada à exportação para a América Latina. Trata-se do modelo Corsa, que é preparado naquela fábrica em kits desmontados, para ser depois montado nas fábricas da empresa em outros países, principalmente latino-americanos. Mesmo modelos fabricados em outras fábricas da montadora, se forem exportados em partes e peças, passam pela unidade de São José dos Campos.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não quer fazer previsões de exportações para 2009 porque entende que não é possível ainda saber como ficará o câmbio não apenas no Brasil como também nos países que importam os carros brasileiros. A América Latina absorve quase 60% das exportações de veículos produzidos no Brasil. "Precisamos averiguar a volatilidade da moeda em todos os países", afirma o presidente da Anfavea, Jackson Schneider.
Na fabricante de bens de capital Romi, os efeitos da crise foram exacerbados pelas medidas protecionistas dos países vizinhos, disse Hermes Lago, diretor-comercial de máquinas ferramentas. A Argentina começou a exigir em novembro um certificado que, na prática, burocratiza e prejudica as importações. Na Venezuela, que pratica controle de divisas para compras externas, as licenças para a entrada de máquinas brasileiras, que já saíam a conta-gotas, diminuíram ainda mais. A América Latina absorve 18% das exportações da Romi.
As vendas da fabricante de ônibus Marcopolo na América Latina ainda não foram prejudicadas pela crise. Segundo o diretor-comercial para mercado externo, Paulo Andrade, os pedidos realizados até setembro cobriram as entregas do ano. Ele relata, no entanto, que as encomendas para o primeiro trimestre de 2009 estão 10% abaixo do mesmo período de 2008. Apesar da crise, Andrade espera manter o volume de exportações este ano, pois os governos da região não sinalizaram mudanças em seus projetos de melhoria do transporte urbano. (colaborou Marli Olmos, de Detroit)
DEU NO VALOR ECONÔMICO
As economias da América Latina desaceleraram bruscamente e as vendas do Brasil para a região caíram. O apetite por produtos manufaturados brasileiros diminuiu a partir de outubro, quando a crise global piorou. Em dezembro, as exportações tiveram redução expressiva de 12,4%. Nos três primeiros trimestres, o desempenho foi excelente: alta de 24,5%. No último, chegou a pouco mais que um terço disso, ou 8,4%.
A situação é mais grave na Argentina, o segundo maior mercado para os produtos brasileiros. No quarto trimestre, as vendas para o vizinho do Mercosul declinaram 6%. Além de enfrentarem menor disposição de compras motivada pela queda dos preços das commodities, principal fonte de divisas da região, as empresas brasileiras se deparam com o aumento do protecionismo, mais visível na Argentina e Venezuela.
Para especialistas em comércio exterior, O dano para a balança comercial pode ser significativo. Os manufaturados respondem por mais de 80% das vendas do Brasil para a América Latina.
"Os negócios caíram violentamente de um dia para o outro. Os clientes dizem que o consumidor simplesmente parou de comprar”, afirma Danilo Marcon, diretor comercial da Cerâmica Vila Rica, fabricante de utensílios domésticos que exporta para a Argentina. O mercado argentino consumia 30% das exportações da empresa, que estão 30% menores desde outubro. Para Milton Cardoso, diretor-executivo da Vulcabras, que comercializa as marcas Azaléia e Reebok, os clientes argentinos pararam de comprar em novembro e chegaram a cancelar pedidos para o Natal. Ainda assim, os estoques estão acima do esperado, o que dificulta as vendas neste início de ano. A situação é parecida na Venezuela, no Chile, Equador e Peru, diz Cardoso.
A queda significativa na venda de veículos na região levou as montadoras a dar férias coletivas bem antes do Natal. Exportações fracas afetaram a atividade na fábrica da General Motors em São José dos Campos, que anunciou demissões na segunda-feira. Grande parte dos veículos que saem da unidade são voltados à exportação para a América Latina, como o Corsa, que é preparado em kits para ser montado depois nas unidades da GM em outros países da região.
Caem exportações de manufaturados para a América Latina
As exportações do Brasil para os vizinhos da América Latina estão em queda. Empresas de diferentes setores relatam redução nos embarques para a região a partir de outubro, quando estourou a crise global. A economia desses países está desacelerando bruscamente, o que diminui seu apetite por produtos manufaturados brasileiros.
As exportações totais para os latino-americanos começaram a fraquejar em outubro e novembro (altas de 12,4% e 11,1% em relação aos mesmos meses de 2007) e caíram 12,4% em dezembro. De janeiro a setembro, as exportações tiveram desempenho excelente, com alta de 24,5% ante igual período de 2007. No quarto trimestre, o aumento foi de 8,4%, um ritmo bem menos vigoroso. Os manufaturados respondem por mais de 80% das vendas do Brasil para a América Latina.
A situação é mais grave na Argentina, segundo principal destino das vendas brasileiras. As exportações para o país vizinho e sócio do Mercosul se reduziram em um terço em dezembro em relação ao mesmo mês de 2007 pelo critério da média diária. Depois de crescer 33% de janeiro a setembro, as compras argentinas de produtos brasileiros caíram 6% no quarto trimestre do ano.
