segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Comissão de Ética escondeu decisão de investigar Palocci

Comissão omitiu investigação sobre Palocci

Contrariando tradição do grupo que apura desvio ético de ministros, abertura de apuração não foi divulgada à imprensa

"Expressão é liberdade fundamental, não uma obrigação", alegou o presidente em exercício à época, Roberto Caldas

Márcio Falcão e Andreza Matais

BRASÍLIA - A Comissão de Ética Pública da Presidência da República escondeu decisão de abrir investigação contra o ex-ministro Antonio Palocci. Dois procedimentos foram instaurados na véspera da queda do petista, em junho, e propositadamente não houve qualquer divulgação à imprensa, o que contrariou tradição do colegiado e decisão da maioria. É o que revelam duas atas da comissão nos dias 6 de junho e 1° de julho.

Palocci chefiou a Casa Civil e era o ministro mais influente do governo. Deixou o cargo após a Folha revelar que seu patrimônio aumentou 20 vezes em quatro anos e sua empresa de consultoria faturou R$ 20 milhões no ano eleitoral de 2010, fatos que não conseguiu justificar publicamente.

O presidente em exercício do colegiado à época, Roberto Caldas, foi quem decidiu que não comunicaria à imprensa a respeito da abertura do procedimento preliminar contra Palocci.

Cobrado em reunião seguinte sobre por que não comunicou o fato aos jornalistas, apesar de, numa votação informal, a maioria dos conselheiros ter se posicionado a favor da divulgação, Caldas alegou que considerava "ilícito fazê-lo" porque na sua avaliação as investigações têm caráter "reservado".

Na reunião, em 1° de julho, ele reconheceu ser "uma tradição" da comissão divulgar a instauração dos casos envolvendo ministros, mas justificou sua decisão alegando que "a expressão é uma liberdade fundamental, não uma obrigação". Em pelo menos cinco casos anteriores, desde o governo Lula, a comissão divulgou previamente a abertura ou não de investigação de denúncias contra ministros.

Caldas disse ainda aos colegas da comissão, conforme as atas da reunião, que, se algum outro conselheiro quisesse falar sobre o caso aos jornalistas, que o fizesse -o que não ocorreu. Até hoje a comissão não informou oficialmente que o ex-ministro é investigado. Os processos têm como base a suspeita de que os donos do imóvel alugado por Palocci em São Paulo teriam participado de operações financeiras na condição de laranjas e com base na entrevista que o então ministro deu à TV Globo para falar sobre seu crescimento patrimonial.

A ex-ministra Erenice Guerra, acusada de envolvimento em esquema de lobby na Casa Civil no governo Lula, foi punida na comissão com censura ética seis meses após sua demissão.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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