Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
O traço de união mais forte entre eles é a importância que suas economias terão no espaço econômico do futuro
FINALMENTE os chamados Brics deixaram de ser apenas uma figura retórica, criada nos laboratórios de um banco de investimento de Wall Street, e passam a fazer parte do mundo real da política internacional. Os líderes de Brasil, Rússia, Índia e China reuniram-se nesta semana para formalizar um novo grupo de nações nesta já balcanizada ordem econômica mundial.
Claramente os Brics se aproveitam da sensação de que nos aproximamos do fim do arranjo institucional definido nos meses finais da 2ª Guerra para tentar influir no novo desenho do poder mundial. Vão se juntar ao G7, G10, G20 e outras siglas que nos lembram saudosos de um mundo que não mais existe.
Essa primeira reunião não produziu resultados concretos, o que levou a imprensa mundial a colocar em dúvida a sobrevivência do grupo. Afinal, com tantas divergências entre eles, o que une os chamados Brics? Parece ser a pergunta que ficou no ar. O próprio fato de ter sido marcada uma próxima reunião apenas para 2010 parece dar razão aos céticos em relação à sobrevivência dos Brics como elemento político estável.
Tenho acompanhado com interesse essa questão há algum tempo. Para mim, os chamados Brics representam a parte simbólica de uma realidade muito maior e complexa que vem se consolidando nos últimos anos. O que estamos assistindo hoje são os capítulos mais importantes da passagem de uma ordem econômica estabelecida há muitas décadas para uma outra ainda em gestação. Os sinais externos desse processo são muito claros para o analista que consegue fugir do dia a dia da economia. A organização formal dos Brics é um deles, embora não o mais importante.
Quando olhamos o que deve acontecer nas próximas duas décadas, a primeira indicação do que une os Brics aparece de maneira clara. O traço de união mais forte entre eles é a importância que suas economias vão ter no espaço econômico mundial do futuro. Seu tamanho relativo ao das nações desenvolvidas vai crescer de forma impressionante.
Os principais fatores para essa mudança são a evolução da população, o número de pessoas que serão incorporadas à chamada economia de mercado e, como consequência, a dimensão do PIB de cada país. Isso vale não apenas para os Brics, mas para um grupo bem maior de países emergentes, principalmente na Ásia. Estimativas conservadoras mostram que o PIB total do mundo emergente deve superar o dos países desenvolvidos por volta de 2025.
Mas, muito antes, a ordem mundial estabelecida no pós-Guerra vai ter de ser alterada. A desproporção entre o tamanho das economias emergentes e seu poder de decisão nos fóruns econômicos mundiais levará, certamente de uma forma negociada, a outra arquitetura institucional. Esse processo não se acelera hoje por uma razão muito prática: não existem ainda condições objetivas para a criação de um sistema monetário internacional mais equilibrado.
Nenhum país, nem mesmo a China, tem interesse em dividir com o dólar o papel de moeda-reserva devido aos compromissos e limitações que teria de assumir.
Não por outra razão, o ímpeto oportunista da delegação brasileira em criticar o dólar e seu papel no mundo hoje foi devidamente calado pelas lideranças chinesas presentes ao encontro. De qualquer forma, o objetivo mais importante dos Brics foi atingido: fazer nascer politicamente um grupo que, apesar das diferenças individuais, deve participar da criação de um novo mundo econômico e fortalecer os países emergentes.
Luiz Carlos Mendonça de Barros 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
O traço de união mais forte entre eles é a importância que suas economias terão no espaço econômico do futuro
FINALMENTE os chamados Brics deixaram de ser apenas uma figura retórica, criada nos laboratórios de um banco de investimento de Wall Street, e passam a fazer parte do mundo real da política internacional. Os líderes de Brasil, Rússia, Índia e China reuniram-se nesta semana para formalizar um novo grupo de nações nesta já balcanizada ordem econômica mundial.
Claramente os Brics se aproveitam da sensação de que nos aproximamos do fim do arranjo institucional definido nos meses finais da 2ª Guerra para tentar influir no novo desenho do poder mundial. Vão se juntar ao G7, G10, G20 e outras siglas que nos lembram saudosos de um mundo que não mais existe.
Essa primeira reunião não produziu resultados concretos, o que levou a imprensa mundial a colocar em dúvida a sobrevivência do grupo. Afinal, com tantas divergências entre eles, o que une os chamados Brics? Parece ser a pergunta que ficou no ar. O próprio fato de ter sido marcada uma próxima reunião apenas para 2010 parece dar razão aos céticos em relação à sobrevivência dos Brics como elemento político estável.
Tenho acompanhado com interesse essa questão há algum tempo. Para mim, os chamados Brics representam a parte simbólica de uma realidade muito maior e complexa que vem se consolidando nos últimos anos. O que estamos assistindo hoje são os capítulos mais importantes da passagem de uma ordem econômica estabelecida há muitas décadas para uma outra ainda em gestação. Os sinais externos desse processo são muito claros para o analista que consegue fugir do dia a dia da economia. A organização formal dos Brics é um deles, embora não o mais importante.
Quando olhamos o que deve acontecer nas próximas duas décadas, a primeira indicação do que une os Brics aparece de maneira clara. O traço de união mais forte entre eles é a importância que suas economias vão ter no espaço econômico mundial do futuro. Seu tamanho relativo ao das nações desenvolvidas vai crescer de forma impressionante.
Os principais fatores para essa mudança são a evolução da população, o número de pessoas que serão incorporadas à chamada economia de mercado e, como consequência, a dimensão do PIB de cada país. Isso vale não apenas para os Brics, mas para um grupo bem maior de países emergentes, principalmente na Ásia. Estimativas conservadoras mostram que o PIB total do mundo emergente deve superar o dos países desenvolvidos por volta de 2025.
Mas, muito antes, a ordem mundial estabelecida no pós-Guerra vai ter de ser alterada. A desproporção entre o tamanho das economias emergentes e seu poder de decisão nos fóruns econômicos mundiais levará, certamente de uma forma negociada, a outra arquitetura institucional. Esse processo não se acelera hoje por uma razão muito prática: não existem ainda condições objetivas para a criação de um sistema monetário internacional mais equilibrado.
Nenhum país, nem mesmo a China, tem interesse em dividir com o dólar o papel de moeda-reserva devido aos compromissos e limitações que teria de assumir.
Não por outra razão, o ímpeto oportunista da delegação brasileira em criticar o dólar e seu papel no mundo hoje foi devidamente calado pelas lideranças chinesas presentes ao encontro. De qualquer forma, o objetivo mais importante dos Brics foi atingido: fazer nascer politicamente um grupo que, apesar das diferenças individuais, deve participar da criação de um novo mundo econômico e fortalecer os países emergentes.
Luiz Carlos Mendonça de Barros 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
Nenhum comentário:
Postar um comentário