Vice diz que PMDB tem pecha de fisiológico, mas que todos os partidos "agem assim" na briga por cargos
No dia 31, o vice-presidente Michel Temer assumirá o comando do país, pois a presidente Dilma Rousseff irá à Argentina. Mas, em menos de um mês de governo, já viu que sua missão será mais espinhosa. Caberá a ele administrar a constante insatisfação do PMDB, que vive em eterna disputa por cargos com o PT. Temer diz ser "natural" que os partidos briguem por mais espaço no poder. Na quinta-feira, Temer recebeu O GLOBO por mais de uma hora no amplo gabinete da vice-presidência - bem diferente da acanhada sala que ocupava na Presidência da Câmara. Sobre sua mulher, Marcela, que se destacou na posse, o vice diz que não se incomodou com a superexposição, mas que quer mantê-la longe dos holofotes.
Luiza Damé e Chico de Gois
O senhor está à vontade na função de vice?
MICHEL TEMER: No regime presidencialista, a vice-presidência depende muito do presidente, no caso, da presidente. Ela que vai delegar funções. Tenho duas funções aqui já pré-definidas, nos grupos de Brasil-China e Brasil-Rússia. Vamos retomar as reuniões sobre esses dois assuntos.
A questão das chuvas, por exemplo...
TEMER: Queremos propor medidas legislativas que previnam esses acidentes que ocorreram no Rio e em outros estados. Não ficar apenas na palavra, mas passar à ação legislativa. Na próxima semana faremos uma reunião mais ampla, com muitos ministros. Essa é uma tarefa que a presidente me delegou. Eu não avanço o sinal e não avançarei nunca.
Automaticamente, o senhor cuida também de relações políticas, não é?
TEMER: Tenho feito isso. Nesses 20 dias tenho ajudado a pacificar as relações entre PMDB e PT, e outros partidos. Isso vem para mim com muita naturalidade. Não que seja exatamente uma delegação, mas vem.
O senhor acha que conseguiu pacificar PT e PMDB? Nos bastidores, a intriga continua...
TEMER: É verdade. Eu até brinquei: antes era como se fosse uma guerra de balas e hoje é uma guerra de flocos de algodão. Ficou mais suave. A gente ainda tem problemas, precisa ir conversando. Mas o que proponho é que, toda vez que se queira tomar uma posição radical de ambos os lados, precisamos ter calma e dialogar.
O senhor acha que o PT tem dificuldade de administrar a coalizão com o PMDB, de ceder espaços?
TEMER: A presidente Dilma não tem nenhuma dificuldade. Ela tem plena consciência, e já disse isso, que hoje nós não somos simplesmente aliados. Fomos aliados do governo Lula. Somos governo, portanto, partícipes do governo. Como consequência, nós todos queremos que o governo dê certo. Todos do PMDB querem ser tratados como governo.
Mas os petistas ainda resistem em dividir o espaço?
TEMER: Sim, porque a disputa por espaço é natural. Só precisamos, como governo, saber administrá-la e compor o governo de acordo com as forças que o compõem. Simplesmente isso. É uma equação muito fácil.
A imagem que passa é que o único que disputa espaço é o PMDB.
TEMER: Algumas pessoas começaram a dizer que o PMDB é fisiológico e isso pegou. Por mais que se diga o contrário, fica que o PMDB é o ávido por cargos. E o que o PMDB faz é apenas disputar um espaço que ele acha que lhe é devido pela campanha que fez, pelo apoio que dá no Congresso. Ainda mais agora que somos governo, o que o PMDB postula é espaço. E os outros partidos? Postulam espaço, tal como o PMDB.
Essa pecha está virando para o PT?
TEMER: Acho que está saindo do PMDB. Para onde vai, não sei.
Esse é um comportamento padrão, então?
TEMER: Em qualquer governo. Se eu for recordar quando o governo era outro, a questão era a mesma. Todos agem assim.
O PMDB hoje está satisfeito com o tamanho que tem no primeiro escalão?
