quarta-feira, 15 de abril de 2009

Para Aécio, Lula fez pouco caso da crise

César Felício, de Belo Horizonte
DEU NO VALOR ECONÔMICO


O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), que tenta viabilizar sua candidatura presidencial dentro do partido, adotou ontem um discurso de tom nacional ao abrir um seminário sobre economia, que reuniu o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Aécio criticou indiretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao afirmar que demorou-se em perceber " a diferença entre uma marola e um tsunami". No fim do ano passado, Lula disse que a crise, se chegasse ao Brasil, chegaria como uma "marolinha".
"Quando acordamos, um milhão de empregos haviam desaparecido", disse o tucano.

"Temos o dever de fazer uma reforma tributária completa, profunda e definitiva", disse Aécio, pregando ainda uma revisão constitucional para "repensar o pacto federativo", diminuindo a concentração de impostos e decisões nas mãos do governo central. "Devemos considerar um profundo processo de descentralização e racionalização dos gastos, com o controle de gestão do qual Minas está na vanguarda. Esta grandiosa tarefa não pode ser realizada sob a égide da crise.
Esta é a tarefa de fundo para o país que queremos", afirmou Aécio. Ao longo de seus dois mandatos, a equipe econômica de Aécio implantou uma política de controle da gestão por meio do estabelecimento de metas de desempenho, em um processo gerenciado pelo hoje vice-governador Antonio Anastasia. "Gastamos demais com os governos e quase sempre não há recursos suficientes para os investimentos, esses que justamente fazem a roda da economia rolar", disse Aécio.

Aécio procurou descaracterizar o período de Lula na Presidência como uma era de grande crescimento. Segundo o governador, o Brasil alcançou um patamar inédito em reservas internacionais: "Lamento que não tenhamos aproveitado este ciclo de prosperidade para as reformas estruturantes. Crescemos menos que a média dos emergentes. Fomos colhidos pela crise no ápice de uma retomada. Enquanto as despesas de custeio cresceram 74% em seis anos, o crescimento do PIB foi de 28%. Se conseguimos arrecadar mais e melhor, patinamos nos investimentos, que não alcançam nem 1% do nosso PIB. Aqueles que agora estão curso, como os previstos no PAC, precisam ganhar agilidade e realismo. E este patamar só pode ser alcançado se tivermos coragem de descentralizar e compartilhar a gestão com Estados e municípios."

Aécio só abandonou o tom nacional para fazer duas reivindicações: alterar o pagamento da dívida federalizada de Minas com a União, fazendo com que parte dos 13% da receita corrente líquida que o Estado compromete revertesse em investimentos em infraestrutura geridos pelo próprio governo estadual e revogar uma resolução do Conselho Monetário Nacional que impede a aplicação de fundos em desembolsos do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. Ao discursar, o presidente do BC limitou-se a dizer que os pedidos de Minas seriam levados "à instância adequada".

O evento de ontem foi organizado pelo próprio governo mineiro, pela Assembleia Legislativa, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e o jornal "Estado de Minas". Todas estas instituições e a empresa são geridas por aliados abertos de Aécio: o deputado estadual Alberto Pinto Coelho (PP) e os empresários Robson de Andrade e Álvaro Teixeira da Costa.

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