DEU EM O GLOBO
O cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio, tem uma visão bastante cética em relação à possibilidade de a senadora Marina Silva se transformar em uma liderança de peso na política nacional a partir da votação que obteve no primeiro turno da eleição presidencial.
Ele chama de “maldição do terceiro colocado” o que tem acontecido com os candidatos que a cada eleição surgem como novidade, mas não se firmam como alternativa de uma terceira via eleitoral que se contraponha à polarização entre PT-PSDB.
Um trabalho da equipe da PUC do Rio que Romero Jacob coordena mostra que, até agora, a terceira via não se mostrou possível, pois não se observa nada em comum, do ponto de vista eleitoral ou geográfico, entre os terceiros colocados nas eleições anteriores: Brizola (1989), Enéas (1994), Ciro (1998), Garotinho (2002) e Heloísa Helena (2006).
A candidata do Partido Verde, senadora Marina Silva, poderia vir a ser uma terceira via, na análise de Romero Jacob, se fosse adotada pelos evangélicos pentecostais, sendo ela evangélica.
Nesse caso poderia crescer na periferia, um dos três pilares das “estruturas de poder” que viabilizam a disputa eleitoral: as oligarquias nos grotões, os pastores pentecostais e os políticos populistas na periferia, e a classe média urbana escolarizada.
Mas, ressalva Romero Jacob, Marina Silva nunca fez política usando a religião, e mais uma vez nesta eleição presidencial teve o mesmo comportamento.
Ela provavelmente se beneficiou do debate em torno do aborto, mesmo sem estimulá-lo. Em contrapartida, teria muita dificuldade de ter voto no interior do país, onde os ruralistas têm muita força.
Na classe média urbana, Marina pode tanto tirar voto do governador José Serra quanto de Lula (Dilma), por razões diferentes, analisa Romero Jacob.
Não é por outra razão que ela foi tão bem no Rio, em Belo Horizonte, e em Brasília, onde foi a mais votada. Um estudo sobre as religiões feito pelo grupo de Romero Jacob, na PUC do Rio, mostra claramente que no entorno das capitais, nos cinturões de miséria, os pastores evangélicos pentecostais têm uma força muito grande.
O Instituto de pesquisas GPP fez uma pesquisa do voto evangélico no Rio e constatou que Dilma caiu de 53,6% para 38,9% dos votos nesse segmento, enquanto Marina saiu de 18,5% para 41,9%.
Mas, como Romero Jacob tem ressaltado, a influência do voto religioso, incluindo aí o dos católicos que também se mobilizaram contra o aborto, tem que ser relativizada e incluída como um dos vários fatores que influíram no resultado final, impedindo que a eleição fosse resolvida no primeiro turno.
Segundo Romero Jacob, a “maldição” pode ser medida pelo retrospecto dos candidatos que chegaram em terceiro lugar nas recentes eleições presidenciais depois da redemocratização.
Ninguém emplacou na eleição seguinte.
Brizola, em 1989, teve 16% dos votos, quase foi para o segundo turno contra Collor. Em 1994, teve apenas 3%, e em 1998 foi vice de Lula, e terminou a carreira política sendo derrotado para senador.
Enéas teve 7% de votos em 1994, caiu para 2% em 1998 e em 2002 se candidatou a deputado federal. Ciro Gomes teve 11% em 1998, 12% em 2002, mas em 2006 se candidatou a deputado federal, e este ano não se candidatou a nada.
Garotinho teve 18% dos votos em 2002, na eleição seguinte o PMDB não lhe deu legenda para concorrer e este ano teve que se candidatar a deputado federal e depende de uma decisão do Supremo, já que está enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
A senadora Heloisa Helena teve 6% dos votos em 2006 e agora não se elegeu senadora em Alagoas.
O fato de alguém se constituir em uma grande novidade em uma eleição não quer dizer que terá fôlego mais adiante, conclui Romero Jacob, para lembrar que até agora não existe uma base estruturada de terceira via, e a senadora Marina Silva, entrando em choque com o Partido Verde na negociação sobre quem apoiar no segundo turno, pode estar perdendo um canal de atuação política que poderia viabilizar uma futura disputa presidencial.
