DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Ministros e assessores começaram a defender que o presidente Lula recue e reconheça as eleições de Honduras. Eles avaliam que o Brasil já fez o possível para defender o retorno ao poder do presidente deposto Manuel Zelaya.
Eleição de Honduras divide o governo Lula
Setores políticos abrem divergência com o diplomático e começam a defender reconhecimento do pleito de ontem
Enquanto chanceler Celso Amorim ironiza a votação, tese de que Brasil já fez o que podia para defender volta de Zelaya ganha força
Kennedy AlencarDa Sucursal De BrasíliaEliane Cantanhêde Colunista Da Folha
Apesar do tom contundente do Itamaraty e da área diplomática do Planalto, setores políticos do próprio governo já começam a defender que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recue tacitamente e adote o reconhecimento gradual do resultado das eleições de ontem em Honduras.
Conforme a Folha apurou, ministros e assessores avaliam que a eleição é a porta de saída para a crise, criando uma situação de fato e a perspectiva de um novo governo escolhido por voto direto.
Nessa avaliação, o governo Lula já fez tudo o que poderia fazer para defender a volta ao poder do presidente deposto Manuel Zelaya e para ratificar uma posição pela democracia e contra qualquer golpe de Estado na região, num movimento integrado por todos os países das Américas e também pela União Europeia. Agora, é hora de deixar a situação se resolver por gravidade.
Apesar disso, a área diplomática, liderada pelo chanceler Celso Amorim e pelo assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, mantinha ontem mesmo a resistência a reconhecer os resultados do pleito, sob a alegação de que, como Zelaya não foi reconduzido ao cargo, a eleição é ilegítima e sem valor.
Em Genebra, Amorim foi irônico em conversa com jornalistas brasileiros: "Estou mais interessado no resultado do jogo do Real Madrid, porque essa eleição não é legítima".
Quanto à permanência do presidente deposto Manuel Zelaya na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, ele afirmou que o presidente não está lá como "hóspede", como já fora dito antes pela diplomacia brasileira. "Ele está lá abrigado sob nossa proteção. O fato em si foi reconhecido pela ONU e pede a proteção da embaixada e das pessoas sob sua proteção", afirmou, citando parecer do organismo no início da crise. O reconhecimento ou não do resultado da eleição de Honduras jogou o Brasil e os Estados Unidos em lados opostos.
O governo Lula bateu pé contra a legitimação internacional da eleição, já o de Barack Obama concluiu que não havia condições reais para a recondução de Zelaya e que a única forma de tirar o país da crise e do isolamento seria apoiar o eleito, abrindo uma porta para um recomeço institucional.
Do lado do Brasil, estão Venezuela, Bolívia e Equador, por exemplo. Do lado americano, a Colômbia, o Peru e mais recentemente a Costa Rica, que teve papel de destaque nas tentativas de acordo entre o governo deposto de Zelaya e o governo golpista de Roberto Micheletti.
A questão poderá parar na OEA (Organização dos Estados Americanos), caso o Brasil se mantenha irredutível e liderando a corrente contra a eleição. Neste caso, seriam necessários dois terços dos votos para expulsar Honduras do organismo, de onde já está suspenso desde o golpe de Estado. A questão de Honduras é um dos pontos de divergência entre o Brasil e os EUA e foi o centro do telefonema de uma hora de duração entre Amorim e a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, na quinta-feira passada.
Colaborou Luciana Coelho, de Genebra
Ministros e assessores começaram a defender que o presidente Lula recue e reconheça as eleições de Honduras. Eles avaliam que o Brasil já fez o possível para defender o retorno ao poder do presidente deposto Manuel Zelaya.
Eleição de Honduras divide o governo Lula
Setores políticos abrem divergência com o diplomático e começam a defender reconhecimento do pleito de ontem
Enquanto chanceler Celso Amorim ironiza a votação, tese de que Brasil já fez o que podia para defender volta de Zelaya ganha força
Kennedy AlencarDa Sucursal De BrasíliaEliane Cantanhêde Colunista Da Folha
Apesar do tom contundente do Itamaraty e da área diplomática do Planalto, setores políticos do próprio governo já começam a defender que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recue tacitamente e adote o reconhecimento gradual do resultado das eleições de ontem em Honduras.
Conforme a Folha apurou, ministros e assessores avaliam que a eleição é a porta de saída para a crise, criando uma situação de fato e a perspectiva de um novo governo escolhido por voto direto.
Nessa avaliação, o governo Lula já fez tudo o que poderia fazer para defender a volta ao poder do presidente deposto Manuel Zelaya e para ratificar uma posição pela democracia e contra qualquer golpe de Estado na região, num movimento integrado por todos os países das Américas e também pela União Europeia. Agora, é hora de deixar a situação se resolver por gravidade.
Apesar disso, a área diplomática, liderada pelo chanceler Celso Amorim e pelo assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, mantinha ontem mesmo a resistência a reconhecer os resultados do pleito, sob a alegação de que, como Zelaya não foi reconduzido ao cargo, a eleição é ilegítima e sem valor.
Em Genebra, Amorim foi irônico em conversa com jornalistas brasileiros: "Estou mais interessado no resultado do jogo do Real Madrid, porque essa eleição não é legítima".
Quanto à permanência do presidente deposto Manuel Zelaya na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, ele afirmou que o presidente não está lá como "hóspede", como já fora dito antes pela diplomacia brasileira. "Ele está lá abrigado sob nossa proteção. O fato em si foi reconhecido pela ONU e pede a proteção da embaixada e das pessoas sob sua proteção", afirmou, citando parecer do organismo no início da crise. O reconhecimento ou não do resultado da eleição de Honduras jogou o Brasil e os Estados Unidos em lados opostos.
O governo Lula bateu pé contra a legitimação internacional da eleição, já o de Barack Obama concluiu que não havia condições reais para a recondução de Zelaya e que a única forma de tirar o país da crise e do isolamento seria apoiar o eleito, abrindo uma porta para um recomeço institucional.
Do lado do Brasil, estão Venezuela, Bolívia e Equador, por exemplo. Do lado americano, a Colômbia, o Peru e mais recentemente a Costa Rica, que teve papel de destaque nas tentativas de acordo entre o governo deposto de Zelaya e o governo golpista de Roberto Micheletti.
A questão poderá parar na OEA (Organização dos Estados Americanos), caso o Brasil se mantenha irredutível e liderando a corrente contra a eleição. Neste caso, seriam necessários dois terços dos votos para expulsar Honduras do organismo, de onde já está suspenso desde o golpe de Estado. A questão de Honduras é um dos pontos de divergência entre o Brasil e os EUA e foi o centro do telefonema de uma hora de duração entre Amorim e a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, na quinta-feira passada.
Colaborou Luciana Coelho, de Genebra
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