Com a baixa dos preços das commodities, principal riqueza da região, a América Latina dispõe de menos divisas para importar sem provocar estrago grave nas contas externas. Outro problema para as empresas brasileiras é o aumento do protecionismo em países como Argentina e Venezuela, que tentam blindar seus mercados da crise.
Para os especialistas em comércio exterior, o dano para a balança comercial pode ser significativo, pois a a pujança das compras latino-americanas vinha garantindo as exportações de manufaturados. As vendas para os Estados Unidos - outro importante cliente da indústria - estavam bem mais fracas e cresceram apenas 8% em 2008.
Na Cerâmica Vila Rica, fabricante de utensílios domésticos, as exportações para a Argentina cederam 30% a partir de outubro. "As vendas caíram violentamente de um dia para o outro. Os clientes dizem que o consumidor simplesmente parou de comprar", disse Danilo Marcon, diretor-comercial. O país vizinho responde por 30% das exportações da empresa e o mercado crescia 10% ao ano desde 2003.
"A crise, sem dúvida, afetou mais a Argentina do que o Brasil", disse Milton Cardoso, diretor-executivo da Vulcabras, que comercializa as marcas Azaléia e Reebok. Ele disse que os clientes argentinos pararam de comprar em novembro e cancelaram pedidos para o Natal. Mesmo assim, os estoques estão acima do esperado. Para o executivo, a situação é parecida na Venezuela, Chile, Equador e Peru.
A Vulcabras adquiriu uma fábrica na Argentina no ano passado e pretende manter os investimentos no país. Segundo Cardoso, o governo argentino restringiu as importações chinesas ao exigir licenças de importação, o que beneficia as empresas brasileiras instaladas no país. Apesar da crise, ele acredita que as exportações de calçados devem melhorar no segundo semestre com a ajuda do real mais fraco.
Para o economista do J. P. Morgan, Júlio Callegari, a "virada" na economia da América Latina foi muito forte após a contaminação da crise global. As estimativas do banco indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) da região caiu 2,8% no quarto trimestre anualizado depois de subir 4,4% no terceiro. O J.P Morgan projeta estagnação para o continente em 2009, depois de crescer 4,1% no ano passado. "O real se depreciou, o que é positivo para as exportações, mas não dá para ser otimista, porque o PIB dos países está encolhendo", disse Callegari. Ele acrescentou que o ajuste vai ser mais doloroso na Argentina, cuja economia crescia mais de 8% e deve cair 1% em 2009. O banco projeta estagnação para o México e desaceleração para a Venezuela, com altas de apenas 0,6% e 1,5% no PIB, respectivamente.
A crise global também atingiu as compras de bens de consumo duráveis e bens de capital na América Latina. As montadoras de veículos começaram a dar férias coletivas bem antes do Natal em dezembro no Brasil por conta da brutal queda de demanda de veículos na região. Também foram as exportações fracas que afetaram a atividade da fábrica da General Motors, em São José dos Campos, onde foram demitidos 744 trabalhadores.
Uma grande parte dos veículos que sai de São José dos Campos é voltada à exportação para a América Latina. Trata-se do modelo Corsa, que é preparado naquela fábrica em kits desmontados, para ser depois montado nas fábricas da empresa em outros países, principalmente latino-americanos. Mesmo modelos fabricados em outras fábricas da montadora, se forem exportados em partes e peças, passam pela unidade de São José dos Campos.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não quer fazer previsões de exportações para 2009 porque entende que não é possível ainda saber como ficará o câmbio não apenas no Brasil como também nos países que importam os carros brasileiros. A América Latina absorve quase 60% das exportações de veículos produzidos no Brasil. "Precisamos averiguar a volatilidade da moeda em todos os países", afirma o presidente da Anfavea, Jackson Schneider.
Na fabricante de bens de capital Romi, os efeitos da crise foram exacerbados pelas medidas protecionistas dos países vizinhos, disse Hermes Lago, diretor-comercial de máquinas ferramentas. A Argentina começou a exigir em novembro um certificado que, na prática, burocratiza e prejudica as importações. Na Venezuela, que pratica controle de divisas para compras externas, as licenças para a entrada de máquinas brasileiras, que já saíam a conta-gotas, diminuíram ainda mais. A América Latina absorve 18% das exportações da Romi.
As vendas da fabricante de ônibus Marcopolo na América Latina ainda não foram prejudicadas pela crise. Segundo o diretor-comercial para mercado externo, Paulo Andrade, os pedidos realizados até setembro cobriram as entregas do ano. Ele relata, no entanto, que as encomendas para o primeiro trimestre de 2009 estão 10% abaixo do mesmo período de 2008. Apesar da crise, Andrade espera manter o volume de exportações este ano, pois os governos da região não sinalizaram mudanças em seus projetos de melhoria do transporte urbano. (colaborou Marli Olmos, de Detroit)
Nenhum comentário:
Postar um comentário