Na verdade, cada uma das situações que levaram um candidato ao terceiro lugar foi pontual, não tem o mesmo peso de PSDB e PT, que há cinco eleições estão disputando o voto pau a pau.
Os outros surgem por circunstâncias de momento, lembra Romero Jacob, o que não quer dizer que a Marina não possa vir a ser uma grande liderança, mas para disputar com possibilidade em 2014 ela teria que se estruturar dentro da realidade político-partidária que vivemos.
Como o voto da Marina nesta eleição foi muito fragmentado, um estuário de muitas insatisfações, e de esperança na despolarização, ela não tem como liderar as decisões da maioria desses 20 milhões de eleitores.
Romero Jacob diz que nos seus estudos só há um registro de transferência de votos no segundo turno, que é de Brizola em 1989, que transferiu para Lula seus votos integralmente.
Em 2002, por exemplo, Ciro Gomes teve 12% dos votos e Garotinho 18%, e os dois propuseram um apoio ao Lula, mas os votos foram meio a meio para Lula e Serra.
Isso porque os votos de Ciro, na Bahia, não eram dele, mas do Antonio Carlos Magalhães que estava em dissidência, os votos no Maranhão eram de Sarney.
Assim como Garotinho, que não tinha votos na Amazônia, onde sua força vinha da Assembleia de Deus, cujo voto ele não decidia.
Marina Silva, por exemplo, não tem nem mesmo os 30% de votos próprios que Lula e o PT sempre tiveram em várias eleições.
Se os 18% de votos dela fossem de ambientalistas convictos, a bancada do Partido Verde teria aumentado, mas permaneceu praticamente do mesmo tamanho: tinha 15 deputados federais e ficou com 16. A excepcional votação que Marina teve no Rio só resultou na eleição de Alfredo Sirkis para deputado federal pelo Partido Verde.
O cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio, tem uma visão bastante cética em relação à possibilidade de a senadora Marina Silva se transformar em uma liderança de peso na política nacional a partir da votação que obteve no primeiro turno da eleição presidencial.
Ele chama de “maldição do terceiro colocado” o que tem acontecido com os candidatos que a cada eleição surgem como novidade, mas não se firmam como alternativa de uma terceira via eleitoral que se contraponha à polarização entre PT-PSDB.
Um trabalho da equipe da PUC do Rio que Romero Jacob coordena mostra que, até agora, a terceira via não se mostrou possível, pois não se observa nada em comum, do ponto de vista eleitoral ou geográfico, entre os terceiros colocados nas eleições anteriores: Brizola (1989), Enéas (1994), Ciro (1998), Garotinho (2002) e Heloísa Helena (2006).
A candidata do Partido Verde, senadora Marina Silva, poderia vir a ser uma terceira via, na análise de Romero Jacob, se fosse adotada pelos evangélicos pentecostais, sendo ela evangélica.
Nesse caso poderia crescer na periferia, um dos três pilares das “estruturas de poder” que viabilizam a disputa eleitoral: as oligarquias nos grotões, os pastores pentecostais e os políticos populistas na periferia, e a classe média urbana escolarizada.
Mas, ressalva Romero Jacob, Marina Silva nunca fez política usando a religião, e mais uma vez nesta eleição presidencial teve o mesmo comportamento.
Ela provavelmente se beneficiou do debate em torno do aborto, mesmo sem estimulá-lo. Em contrapartida, teria muita dificuldade de ter voto no interior do país, onde os ruralistas têm muita força.
Na classe média urbana, Marina pode tanto tirar voto do governador José Serra quanto de Lula (Dilma), por razões diferentes, analisa Romero Jacob.
Não é por outra razão que ela foi tão bem no Rio, em Belo Horizonte, e em Brasília, onde foi a mais votada. Um estudo sobre as religiões feito pelo grupo de Romero Jacob, na PUC do Rio, mostra claramente que no entorno das capitais, nos cinturões de miséria, os pastores evangélicos pentecostais têm uma força muito grande.
