DEU EM O GLOBO
Militares fazem documento para fixar o tempo de atuação nas favelas
Os comandantes militares das tropas que participam das operações policiais no Alemão preparam um documento a ser encaminhado ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, no qual estabelecem normas para a ação dos militares, fixando o tempo de atuação naquelas comunidades. Eles não querem ficar no local por mais sete meses, como pediu inicialmente o governador Sérgio Cabral, pois acham que quanta mais tempo na operação maior é o risco de os soldados serem "contaminados" por maus policiais, que assaltam moradores e colaboram com o tráfico. Os militares temem também a retaliação de traficantes contra os paraquedistas, já que boa parte dos 800 homens do Exército empregados nas ações mora no Rio, em regiões e comunidades pobres.
Insatisfação nas Forças Armadas
Oficiais criticam indefinição do papel de militares e temem que maus policiais "contaminem" soldados
Evandro Éboli
Os comandos do Exército e da Marinha estão insatisfeitos com a falta de definição do papel exato das Forças Armadas nas operações no Rio. O chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, general José Carlos de Nardi, tem se reunido com os chefes dos estados-maiores das duas forças e com os comandantes militares. Os oficiais elaboram uma diretriz, que será encaminhada ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, e que estabelece normas para a ação dos militares, fixando o tempo de atuação das tropas na área da Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão.
Entre os comandantes, há a preocupação com o risco de que, se os militares ficarem muito tempo nessa operação, possam ser "contaminados" por maus policiais, que achacam moradores e colaboram com o tráfico, repassando informações em troca de dinheiro. Um dos oficiais lembrou, numa das reuniões da cúpula militar, que boa parte dos 800 homens do Exército empregados nas ações também mora na cidade, em regiões e comunidades pobres. Os militares consideraram essa uma exposição perigosa, que poderia gerar retaliação dos traficantes contra os soldados.
As declarações do governador Sérgio Cabral de que os homens do Exército e da Marinha devem ficar até sete meses no Complexo do Alemão, esperando a implantação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), desagradaram aos oficiais. Eles consideraram uma intromissão indevida de Cabral. Por avaliarem que a hierarquia de comando não deve ser quebrada, os militares acreditam que as ações das Forças Armadas não podem ficar subordinadas a um comando estadual. Exército e Marinha entendem que atuar em parceria para conter o tráfico não significa que delegados de polícia tenham voz de comando sobre o oficialato.
Cabral vai se reunir com Jobim amanhã
Outro ponto que incomoda os comandantes é a coordenação das ações. Até agora, para eles, não ficou claro quem tem o comando e qual o papel de cada uma das forças utilizadas. Os militares não querem fazer papel de polícia nos morros do Rio e descartam ações como entrar em casas e fazer buscas. Eles argumentam não ser função das Forças Armadas ir a favelas e prender suspeitos de tráfico.
O ministro Nelson Jobim está em viagem ao exterior, na Polônia, mas vem sendo informado das reuniões dos oficiais em Brasília. O conteúdo da nova diretriz deverá ser discutido numa conversa entre o ministro e Sérgio Cabral, no Rio, amanhã. Jobim retorna hoje ao Brasil.
O papel do Estado-Maior é traçar as diretrizes de instrução e o emprego das forças. A ação e a estratégia das tropas, além da definição de quantos homens serão empregados e como vão atuar, são tarefa do Comando de Operações Terrestres (Coter). Apesar de subordinado ao Comando do Exército, o Coter tem o mesmo status do Estado-Maior e está sob o comando de um general de quatro estrelas, Antônio Gabriel Esper. No caso das ações do Rio, o Coter transmite as diretrizes para o Comando Militar do Leste.
Anteontem, Sérgio Cabral refez os cálculos e disse que as forças de paz do Ministério da Defesa terão que permanecer por 11 meses atuando no Alemão. O governador e o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, garantiram que já está acertada, com o Exército, a permanência dos militares até outubro.
O Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas poderá utilizar tropas de unidades militares que já estiveram no Haiti, como guarnições do Rio Grande do Sul, em ações futuras. Essa medida evitaria a exposição de soldados do Rio durante as operações.
