sábado, 1 de agosto de 2009

Sétimo sentido

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


O sexto sentido, desta vez, deixou o presidente Luiz Inácio da Silva na mão. Mesmo insistentemente aconselhado a guardar certa distância da crise do Senado, Lula resolveu prosseguir na defesa cada vez mais apaixonada do presidente da Casa, José Sarney.

Certamente deve ter achado que as críticas em relação a ele ficavam restritas à oposição e à imprensa, dois setores que Lula aprendeu a desprezar depois de ter sido reeleito apesar dos vários escândalos de corrupção que permearam o primeiro mandato.

Não levou em conta um dado fundamental: em se tratando de José Sarney, há todo um passivo desfavorável. São poucos os que valorizam o papel de Sarney na transição democrática. Por ironia, boa parte deles trabalha na imprensa ou milita na oposição.

A maioria das pessoas lembra de Sarney como o presidente que afundou o Plano Cruzado por causa de uma eleição e deixou o País com 80% de inflação ao mês. Embora tenha sido a principal figura da Nova República, com a morte de Tancredo Neves, Sarney acabou se transformando em símbolo do que há de mais retrógrado na República.

Quando à fama se juntaram os fatos divulgados nos últimos meses, o que poderia ser má impressão consolidou-se como rejeição. Isso a intuição de Lula não foi capaz de detectar.

Abandonado pelo sexto sentido, o presidente recorreu aos préstimos de um sétimo e, pragmaticamente, mudou o discurso. "Não é problema meu", disse Lula na quinta-feira sobre o destino de José Sarney na presidência do Senado.

A declaração foi imediatamente interpretada como a senha para o desembarque, atribuído a pesquisas que indicariam malefícios para a popularidade do presidente, decorrentes do apoio entusiasmado a Sarney.

Pode ser e pode não ser. Com o presidente Lula nunca se sabe direito o que representa realmente sua posição ou o que é apenas mais uma manifestação de sua falta de compromisso com a palavra dita.

Logo no início da crise Lula falou a mesma coisa, que o Senado era um outro Poder e que a ele caberia resolver seus problemas. Isso depois de ter mobilizado o governo em prol da eleição de Sarney para a presidência do Senado e minutos antes de abrir a temporada de defesa explícita e de intervir diretamente na posição da bancada do PT, majoritariamente favorável ao afastamento.

Se a declaração for mesmo o que pareceu à primeira vista, é de se concluir que, na visão do presidente, Sarney é insustentável no cargo. Nesse caso, o recuo de Lula cumpriria dois objetivos: minorar os efeitos do distanciamento entre suas ações e a opinião do público e tentar evitar que a derrota presumida de Sarney seja vista como um fracasso pessoal do presidente. Que tanto fez e nada conseguiu em prol do protegido.

O conselheiro

O ex-prefeito César Maia elaborou uma espécie de manual com "50 conselhos para os políticos". Eis a maioria deles.

. Nunca mude de personagem.

. Há uma diferença entre buscar recursos para fazer política e buscar a política para fazer recursos.

. Atire sempre na pessoa jurídica do seu adversário, nunca na pessoa física.

. Fique bravo por fora, mas tranquilo por dentro.

. Sempre haverá um bêbado numa reunião. Dê a palavra a ele.

. Só polemize se souber o que vai dizer na quinta jogada.

. Seu adversário sabe tudo de você. Você só precisa saber uma coisa dele.

. Os âncoras da TV têm mais credibilidade que você. Nunca os desminta.

. É na pré-campanha que se fixa a imagem no celuloide. Na campanha se revela.
. Escolha a biografia de no mínimo dois políticos e as conheça bem.

. Os números quebrados impressionam mais.

. O voto se pede, mas não se suplica.

. Em plenário, responda concordando e prossiga... discordando.

. Não é você que é bonito, mas o poder que você tem. Dura apenas o seu mandato.

. A retórica pomposa ridiculariza.

. Nunca desminta a imprensa; faça uma nova afirmação.

. Cada aperto de mão é uma pesquisa qualitativa.

. A eleição de hoje não é a última da história.

. Nunca minta. Fale o necessário.

. Prometa só o possível.

. Não fale mais do adversário na frente da família. Ela não entenderá quando ele for seu parceiro.

. Nunca tranque as portas. No máximo, as feche.

. Ideologia não é tudo na política. Política sem ideologia é nada.

. Case com uma mulher mais velha. (no caso das mulheres políticas) Case com um homem muito mais velho.

. As pesquisas tratam do que você deve fazer e não do que você já fez.

. Enxugue o suor antes de oferecer a mão para o aperto.

. Seu publicitário sabe muito menos que você sobre política.

. Aprenda a sorrir como o Blair (Tony, ex-primeiro ministro da Inglaterra) e faça assim na TV e nos velórios.

. A internet não substitui a imprensa.

. A imprensa continua importante.

. A imprensa não é fundamental.

. A notícia de hoje desaparece duas horas depois.

. Cuidado quando as notícias forem em série.

. Conheça umas quatro piadas sobre políticos. Curtas. E as use.

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