TEMER: Numericamente, o PMDB manteve o mesmo número de ministérios. O PMDB perdeu um pouco de densidade política na atribuição dos ministérios. O número é o mesmo.
O PMDB tem quadros técnicos para atender à exigência da presidente?
TEMER: Pode procurar quadros técnicos para isso, sem a menor dúvida. O exemplo clássico é do ministro Lobão. Quando ele foi para o Ministério de Minas e Energia, diziam que ia ser um desastre. Fez uma gestão extraordinária, tanto que foi chamado de volta.
Como tem sido a participação da presidente nas discussões políticas? Ela mais ouve do que fala?
TEMER: Ela ouve e dá a palavra final.
Ela está tomando gosto pelo debate político?
TEMER: Acho que ela tem jeito. Ela é técnica, mas sabe, tanto quanto todos nós, que para exercer essa função de presidente tem que ter um ângulo de atuação política. Ela age com muita adequação.
O senhor está se acostumando com a rotina de vice?
TEMER: Estou sentindo falta da agitação da Câmara.
Quando o senhor vai se mudar para o Jaburu?
TEMER: Estão mudando uns canos lá. Acho que daqui a um mês, um mês e meio.
Sua esposa pretende ter alguma participação na área social?
TEMER: Ela já teve tanto visibilidade na posse...
O senhor se incomodou?
TEMER: Não. Minimamente. Eu disse a ela que é assim mesmo. Ela não está acostumada. Nós sempre tivemos uma vida muito discreta em oito anos de casamento. E pretendemos manter uma vida discreta.
Em menos de 30 dias, o Copom elevou os juros, o governo é pressionado por um mínimo maior, terá que fazer corte rigoroso no Orçamento e ainda tem polêmicas como a compra dos novos caças. Como está a administração desses pepinos que vieram do governo Lula?
TEMER: O governo está administrando. O salário mínimo, o presidente Lula reformulou até onde foi possível. Quando ele mandou o salário mínimo de R$540, era o possível. Há naturais pleitos, mas o governo será muito rigoroso, vai dar o que for compatível com as finanças públicas. Não há outra tese.
FONTE: O GLOBO
No dia 31, o vice-presidente Michel Temer assumirá o comando do país, pois a presidente Dilma Rousseff irá à Argentina. Mas, em menos de um mês de governo, já viu que sua missão será mais espinhosa. Caberá a ele administrar a constante insatisfação do PMDB, que vive em eterna disputa por cargos com o PT. Temer diz ser "natural" que os partidos briguem por mais espaço no poder. Na quinta-feira, Temer recebeu O GLOBO por mais de uma hora no amplo gabinete da vice-presidência - bem diferente da acanhada sala que ocupava na Presidência da Câmara. Sobre sua mulher, Marcela, que se destacou na posse, o vice diz que não se incomodou com a superexposição, mas que quer mantê-la longe dos holofotes.
Luiza Damé e Chico de Gois
O senhor está à vontade na função de vice?
MICHEL TEMER: No regime presidencialista, a vice-presidência depende muito do presidente, no caso, da presidente. Ela que vai delegar funções. Tenho duas funções aqui já pré-definidas, nos grupos de Brasil-China e Brasil-Rússia. Vamos retomar as reuniões sobre esses dois assuntos.
A questão das chuvas, por exemplo...
TEMER: Queremos propor medidas legislativas que previnam esses acidentes que ocorreram no Rio e em outros estados. Não ficar apenas na palavra, mas passar à ação legislativa. Na próxima semana faremos uma reunião mais ampla, com muitos ministros. Essa é uma tarefa que a presidente me delegou. Eu não avanço o sinal e não avançarei nunca.
Automaticamente, o senhor cuida também de relações políticas, não é?
TEMER: Tenho feito isso. Nesses 20 dias tenho ajudado a pacificar as relações entre PMDB e PT, e outros partidos. Isso vem para mim com muita naturalidade. Não que seja exatamente uma delegação, mas vem.
O senhor acha que conseguiu pacificar PT e PMDB? Nos bastidores, a intriga continua...
