Os juros bancários podem continuar caindo mesmo que a Selic não caia. Por vários motivos: eles permanecem altíssimos; caíram proporcionalmente menos do que a Selic; a inadimplência começará a cair; a estabilização da Selic em nível mais baixo dará aos tomadores uma noção melhor do custo do dinheiro. Os bancos públicos poderiam incentivar a competição se tivessem custos menores.
Os juros bancários caíram em todas as modalidades em junho, mas há quedas e quedas. As taxas cobradas pelos bancos são tão altas que quando caem é como sair do vigésimo para o décimo nono andar. É alto do mesmo jeito.
Perguntei ao chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes, esta semana, se os juros bancários poderiam cair mais. Ele registrou um ponto que já esclarece tudo: na taxa média anual do crédito da pessoa física, que em junho foi de 45,6%, o spread representava 35,7 pontos percentuais. Essa diferença entre o custo de captação e o de empréstimo é enorme.
Juros de 45,6%, que seriam considerados inaceitáveis em qualquer país do mundo, aqui são o segundo melhor número da série que começou em julho de 1994, ou seja, no mês do real. O melhor número foi dezembro de 2007 (veja abaixo o gráfico que compara a queda do custo de captação, dos empréstimos e do spread). A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) faz a conta de forma diferente. O diretor setorial de Economia da entidade, Tomás Málaga, disse que os juros da pessoa física caíram dez pontos e os da Selic cinco pontos. Mas mais importante não é a queda em pontos, mas sim a queda proporcional ao tamanho da taxa.
Os juros básicos em 8,75% são os mais baixos da história, e altos para qualquer país. O Copom avisou esta semana, pelas entrelinhas da ata, que eles não devem cair mais por enquanto. O diretor de economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Andrew Storfer, aposta que a manutenção da Selic nesse patamar vai aumentar a pressão da sociedade sobre os bancos para que ocorra redução das taxas tanto para pessoas físicas quanto jurídicas:
- Esta será a primeira vez que a taxa de juros ficará num mesmo patamar, baixo, durante um longo período. Isso vai provocar um efeito semelhante ao que ocorreu durante a estabilização do real, quando a inflação foi controlada. As pessoas passaram a ter noção do preço dos produtos, e agora passarão a ter noção do custo do dinheiro. Isso vai aumentar a pressão da sociedade como um todo sobre os bancos.
Altamir Lopes acha que os spreads podem cair mais porque a inadimplência tende a ficar menor nos próximos meses (veja no gráfico):
- O atraso de 90 dias está estabilizado, mas quando se olha o atraso de 15 dias a 90 dias, se vê que está havendo queda. Isso sugere que a inadimplência tende a cair.
A Febraban admite que os spreads são elevados, mas tem várias explicações.
- Os spreads são elevados por vários motivos. A inadimplência e o risco de mercado são parte desses. Os depósitos compulsórios sobre depósito à vista são 47%, quando a média da America Latina é 14%. Isso reduz os recursos que os bancos podem emprestar. Existem impostos que encarecem a intermediação financeira, encarecendo o crédito. Estes impostos podem ser fáceis de arrecadar, porém, têm efeitos em cascata importantes, reduzindo as oportunidades de negócios na economia - diz Málaga.
Alguns componentes do spread estão mais favoráveis de outubro para cá: houve liberação de R$100 bilhões de compulsório - que na prática aumenta a competição entre os bancos e a oferta de dinheiro; a inflação está em queda; a Selic foi reduzida; o crédito internacional está voltando.
Contribuiria também para que o spread fosse reduzido se melhorasse a gestão dos bancos públicos, que detém 40% do mercado de crédito. Como eles possuem privilégios em relação aos bancos privados - como acesso a folha de pagamentos da União e depósitos judiciais - o spread poderia ser mais baixo se eles tivessem custos de operação menores. Como imposição do governo, como está sendo agora, é bem temerário.
Não é simples o tema dos juros no país. Mas uma coisa é certa: o Brasil já foi anormal em taxa de inflação. Hoje, continua anormal em taxa de juros.
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