O Instituto de pesquisas GPP fez uma pesquisa do voto evangélico no Rio e constatou que Dilma caiu de 53,6% para 38,9% dos votos nesse segmento, enquanto Marina saiu de 18,5% para 41,9%.
Mas, como Romero Jacob tem ressaltado, a influência do voto religioso, incluindo aí o dos católicos que também se mobilizaram contra o aborto, tem que ser relativizada e incluída como um dos vários fatores que influíram no resultado final, impedindo que a eleição fosse resolvida no primeiro turno.
Segundo Romero Jacob, a “maldição” pode ser medida pelo retrospecto dos candidatos que chegaram em terceiro lugar nas recentes eleições presidenciais depois da redemocratização.
Ninguém emplacou na eleição seguinte.
Brizola, em 1989, teve 16% dos votos, quase foi para o segundo turno contra Collor. Em 1994, teve apenas 3%, e em 1998 foi vice de Lula, e terminou a carreira política sendo derrotado para senador.
Enéas teve 7% de votos em 1994, caiu para 2% em 1998 e em 2002 se candidatou a deputado federal. Ciro Gomes teve 11% em 1998, 12% em 2002, mas em 2006 se candidatou a deputado federal, e este ano não se candidatou a nada.
Garotinho teve 18% dos votos em 2002, na eleição seguinte o PMDB não lhe deu legenda para concorrer e este ano teve que se candidatar a deputado federal e depende de uma decisão do Supremo, já que está enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
A senadora Heloisa Helena teve 6% dos votos em 2006 e agora não se elegeu senadora em Alagoas.
O fato de alguém se constituir em uma grande novidade em uma eleição não quer dizer que terá fôlego mais adiante, conclui Romero Jacob, para lembrar que até agora não existe uma base estruturada de terceira via, e a senadora Marina Silva, entrando em choque com o Partido Verde na negociação sobre quem apoiar no segundo turno, pode estar perdendo um canal de atuação política que poderia viabilizar uma futura disputa presidencial.
Na verdade, cada uma das situações que levaram um candidato ao terceiro lugar foi pontual, não tem o mesmo peso de PSDB e PT, que há cinco eleições estão disputando o voto pau a pau.
Os outros surgem por circunstâncias de momento, lembra Romero Jacob, o que não quer dizer que a Marina não possa vir a ser uma grande liderança, mas para disputar com possibilidade em 2014 ela teria que se estruturar dentro da realidade político-partidária que vivemos.
Como o voto da Marina nesta eleição foi muito fragmentado, um estuário de muitas insatisfações, e de esperança na despolarização, ela não tem como liderar as decisões da maioria desses 20 milhões de eleitores.
Romero Jacob diz que nos seus estudos só há um registro de transferência de votos no segundo turno, que é de Brizola em 1989, que transferiu para Lula seus votos integralmente.
Em 2002, por exemplo, Ciro Gomes teve 12% dos votos e Garotinho 18%, e os dois propuseram um apoio ao Lula, mas os votos foram meio a meio para Lula e Serra.
Isso porque os votos de Ciro, na Bahia, não eram dele, mas do Antonio Carlos Magalhães que estava em dissidência, os votos no Maranhão eram de Sarney.
Assim como Garotinho, que não tinha votos na Amazônia, onde sua força vinha da Assembleia de Deus, cujo voto ele não decidia.
Marina Silva, por exemplo, não tem nem mesmo os 30% de votos próprios que Lula e o PT sempre tiveram em várias eleições.
Se os 18% de votos dela fossem de ambientalistas convictos, a bancada do Partido Verde teria aumentado, mas permaneceu praticamente do mesmo tamanho: tinha 15 deputados federais e ficou com 16. A excepcional votação que Marina teve no Rio só resultou na eleição de Alfredo Sirkis para deputado federal pelo Partido Verde.
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