segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Eleição em Honduras tem poucos incidentes

DEU EM O GLOBO

Hondurenhos aguardam resultado sobre grau de comparecimento às urnas, que legitimará ou não a votação

Flávio Freire

TEGUCIGALPA. Apesar do clima militarizado nas ruas das principais cidades de Honduras, a eleição presidencial registrou menos incidentes do que era esperado por conta da crise política que divide o país há cinco meses. As Forças Armadas teriam registrado conflito apenas na cidade de San Pedro Sula, onde soldados do Exército lançaram bombas de gás lacrimogêneo sobre manifestantes contrários ao pleito. O resultado mais esperado não é o vencedor da eleção, e sim o grau de comparecimento às urnas, que legitimará ou não a votação realizada pelo governo interino e contestada por parte da comunidade internacional.

Grupos de resistência e de direitos humanos denunciaram ontem a ação da polícia contra manifestantes nas 24 horas que antecederam a eleição. Um rapaz teria sido morto por soldados e outros 30, presos. Um toque de recolher teria sido comandado ontem por grupos de oposição ao governo. Sob pretexto de evitar embates com militares, o grupo pretendia, principalmente, desidratar o processo eleitoral.

Zelaya pode pedir asilo em outro país da América Latina

Durante todo o dia, a grande preocupação dos hondurenhos era obter informações a respeito dos índices de comparecimento às urnas. A participação de uma maioria de eleitores na votação ou uma forte abstenção definiria o vitorioso da queda de braço entre o presidente deposto Manuel Zelaya - que boicotou o pleito desde sua expulsão do país até a obtenção de asilo na embaixada brasileira, onde permanece há mais de dois meses - e o presidente interino Roberto Micheletti, que reuniu em torno de seu governo aliados ao golpe de Estado.

Zelaya passou o dia recebendo telefonemas de seguidores que informavam sobre o número de eleitores que teriam ido às urnas em diferentes cidades. Ao GLOBO, o presidente deposto disse que não tem mais interesse em ser restituído até 27 de janeiro, quando assume o novo mandatário.

- Essa é uma decisão que deveria ter sido tomada antes da eleição - disse ele.

Especula-se que o presidente deposto já estaria analisando a possibilidade de pedir asilo em algum outro país da América Latina. Ele nega. Ainda assim, o clima não é de euforia entre seus apoiadores.

- Eu diria que o clima na embaixada é de um otimismo contido - informou o ministro-chefe da embaixada, Francisco Catunda, dando sinais de que o grupo zelayista se preocupava ainda ontem com a demanda eleitoral.

Às 15h, faltando duas horas para o fim da votação, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) prorrogou o prazo por mais uma hora por conta da "intensa" quantidade de eleitores nas ruas. Entre os zelayistas, a medida foi considerada uma manobra orquestrada pelo governo interino para "empurrar" hondurenhos indecisos às urnas.

- Todas as instituições foram cooptadas por este governo. Isso (a prorrogação) é uma prova de que eles (o governo) estão desesperados para tentar legitimar esta farsa - argumentou o líder da Frente de Resistência Contra o Golpe de Estado, Rafael Alegria.

Em Tegucigalpa, no entanto, a maior parte das escolas e centros universitários onde foi realizada a eleição não teve movimento intenso. O GLOBO percorreu seis postos de votação.

Num deles, onde o portão foi aberto às 7h15m, já não havia mais eleitores pouco depois das 8h. Na maioria das cidades do interior, onde havia apenas um local para se depositar o voto, houve filas toda a manhã.

No fim da tarde, antes do encerramento, a capital hondurenha começou a ser palco de carreatas dos dois candidatos com maiores chances de vitória: Porfírio Pepe Lobo, do Partido Nacional, e Elvin Santos, do Partido Nacional.

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