Militares fazem documento para fixar o tempo de atuação nas favelas
Os comandantes militares das tropas que participam das operações policiais no Alemão preparam um documento a ser encaminhado ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, no qual estabelecem normas para a ação dos militares, fixando o tempo de atuação naquelas comunidades. Eles não querem ficar no local por mais sete meses, como pediu inicialmente o governador Sérgio Cabral, pois acham que quanta mais tempo na operação maior é o risco de os soldados serem "contaminados" por maus policiais, que assaltam moradores e colaboram com o tráfico. Os militares temem também a retaliação de traficantes contra os paraquedistas, já que boa parte dos 800 homens do Exército empregados nas ações mora no Rio, em regiões e comunidades pobres.
Insatisfação nas Forças Armadas
Oficiais criticam indefinição do papel de militares e temem que maus policiais "contaminem" soldados
Evandro Éboli
Os comandos do Exército e da Marinha estão insatisfeitos com a falta de definição do papel exato das Forças Armadas nas operações no Rio. O chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, general José Carlos de Nardi, tem se reunido com os chefes dos estados-maiores das duas forças e com os comandantes militares. Os oficiais elaboram uma diretriz, que será encaminhada ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, e que estabelece normas para a ação dos militares, fixando o tempo de atuação das tropas na área da Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão.
Entre os comandantes, há a preocupação com o risco de que, se os militares ficarem muito tempo nessa operação, possam ser "contaminados" por maus policiais, que achacam moradores e colaboram com o tráfico, repassando informações em troca de dinheiro. Um dos oficiais lembrou, numa das reuniões da cúpula militar, que boa parte dos 800 homens do Exército empregados nas ações também mora na cidade, em regiões e comunidades pobres. Os militares consideraram essa uma exposição perigosa, que poderia gerar retaliação dos traficantes contra os soldados.
As declarações do governador Sérgio Cabral de que os homens do Exército e da Marinha devem ficar até sete meses no Complexo do Alemão, esperando a implantação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), desagradaram aos oficiais. Eles consideraram uma intromissão indevida de Cabral. Por avaliarem que a hierarquia de comando não deve ser quebrada, os militares acreditam que as ações das Forças Armadas não podem ficar subordinadas a um comando estadual. Exército e Marinha entendem que atuar em parceria para conter o tráfico não significa que delegados de polícia tenham voz de comando sobre o oficialato.
Cabral vai se reunir com Jobim amanhã
Outro ponto que incomoda os comandantes é a coordenação das ações. Até agora, para eles, não ficou claro quem tem o comando e qual o papel de cada uma das forças utilizadas. Os militares não querem fazer papel de polícia nos morros do Rio e descartam ações como entrar em casas e fazer buscas. Eles argumentam não ser função das Forças Armadas ir a favelas e prender suspeitos de tráfico.
O ministro Nelson Jobim está em viagem ao exterior, na Polônia, mas vem sendo informado das reuniões dos oficiais em Brasília. O conteúdo da nova diretriz deverá ser discutido numa conversa entre o ministro e Sérgio Cabral, no Rio, amanhã. Jobim retorna hoje ao Brasil.
O papel do Estado-Maior é traçar as diretrizes de instrução e o emprego das forças. A ação e a estratégia das tropas, além da definição de quantos homens serão empregados e como vão atuar, são tarefa do Comando de Operações Terrestres (Coter). Apesar de subordinado ao Comando do Exército, o Coter tem o mesmo status do Estado-Maior e está sob o comando de um general de quatro estrelas, Antônio Gabriel Esper. No caso das ações do Rio, o Coter transmite as diretrizes para o Comando Militar do Leste.
Anteontem, Sérgio Cabral refez os cálculos e disse que as forças de paz do Ministério da Defesa terão que permanecer por 11 meses atuando no Alemão. O governador e o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, garantiram que já está acertada, com o Exército, a permanência dos militares até outubro.
O Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas poderá utilizar tropas de unidades militares que já estiveram no Haiti, como guarnições do Rio Grande do Sul, em ações futuras. Essa medida evitaria a exposição de soldados do Rio durante as operações.
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