Nos discursos, tucano falou bem de privatizações e não poupou críticas às gestões de Lula e Dilma
Elder Ogliari
PORTO ALEGRE - O senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi recebido em clima de campanha política e fez discurso de candidato à Presidência da República em encontro com tucanos e lideranças do PP, PPS e DEM nesta sexta-feira, 11, em Porto Alegre. Além da palestra em almoço no Clube do Comércio, a agenda na capital gaúcha incluiu visitas a três empresas de comunicação e uma caminhada entre as barracas da Feira do Livro, no centro da cidade, durante a qual simpatizantes gritavam "Brasil prá (sic) frente, Aécio presidente".
A viagem ao Rio Grande do Sul foi a primeira de uma série que o parlamentar está programando com o objetivo formal de "ouvir e falar" sobre o futuro do País. A próxima está prevista para o Nordeste, em dezembro. Em seu discurso e nas entrevistas que deu, Aécio tratou de pontuar diferenças com o PT criticando as gestões de Luiz Inácio Lula da Silva (2002-2006 e 2007-2010) e de Dilma Rousseff, iniciada este ano, e defendendo ações de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998 e 1999-2002).
"A grande agenda que está em curso no Brasil é aquela proposta pelo PSDB há 20 anos. Ela começa com o Plano Real e a estabilidade econômica, passa pelas privatizações, pelo Proer, pelo início dos programas de transferência de renda e pela Lei de Responsabilidade Fiscal", afirmou. "No governo do PT não houve nenhuma inovação. Eles tiveram a responsabilidade de esquecer o discurso que levou o Lula à primeira vitória e incorporar e manter a política macroeconômica do governo Fernando Henrique Cardoso, com câmbio flutuante, meta de inflação, superávit primário e atenção aos programas sociais", comparou.
Adotando uma postura mais agressiva do que as mais recentes campanhas à Presidência do PSDB, Aécio defendeu a venda de empresas estatais. "Temos que assumir de forma muito clara os benefícios que as privatizações trouxeram ao Brasil", afirmou, sem, no entanto, propor a retomada. "O que foi feito foi importante; o que temos que fazer agora é parcerias com o setor privado para investimentos, como nos aeroportos".
Referindo-se às gestões petistas, Aécio reiterou que elas não aproveitaram o crescimento econômico, a ampla base de apoio e a alta popularidade que tiveram para enfrentar os gargalos e fazer as reformas necessárias ao País. "No primeiro ano do novo governo (de Dilma Rousseff), mais uma vez houve omissão absoluta em relação às grandes questões nacionais", disparou, citando, como problemas que não são enfrentados, a desindustrialização e a concentração da receita tributária na União. "Qual foi a principal iniciativa, qual a questão estruturante que esse governo propôs, até para que nós da oposição pudéssemos participar desse esforço?", questionou. "Nenhuma, absolutamente nada".
Aécio previu ainda que reformas como a política, previdenciária, tributária e do próprio Estado não entrarão em pauta tão cedo porque 2012 é ano de eleições e em 2013 metade do mandato do atual governo já terá passado. "Infelizmente vai ser mais um período perdido", previu.
Na mesma linha das críticas, o senador considerou o projeto do trem-bala de São Paulo para o Rio de Janeiro "uma insensatez" que pretende gastar recursos que resolveriam a falta de metrôs em pelo menos dez capitais brasileiras, todas com perspectiva de atrasos. E também atacou o PT por se dedicar, segunda sua avaliação, apenas à manutenção do poder. "Hoje a prioridade do PT é o projeto de poder, com quaisquer aliados, a qualquer custo, sabe-se lá para que, porque não há nenhuma iniciativa estruturante desse governo".
Aécio afirmou que "é necessário ter coragem para enfrentar a ""armadilha perversa"" que o governo teria criado ao chegar "à mais alta carga tributária do País, juros altos e baixíssimo investimento público" e insistiu na tese de que "o Brasil precisa de um novo salto" e que "o PSDB iniciou a discussão desse novo salto", em uma referência às teses apresentadas em seminário promovido pelo Instituto Teotônio Vilela na segunda-feira, no Rio de Janeiro. O senador defendeu a discussão de ao menos uma delas, do corte dos juros subsidiados do BNDES, como "ideia importante", mas não comentou o corte do número de Ministérios pela metade.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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