quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Para banco japonês, China inspira política econômica

ENVIADO POR MAURICIO DAVID

O Brasil deve adotar nos próximos anos uma política econômica baseada no modelo chinês. Para a equipe de analistas do Nomura Securities, que elaborou um documento sobre o país, essa será uma das principais mudanças no governo da presidente eleita Dilma Rousseff. A instituição admite que, à primeira vista, essa hipótese pode parecer absurda, já que são duas economias diferentes.

Hoje, a China tem um modelo de crescimento com foco nas exportações de manufaturados, alto índice de poupança e investimentos que geram superávit em conta corrente.

Já o Brasil é um exportador de commodities, com baixas taxas de poupança e um enorme e crescente déficit em conta corrente. A equipe do banco japonês, no entanto, lembra que o governo brasileiro já alterou sua política para um modelo inspirado na China.

Isso teria acontecido em 2008, quando o governo federal, em meio ao iminente aperto no crédito, decidiu capitalizar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o que o transformou no maior banco de fomento do mundo, com investimentos em torno de R$ 146 bilhões neste ano. Segundo a instituição, a oferta de crédito se tornou uma marca da atual política econômica e uma iniciativa de longo prazo.

"O BNDES é hoje o maior financiador para projetos de infraestrutura e em setores onde o governo tenta predominar. Isso se ampliou de tal forma que a política monetária não pode ser discutida sem se levar em conta esses movimentos". Na visão da equipe, o maior sinal de que o Brasil copia o modelo chinês é o fato de o banco de fomento ter se tornado na maior fonte de investimentos da economia nacional.

Outro indicativo, conforme o documento, é a taxa de câmbio. "Depois de anos de um regime de transparência e livre flutuação do câmbio, o governo apelou neste ano para a imposição de políticas restritivas à entrada de capitais, sob a alegação de que precisa se proteger contra iniciativas do FED [Federal Reserve]".

Para evitar a entrada de capitais especulativos e conter a valorização do real, o governo brasileiro elevou as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Uma terceira evidência seria a proximidade dos dois países nos fóruns mundiais, como o G-20. No recente encontro na Coreia do Sul, o Brasil apoiou a China nas queixas de que os Estados Unidos representam uma ameaça à estabilidade internacional. A crítica é direcionada contra a decisão do governo de Barack Obama de injetar US$ 600 bilhões na economia norte-americana.

O Nomura acredita que a ideia de "copiar" o modelo chinês tem como base três razões. Primeiro, por conta dos laços econômicos entre as duas nações. A China representa hoje o maior mercado para os produtos brasileiros, sendo que neste ano, se tornou o maior investidor no Brasil.

Outro motivo seria que as autoridades brasileiras já esperam que Pequim irá ocupar o lugar dos Estados Unidos como principal potência. Por fim, a última razão se justificaria pelo fato do modelo chinês se adaptar à ideologia do PT.

"Acreditamos que o próximo governo vai utilizar mais oferta de crédito e outras medidas administrativas para tentar controlar a inflação e menos instrumentos monetários como a política de juros altos. A meta de inflação deve ficar subordinada a outras considerações, como a política fiscal e cambial", disse a instituição, que espera a continuidade de uma postura intervencionista no câmbio e um papel central do BNDES na economia nacional.

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