TEMER: É verdade. Eu até brinquei: antes era como se fosse uma guerra de balas e hoje é uma guerra de flocos de algodão. Ficou mais suave. A gente ainda tem problemas, precisa ir conversando. Mas o que proponho é que, toda vez que se queira tomar uma posição radical de ambos os lados, precisamos ter calma e dialogar.
O senhor acha que o PT tem dificuldade de administrar a coalizão com o PMDB, de ceder espaços?
TEMER: A presidente Dilma não tem nenhuma dificuldade. Ela tem plena consciência, e já disse isso, que hoje nós não somos simplesmente aliados. Fomos aliados do governo Lula. Somos governo, portanto, partícipes do governo. Como consequência, nós todos queremos que o governo dê certo. Todos do PMDB querem ser tratados como governo.
Mas os petistas ainda resistem em dividir o espaço?
TEMER: Sim, porque a disputa por espaço é natural. Só precisamos, como governo, saber administrá-la e compor o governo de acordo com as forças que o compõem. Simplesmente isso. É uma equação muito fácil.
A imagem que passa é que o único que disputa espaço é o PMDB.
TEMER: Algumas pessoas começaram a dizer que o PMDB é fisiológico e isso pegou. Por mais que se diga o contrário, fica que o PMDB é o ávido por cargos. E o que o PMDB faz é apenas disputar um espaço que ele acha que lhe é devido pela campanha que fez, pelo apoio que dá no Congresso. Ainda mais agora que somos governo, o que o PMDB postula é espaço. E os outros partidos? Postulam espaço, tal como o PMDB.
Essa pecha está virando para o PT?
TEMER: Acho que está saindo do PMDB. Para onde vai, não sei.
Esse é um comportamento padrão, então?
TEMER: Em qualquer governo. Se eu for recordar quando o governo era outro, a questão era a mesma. Todos agem assim.
O PMDB hoje está satisfeito com o tamanho que tem no primeiro escalão?
TEMER: Numericamente, o PMDB manteve o mesmo número de ministérios. O PMDB perdeu um pouco de densidade política na atribuição dos ministérios. O número é o mesmo.
O PMDB tem quadros técnicos para atender à exigência da presidente?
TEMER: Pode procurar quadros técnicos para isso, sem a menor dúvida. O exemplo clássico é do ministro Lobão. Quando ele foi para o Ministério de Minas e Energia, diziam que ia ser um desastre. Fez uma gestão extraordinária, tanto que foi chamado de volta.
Como tem sido a participação da presidente nas discussões políticas? Ela mais ouve do que fala?
TEMER: Ela ouve e dá a palavra final.
Ela está tomando gosto pelo debate político?
TEMER: Acho que ela tem jeito. Ela é técnica, mas sabe, tanto quanto todos nós, que para exercer essa função de presidente tem que ter um ângulo de atuação política. Ela age com muita adequação.
O senhor está se acostumando com a rotina de vice?
TEMER: Estou sentindo falta da agitação da Câmara.
Quando o senhor vai se mudar para o Jaburu?
TEMER: Estão mudando uns canos lá. Acho que daqui a um mês, um mês e meio.
Sua esposa pretende ter alguma participação na área social?
TEMER: Ela já teve tanto visibilidade na posse...
O senhor se incomodou?
TEMER: Não. Minimamente. Eu disse a ela que é assim mesmo. Ela não está acostumada. Nós sempre tivemos uma vida muito discreta em oito anos de casamento. E pretendemos manter uma vida discreta.
Em menos de 30 dias, o Copom elevou os juros, o governo é pressionado por um mínimo maior, terá que fazer corte rigoroso no Orçamento e ainda tem polêmicas como a compra dos novos caças. Como está a administração desses pepinos que vieram do governo Lula?
TEMER: O governo está administrando. O salário mínimo, o presidente Lula reformulou até onde foi possível. Quando ele mandou o salário mínimo de R$540, era o possível. Há naturais pleitos, mas o governo será muito rigoroso, vai dar o que for compatível com as finanças públicas. Não há outra tese.
FONTE: O GLOBO
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