sexta-feira, 25 de março de 2011

Um governo para chamar de seu:: Eliane Cantanhêde

O voto brasileiro no Conselho de Direitos Humanos da ONU, a favor de um relator especial para apurar abusos no Irã, é o passo mais concreto na guinada da política externa. É assim que, suavemente, como ninguém esperava, Dilma vai se distanciando de Lula e firmando uma marca para seu próprio governo.

O que é ótimo.

Dilma já havia sinalizado o que queria quando considerou "bárbara" a pena de apedrejamento da iraniana Sakineh e, na entrevista ao "The New York Times", disse que não podia nem seria condescendente com coisas assim.

Apesar de o voto romper com um histórico de dez anos de votos favoráveis ao Irã, a presidente e o chanceler Antonio Patriota não tiveram dificuldade -e, aliás, nem perderam muito tempo- para fechar a posição brasileira no conselho. Foi algo simples, natural, sem necessidade de grandes debates e sem contestação interna.

Em entrevista à Folha, no início do mês, o chefe de Imprensa e principal conselheiro do presidente Mahmoud Ahmadinejad, Ali Akbar Javanfekr, disse que Dilma estava mal informada sobre o Irã, que há "2.500 Sakinehs nas prisões brasileiras" e que tinha "esperança" de que o Brasil não aprovasse o relator especial do conselho.

Também à Folha, na edição de ontem, véspera da votação, o ex-chanceler Celso Amorim declarou que "provavelmente" não votaria a favor de um relator especial para o Irã. Mas, ao ler a reportagem, já se previa, ou até sabia, que "provavelmente" Patriota e Dilma garantiriam um dos 22 votos a favor.

As relações do Irã de Ahmadinejad com o Brasil, portanto, não são mais as mesmas. Aliás, nem o próprio governo brasileiro.

Mas... a foto de "O Globo", de um PM parrudo jogando spray de pimenta numa menininha negra e desabrigada, comprova: o país Brasil ainda tem muito a mudar.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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